Foto: Fernanda Frazão/Agência Brasil

*Por Felipe Padilha

Um crescente número de ataques violentos em escolas está sendo noticiado no Brasil. O fenômeno, que é mais frequente em outras regiões do mundo, bate às portas da educação brasileira e se aproxima da população fazendo emergir medo, pânico e muitas perguntas: o que há por trás das ameaças às escolas? Quais fatores estão influenciando o aumento donúmero de casos? O que fazer para proteger nossa comunidade do terror?

Qualquer análise unilateral é injusta e insuficiente para compreender este fenômeno. Há várias camadas sociais envolvidas nesta crescente onda de ataques, já que são muito mais que acontecimentos isolados e aleatórios. Segundo dados do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, mais da metade dos ataques registrados em escolas desde 2002 aconteceram nos últimos 15 meses. Para Telma Vinha (Unicamp), uma das responsáveis pela averiguação destes dados, o aumento se relaciona profundamente com atos agressivos e com a radicalização de jovens em plataformas digitais.

Esse aumento de casos violentos também resulta da impunidade dos irresponsáveis atos de saudação a figuras ditatoriais e de torturadores, por personalidades políticas em âmbito nacional. O eco dessas atitudes impacta na “autorização simbólica” do culto à violência e à agressividade, o que faz com que, cada vez mais, a violência seja banalizada e cultuada nos mais diversos espaços públicos. É muito simbólico que violências cada vez mais extremas estejam chegando nas instituições relacionadas à educação, ao conhecimento e à transformação da sociedade.

Pesquisas recentes também apontam que pessoas que promovem ataques como os noticiados, buscam visibilidade e incentivo de outras pessoas, também atreladas aos mesmos grupos presentes nas plataformas digitais. Comentários isolados também vinculam, de forma precipitada, os ataques a transtornos psiquiátricos como a exemplo da psicose. Contudo, a repetição, o perfil semelhante de homens vinculados a grupos extremistas e o planejamento em conjunto a grupos digitais não são frutos do acaso, muito menos resultados da desorganização mental dos sujeitos.

Não é resolutivo vincular a perversidade apenas à condição mental dessas pessoas. A maldade não é um traço de personalidade, mas um fato que resulta de fatores sociais, comportamentais, econômicos e relacionais.

Em relação à busca por estratégias, não basta apenas promover o policiamento e aumentar a vigilância em espaços escolares de forma isolada. É também necessário um conjunto de práticas de prevenção e de combate à violência em todos os âmbitos da sociedade, desde práticas educativas das mais simples, até a punição justa de pessoas que
mascaram a perversidade relativizando o armamento, a violência, a discriminação e o desrespeito.

Que esses episódios ao menos nos lembrem que a indiferença, a impunidade, a cultura do armamento e da violência têm um preço muito alto. Aqueles que pagam esse preço, muitas vezes com a vida, podem ser os mais inocentes e mais próximos de cada um de nós.

*Psicólogo e professor do curso de psicologia da Universidade do Vale do Itajaí (Campus Balneário Camboriú).

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