Jair Bolsonaro, com seu estilo militaresco, faz parecer que é durão, mas o fato é que basta uma pressão mínima para que se melindre todo. Isso ficou patente na discussão do relatório da Reforma da Previdência que foi aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Quando as coisas já estavam encaminhadas para a votação, o presidente se sentiu compelido a dar uma resposta a um grupo de representantes de corporações da segurança pública que se manifestaram no Congresso chamando-o de “traidor”. Como não gosta de se indispor com sua base, correu para convencer os parlamentares a alterar o texto do relatório, embutindo benefícios específicos para esses segmentos.

A intervenção atrapalhada de Bolsonaro resultou em incertezas. A votação acabou sendo atrasada, mas felizmente o texto não foi modificado nesse aspecto. Se fosse aberto um precedente para um grupo, certamente os outros também buscariam pressionar, o que resultaria no enfraquecimento do relatório e de seu efeito na economia. Afinal, se policiais serão beneficiados, por que o mesmo não valeria para professores, enfermeiros e outros profissionais?

Alguém poderá argumentar que é um mérito que Bolsonaro se preocupe com sua base. Ocorre, entretanto, que o presidente governa para todos, não apenas para seus apoiadores na eleição. E governar é, na maioria dos casos, contrariar interesses.

Ainda que o governo colha o bônus da aprovação, o fato é que suas intervenções no processo de discussão foram atrapalhadas. A começar pela vez em que o próprio Paulo Guedes desmereceu o conteúdo do relatório após ele ter sido elaborado em sintonia com Rogério Marinho, responsável pela Previdência no governo Bolsonaro. Agora, no episódio envolvendo os policiais e bombeiros, o que vimos foi a desorganização completa do PSL. Composto por vários eleitos que são oriundos das categorias da segurança pública, havia o temor de que a influência desses grupos resultasse em defecções de votos no partido. De modo que foi preciso substituir alguns de seus integrantes na comissão para garantir o resultado. Até mesmo o líder da legenda, Delegado Waldir, acabou sendo retirado da votação. Em seu lugar assumiu Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso. Sem dúvida uma confusão que entra para os anais do parlamento.

O próximo passo da Reforma da Previdência é ainda mais complexo: o plenário da Câmara dos Deputados. Para a aprovação do texto são necessárias duas votações com maioria qualificada. Ainda que haja boa expectativa em relação ao resultado, o fato é que tudo pode acontecer em um ambiente frequentado por 513 legisladores. Mas de uma coisa ninguém tem dúvida: tudo ficará mais bem mais fácil se Bolsonaro e seus colegas no PSL pararem de se melindrar.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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