A instalação da Frente Parlamentar de Estímulo a Doação de Órgãos reuniu hoje (13), no Salão Júlio de Castilhos, os deputados que conduzirão o trabalho – Fábio Branco (MDB) e Franciane Bayer (PSB) – e autoridades como a secretária da Saúde, Arita Bergmann, o Ministério da Saúde, o pneumologista e diretor do Hospital de Transplantes Dom Vicente Scherer, José Camargo, transplantados e pessoas que aguardam doação, além de voluntárias, como o grupo ViaVida. O desafio é vencer a negativa de 43% das famílias gaúchas em doar os órgãos, embora o Rio Grande do Sul, com 35% das doações, supere a média nacional, que é de 32%.
A deputada Zilá Breitenbach (PSDB), no exercício da Presidência da Assembleia, destacou a continuidade desse trabalho, iniciado na legislatura passada pelo deputado Adilson Troca (PSDB). O deputado Fábio Branco (MDB) antecipou que dividirá com Franciane Bayer (PSB) a Frente Parlamentar, que terá como prioridade conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos, recolocando o Rio Grande do Sul como referência na doação de órgãos. A deputada socialista referiu sua experiência com doação e transplante e insistiu na necessidade de conscientização do núcleo familiar, no momento da perda, para autorizar a doação dos órgãos. Franciane mostrou que o crescimento da taxa de doações, de 2018 em relação a 2017, foi de apenas 2,4%.
Recusas familiares
O diretor do Departamento Especializado em Temática da Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Marcelo Campos Silveira, destacou o histórico de aprovação, em 1997, da lei sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, e a estrutura logística dos estados para atender essa demanda. Apesar disso, as doações entre 2010 e 2018 registraram pequeno avanço, de 27,6% para 32,7%. A região Sul do país lidera as doações, 43%, e o Rio Grande do Sul, com 35%, supera a média nacional, de 32%. O trabalho de impacto deve ser direcionado às famílias, recomendou o técnico do Ministério da Saúde, uma vez que a negativa das famílias gaúchas para doação é de 43%, “trata-se de uma questão cultural”, disse Marcelo Silveira. No país, recusam a doação 42% das famílias. O fôlego nos números vem dos pulmões, uma vez que a Região Sul responde por 52% dos transplantes desse órgão, 100% deles realizados no Rio Grande do Sul.
A secretária da Saúde, Arita Bergmann, elogiou a iniciativa parlamentar e colocou a estrutura do órgão governamental à disposição para reverter essa dificuldade.
Pulmões pioneiros
Comemorando três décadas do primeiro transplante de pulmão da América Latina, José Camargo, diretor do Hospital de Transplantes Dom Vicente Scherer e diretor de Cirurgia Toráxica do Hospital Pereira Filho, fez detalhada exposição da excelência conquistada nessa área em 640 transplantes de pulmão, 52% da experiência do país. Ele apontou dificuldades, preconceitos, burocracias e distorções financeiras, sugerindo o contrabalanço com a solidariedade de todos “antes que a desgraça lhes bata à porta”.
O ex-deputado Beto Albuquerque, fundador do Instituto Pietro, contou a luta travada pela sobrevivência do filho, que necessitou transplante de medula e não encontrou doador. Como parlamentar, aprovou a lei que estimula a doação de medula óssea e os 45 mil doadores cadastrados no Estado há dez anos hoje saltaram para cinco milhões. No país, 32 milhões estão cadastrados como doadores de medula óssea, anunciou. Albuquerque pediu autonomia orçamentária ao Sistema Nacional de Transplantes.
Urgências da espera
Em seguida, diversos depoimentos evidenciaram a ansiedade dos pacientes que aguardam órgãos, assim como a mensagem de esperança daqueles que vivem transplantados, como Liége Gautério, educadora física que retomou vida normal após o recebimento do pulmão, ou Luciana Feijó, que relatou a perda de sobrinho e a posterior adesão da família a movimento de doação de órgãos. Antônio Roberto Menegheti vive em Santo Ângelo e relatou a retomada da rotina após o transplante de pulmão, cirurgia que é aguardada com ansiedade e medo por Rochele Benitez, que fez um apelo aos deputados e à Defensoria Pública para que prestem atenção aos problemas dos pacientes durante essa espera, “quanto vale nossas vidas”, questionou ela, pedindo urgência na conscientização da sociedade para a doação de órgãos.
Também os deputados Carlos Búrigo (MDB) e Gabriel Souza (MDB) acompanharam a solenidade, assim como a defensoa Regina Rizón Borges de Medeiros, pela Defensoria Pública; Ricardo Klein Ruhling, pela Central de Transplantes de Porto Alegre; Marcos Rovinski, do Simers.
Reportagem: Francis Maia/ Agência ALRS
Foto: Celso Bender
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