| Alice Ros |

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), anunciou nesta sexta-feira (05) a abertura de mais 18 unidades básicas de saúde (UBSs) aos finais de semana. A medida busca transferir o atendimento de pacientes com Covid-19 das unidades de pronto atendimento (UPAs) para desafogar o sistema de saúde.

De acordo com a prefeitura, serão disponibilizadas 12 UBSs no sábado e seis no domingo.

“Tem, aqui, um esforço muito grande. A ida a Brasília foi para fundamentalmente conversar com o Ministro da Saúde e falar sobre as unidades básicas. As unidades básicas vão dar mais acolhimento. Isso vai ajudar a desafogar bastante os acúmulos da nossa emergência”, explicou Melo.

Em live de apresentação das medidas de enfrentamento da pandemia, a prefeitura afirmou que 154 leitos de UTI foram abertos em 30 dias, totalizando 959 leitos de UTI adulto.

Dados apresentados pela prefeitura de Porto Alegre sobre a abertura de leitos de UTI nos últimos 30 dias

 

Melo também ressaltou que quase 600 leitos de enfermaria foram abertos para Covid-19. As unidades atendem outras enfermidades e  foram convertidas no mês de fevereiro para atuar no tratamento da doença.

Dados apresentados pela prefeitura de Porto Alegre sobre a abertura de leitos de enfermaria 

 

O prefeito ainda anunciou que o Hospital Vila Nova deverá transferir pacientes de baixa complexidade para outros locais, o que resultará na abertura de 60 novos leitos.

O diretor de Atenção Hospitalar da capital, João Marcelo Lopes Fonseca, atribuiu a explosão de casos de Covid-19 em Porto Alegre à nova cepa do coronavírus, a P.1, inicialmente registrada em Manaus. De acordo com Fonseca, os efeitos das aglomerações de Carnaval ainda não começaram.

“Como quase tudo na Medicina, é multifatorial. A gente tem alguns vetores bastante influentes e alguns menos prováveis. De fato, se aguardava uma elevação de casos depois do período de duas semanas das festas de final de ano. Essa elevação não veio. Eu acredito que a movimentação do Carnaval, ali por meados de fevereiro, recém está começando a mostrar seus efeitos. Mas a gente detectou em vários pilares de monitoramento que Porto Alegre usa, uma positivação rápida de casos em testes PCR, uma elevação de leitos internados, sucedida de internações de pacientes em leitos comuns e de UTI. Isso favorece a hipótese da cepa ser um dos fatores de predomínio até pelo resto do Brasil”, justificou, frisando que a variante “parece ser um fator muito importante do que a gente tem visto hoje”.

Segundo Fonseca, de 30 a 35% dos pacientes que estão internados em UTIs na capital são de outras cidades. A demanda é maior, mas os hospitais não têm condições de receber todas as transferências. Neste ponto, o diretor de Atenção Hospitalar destacou o cancelamento das cirurgias eletivas como alternativa para vagar leitos.

“Entendam que quando se suspendem cirurgias eletivas, a gente está liberando vagas de enfermarias cirúrgicas para esse tipo de atendimento. Isso sempre tendo em vista uma missão que Porto Alegre tem, e a gente segue com essa diretriz, de não só atender os porto-alegrenses por ordem, como também todos os municípios regionais em que a gente é referência”, disse.

O diretor de Atenção Hospitalar também apontou que o mês de março será um período crítico na pandemia. 

“Porto Alegre tem uma das melhores redes hospitalares entre as capitais brasileiras, mas ainda assim vamos ter uma pressão máxima ao longo de todo o mês de março. O nosso plano de contingência está no estágio máximo”.

A vacinação também foi apresentada como uma alternativa da prefeitura no combate ao vírus. Segundo o secretário de Saúde de Porto Alegre, Mauro Sparta, a capital deve fechar a semana com 21 mil vacinados contra a Covid-19.

Em relação à abertura de novos leitos nos hospitais Parque Belém e Álvaro Alvim, anteriormente prometida pela prefeitura, Sparta disse que a medida é inviável por falta de equipamentos. De acordo com o secretário,  todos os equipamentos do Hospital Parque Belém, que já foi referência em Porto Alegre como retaguarda do HPS, foram transferidos para o Conceição. 

“O Hospital Belém não vai ser instigado neste primeiro momento, mas eu acredito que a médio prazo nós vamos trazer novamente equipamentos para os hospitais da rede de saúde de Porto Alegre, seja através da prefeitura, seja através de parceiros. O Hospital Álvaro Álvim está funcionando sem luz, está nu. Não tem nada lá dentro. Não tem cama, não tem maca. Infelizmente, não tem nenhum aparelho lá dentro. Demoraria muito para fazer melhorias. Agora, nós temos pressa de fazer as inserções nos nossos hospitais que estão funcionando e tem possibilidade de manter o atendimento. Essa é a atitude que nós tomamos em relação a isso”, alegou.

Melo também afirmou que está trabalhando para instalar barracas de testagem em pontos estratégicos da capital. A iniciativa terá parceria com o Exército e as universidades. O prefeito também fez um apelo aos estudantes de Medicina do sexto ano, pedindo que atuem como voluntários no combate à pandemia.

Sobre a distribuição de possíveis medicamentos de prevenção pela prefeitura, Melo garantiu que nunca defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19.

“Vocês nunca ouviram do prefeito ou do secretário [da Saúde] recomendação de tratamento precoce. Setenta por cento da nossa população de Porto Alegre é atendida pelo SUS. O restante é particular ou tem convênio. E nós tomamos uma decisão de colocar na redes esse tratamento. Nós não recomendamos. Tava nas redes os remédios para o tratamento. Houve uma ação na Justiça e decidimos buscar. Teve uma decisão judicial, e decisão judicial a gente cumpre”, assegurou.

O chamado tratamento precoce não tem eficácia comprovada pela comunidade científica. 

Foto: Giulian Serafim / PMPA

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