Moisés Machado LEMBRANÇAS
– Sabe, meu jovem, sempre fui um desses pobres diabos dogmáticos que precisam morrer de amor pela simples sadomasoquia da afeição.
– É?
– O que?
– Que você precisa amar.
– Eu?
– Sim. Bem, deixa pra lá. Café?
– Ah, sim. Estou distraído hoje.
– Açúcar?
– Onde?
– No café.
– Ah, sim.
-Deixe-me contar a você uma linda história de amor…
– Sim, conte.
– O que?
– A história de amor.
E com um negror terno no olhar buscava no reflexo daquelas rugas no fundo da xícara alguma resposta para aquele diálogo com o neto.
Mas ele nem ao menos lembrava quem era aquele rapazola educado que lhe servia café.
– Que história ? Que amor ?
E assim, o Alzheimer levou todas as lembranças do grande amor de uma vida e a história de cinquenta anos juntos.