| Eduardo Ponticelli |

Jack Ma entendeu…

Sem aparecer em público desde outubro, o bilionário chinês Jack Ma — fundador do Alibaba Group – intriga e desperta interesse da mídia internacional.  Fato semelhante aconteceu com o ditador Kim Jong-un, ano passado, quando ficou sem aparecer em público  por meses.

Diversas teses foram levantadas: assassinato, doença, traição, etc – a maioria das notícias vinda de fontes sem credibilidade e dignas de filmes de aventura e ficção. Posteriormente, o ditador da Coreia do Norte reapareceu e o assunto foi encerrado. Já com Jack Ma a história é um pouco diferente. Ele é líder no setor de e-commerce na China e tem uma fatia substancial de negócios em outras plataformas pelo mundo.

O desejo incontrolável do empreendedor chinês é de dar inveja. Ma investe forte no Ant Group, uma espécie de FINTEC, braço financeiro do  Alibaba Group. Explorar as fragilidades do setor financeiro chinês e ganhar o espaço dos bancos estatais era claro em seu plano de negócios.

O excesso de confiança e o egocentrismo do empresario chinês o levaram a pensar que poderia enfrentar o poderoso Partido Comunista da China (e toda sua estrutura) que em harmonia sólida conduz a China para ser a primeira economia do mundo.

O erro fatal aconteceu no fim de outubro, depois que Ma criticou os reguladores da China em uma conferência em Xangai. O Ant Group, se preparava para a maior oferta pública inicial do mundo, o bilionário acusou as autoridades de sufocar a inovação e criticou os bancos do país de terem uma mentalidade de “loja de penhores”.

Em poucos dias, os reguladores cancelaram a IPO, um claro recado a Ma de que o comando político do país está  atento e pode agir conforme o seu interesse. O presidente  Xi Jinping chegou a dizer que Jack Ma não passa de uma nuvem. Ao contrário de teorias mirabolantes e de ficção, o mais provável desfecho deste embate é que Jack Ma, após receber o recado do partido, desistiu da tentativa de conflito com um opositor infinitamente superior e poderoso.

Ma provavelmente está em retiro de silêncio e negociando o seu futuro e de seu grupo. A China entende o valor de empreendedores com Jack Ma e eliminar mentes brilhantes não está na agenda do atual contexto político do pais, mas sim regular e colocar o vagão nos trilhos, o que parece ser a alternativa mais viável, de acordo com a mentalidade dos líderes da nação.

Boatos de estatização não parecem ter fundamento, bastando lembrar que Ma também faz parte do partido e a maioria dos seus executivos também faz parte do alto escalão do partido. Estatizar o Alibaba Group seria a mesma coisa que um jovem morar sozinho e fugir de casa.

No contexto atual chinês -embora possível- não parece uma estratégia realista, especialmente se considerar a sinalização que será lançada para o mercado.

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