Ao contrário de muitos, não me importo que Lula conceda entrevistas. Sua condição de apenado não o impede de atender jornalistas. Desde que cumpridas exigências de segurança, nada a obstar. Não é incomum que bandidos falem para veículos de imprensa. O saudoso Marcelo Resende se notabilizou por gravar com o “Maníaco do Parque” e o “Homem da Motosserra”, homens condenados por homicídios horrendos. Se tipos como esses podem aparecer na televisão, por que não um corrupto?

O ex-presidente falou com a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, e Florestan Fernandes, do El País. Se alguém esperava que ele aparecesse amargurado e prostrado, enganou-se. Combativo, Lula mostrou as características altivas que sempre demonstrou ao longo de sua carreira. Atacou a Justiça (em especial Sérgio Moro e o TRF-4) e os procuradores da Lava Jato, cobrou um posicionamento do STF sobre seu caso e também não poupou o governo Bolsonaro, que classificou como um “bando de loucos”.

Não deixa de ser irônico que o sistema Judicial que Lula acusa de persegui-lo seja aquele mesmo que o permite gravar uma entrevista falando mal do sistema Judicial. Fosse um processo de exceção, como classificam os petistas, isso jamais aconteceria. As eventuais transgressões de instâncias inferiores são corrigidas pelas instâncias superiores.

Na entrevista, Lula mostrou-se ancioso por fazer uma “caravana”. Ele sabe que dificilmente realizará esse sonho. Ainda que sua pena tenha no caso do triplex tenha sido atenuada pelo Superior Tribunal de Justiça, há outros processos que ele enfrentará. Um deles, o do sítio em Atibaia, em breve será julgado pelo TRF-4. Se condenado novamente, permanecerá preso.

Quando Dilma se elegeu, Lula pensava que pairaria como eminência parda da República, estabelecendo um legado duradouro que substituiria o de Getúlio Vargas no imaginário popular. Mas havia uma Lava Jato no caminho. Caiu do centro do poder para o centro do PowerPoint de Deltan Dallagnol. Aquele que pretendia influir nos destinos do país terá de se contentar com o papel que lhe sobrou: o de prisioneiro falante.

Foto: Arquivo/Agência Brasil

 

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