Esta semana o mundo assistiu horrorizado o avanço dos revolucionários do Talibã sobre a capital do Afeganistão, Kabul.

Há uns três anos assisti em Porto Alegre a palestra do filósofo inglês, Sir Roger Scruton, autor de uma série de livros sobre o conservadorismo. Em um deles “Como ser um conservador” editora Record, Scruton define algo que muitas vezes assistimos nesses processos revolucionários: “as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”.

As cenas de terror vistas mundialmente, de pessoas agarradas a uma maravilha da modernidade, o avião, para fugirem de um retrocesso ao período medieval, é a transformação dessa literatura de Scruton – ou da ficção de alguns filmes (Guerra Mundial Z) – em uma realidade em que o horror real supera a imaginação.
Constituição, democracia, liberdade de expressão, devido processo legal, direitos individuais são conquistas civilizacionais que levaram centenas de anos para acontecerem e como vimos, alguns meses, dias ou segundos para se desfazerem no ar.

Os processos revolucionários acontecem de duas formas: A) através de uma luta armada; B) ou como se descobriu recentemente, através da luta cultural. Todavia, em um determinado momento a “virada” é muito rápida. É como se um determinado ambiente fosse se enchendo de combustível, até que uma fagulha provoca a explosão. A história ensina também, que revoluções podem ser no princípio não muito violentas avançando para um processo de gradativo aumento de violência, ou, também ao contrário, no início muito violentas, avançando para a diminuição desta.

Não sabemos o que vai acontecer no Afeganistão. O que sabemos, entretanto é que incrivelmente essa milicia resistiu às duas maiores potencias militares no Século XX e XXI, da mesma forma que resiste à modernidade. A exemplo do que aconteceu na Síria, o mundo teme a implantação de um regime bárbaro. O fato é que, respeitado o princípio da auto determinação dos povos, a realidade do Afeganistão hoje, por mais triste que possa parecer, é uma escolha do seu próprio povo.

Por aqui, aparentemente tão distante daquilo tudo, quando me coloco contra narrativas ou processos revolucionários é sempre com a noção histórica que essas coisas acontecem, e com a cabeça nas palavras de Scruton: todas as conquistas admiráveis podem ser facilmente perdidas.

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