| Alice Ros |
A espera pela vacina de Covid-19 já acabou para os britânicos. A primeira fase de imunização, iniciada em 08 de dezembro, é direcionada a idosos com mais de 80 anos e profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia, residentes na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
A vacina escolhida é desenvolvida pela Pfizer/ BioNTech. Com a medida, o Reino Unido se tornou a primeira nação ocidental a iniciar a vacinação contra o vírus.
Segundo o cardiologista gaúcho Ricardo Petraco, que trabalha no St. Mary’s Hospital, em Londres, as primeiras doses do imunizante chegaram à instituição na semana passada. A vacinação, no entanto, começou nessa terça-feira (22).
Além de trabalhar como professor da Imperial College, Petraco está à frente da imunização em massa, aplicando a vacina em profissionais da saúde.
“Está indo tudo como planejado. Fora alguns pequenos problemas de logística, a notícia é positiva. Uma grande massa já foi vacinada. Claro que é uma proporção pequena da população, ainda, mas do ponto de vista profissional, é muito bom que a gente consiga vacinar um número razoável de indivíduos em um curto período de tempo”, disse o cardiologista em entrevista ao Portal RDC (23).
“Eu, por exemplo, passei, ontem, das 14h às 18h vacinando e vacinei em torno de 30 a 40 colegas. Na próxima semana, esse número vai aumentar bastante”, explicou Petraco.
O cardiologista garantiu que a vacina é “extremamente segura” e que possui baixo índice de efeitos colaterais. Na terça, Petraco esteve entre um dos profissionais que já foram imunizados contra o vírus. Ele afirma que não sentiu efeitos colaterais graves, apenas sensação de dor na região vacinada.
“Grupos antivacina sempre existiram na história da medicina. Se o problema é ignorância, por motivos de não saber, a gente pode resolver isso com educação. Agora, se o problema é outro, por motivos religiosos e políticos, a gente não tem como resolver. A vacina é extremamente segura” disse. “Existe um componente grande de ansiedade que precisa ser resolvido. É a única forma de erradicar essa pandemia no ano que vem”, reforçou o cardiologista.
Questionado sobre o clima de desconfiança em relação à aquisição e distribuição de vacinas no Brasil, Petraco ressaltou que é preciso cautela e embasamento científico para aprovar qualquer imunizante. “É importante ter bastante cautela e esperar os dados serem publicados em instituições independentes”, afirmou.
Após a primeira fase, o Reino Unido pretende imunizar pessoas na faixa de 50 a 70 anos e com comorbidades. No primeiro semestre do ano que vem, a vacinação deve ser estendida para a população mais jovem.
Natural de Porto Alegre, Petraco é formado em Medicina pela antiga Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, hoje Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Para o cardiologista, fazer parte de um momento tão marcante para a história da humanidade representa um marco.
“Estou bastante feliz de fazer parte desse momento de vacinação dos colegas. Fazer parte dessa vacinação em massa tem um componente emotivo”, alegou.
O cardiologista também disse que, caso a vacinação continue no mesmo ritmo, toda a população do Reino Unido estará imunizada até o final de 2021.
Com a nova mutação da Covid-19, Londres entrou em uma nova fase de confinamento nesta semana. Desde o dia 20 de dezembro, os moradores de Londres e do sudeste da Inglaterra enfrentam o “nível 4” de alerta, mais alto imposto desde o início da pandemia. A medida, anunciada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, determina que todos os comércios considerados não essenciais não funcionem até 30 de dezembro.
“O motivo é exatamente esse: parar com o componente de transmissão. É uma mistura de tristeza com saber que estamos fazendo a coisa certa”, justifica Petraco. Segundo o especialista, caso o protocolo não fosse adotado, fatores como as festividades de final de ano e o frio poderiam impulsionar o número de casos da doença.