O mais e maior que funciona
Chegamos no quarto filme da franquia mais porradeira do cinema. Geralmente vemos a necessidade dos estúdios de seguir fazendo sequências que precisam a todo o custo serem maiores que seus antecessores, em todos os sentidos. Isso na maioria das vezes não dá certo, criando filmes que não têm nada para oferecer além do apego ao material original, replicando de forma pouco inventiva e vazia. Por incrível que pareça, John Wick 4: Baba Yaga, o quarto filme da franquia, subverte essa lógica, superando os seus antecessores principalmente naquilo que é sua principal virtude: a ação.
A fórmula aqui segue a mesma, coreografias inventivas, com planos sequências mirabolantes, embaladas por uma trilha sonora enervante, uma cinematografia lindíssima e uma paleta de cores que cria uma estética elegante. Essa elegância combina com o próprio John Wick (Keanu Reeves), que com seu terno à prova de balas, segue sua jornada em busca da tão sonhada liberdade.
A premissa de “Baba Yaga” é a mesma dos outros filmes, não espere nada de diferente da narrativa, inclusive a mesma sinopse do filme anterior, vale para esse. Convenhamos que embora a mitologia referente ao continental e os mistérios da alta cúpula sejam um fator muito próprio da franquia, ela nunca se notabilizou por ter uma história tão inventiva, o que ocorre é os “respiros” entre uma cena de ação e outra.
John Wick 4 se destaca, é claro, pelas cenas de ação, com sequências ainda mais longas e com direito a um plano sequência de tirar o fôlego, filmado de cima (bem similar a um video-game) que mostra que o diretor Chad Stahelski ainda consegue inovar, mesmo depois de três filmes.
Além da ação, outro ponto em destaque aqui são os novos personagens, que preenchem bem às quase três horas de duração e aumentam ainda mais o repertório de lutas. Donnie Yen, mestres em artes marciais, é a grande surpresa; seu arco é bem desenvolvido, usando da cegueira do seu personagem como um dos seus principais traços de sua excentricidade, que ajuda a construir um antagonista a altura de Wick. Além dele, temos também Shamier Anderson, que dá vida a um personagem misterioso que se torna uma espécie de “aprendiz” e “espelho” do protagonista, criando uma dúvida no telespectador de quais são suas reais intenções.
Por fim, Bill Skarsgård faz o grande vilão do filme, que acaba sendo subaproveitado, queria ver mais dele e de seu destempero, apesar do seu tempo em cena ser o suficiente para transmitir a imponência necessária, através das suas falas e trejeitos. Já os personagens antigos, tem o tempo de tela ideal, já que seus desenvolvimentos já foram estabelecidos nos filmes anteriores.
A longa duração é justificada pelas intensas (e longas) sequências de ação. Fora isso, o tempo é preenchido com diálogos que embora sejam bregas em alguns momentos (cheio de frases de efeito), são compreensíveis pela proposta do filme.
Keanu Reeves apesar de estar mais uma vez magnífico nas cenas de ação, fica devendo quando o assunto é interpretação, (o que sinceramente nunca foi o foco da franquia) mas aqui, as falas são ainda menores e sua atuação ainda menos inspirada. O roteiro é eficaz em dar um intervalo necessário entre cada cena de ação, dando espaço para os personagens secundários e fechando o arco de John Wick de maneira satisfatória. As longas cenas de ação podem até incomodar aqueles que não estão tão acostumados, mas pra mim foi um prato cheio.
John Wick 4: Baba Yaga é talvez o maior filme de ação que já vi e o melhor filme da franquia. As sequências ainda maiores fazem dele hipnotizante, empolgante e impressionante, mesmo depois de tantas continuações. Aqui a lógica do “mais e maior” funciona muito bem, mostrando que manter uma coerência, ter atenção aos detalhes e dedicação com uma obra, podem fazer dela única. John Wick 4 não é só um filme excelente, mas sim a consolidação de uma franquia que já deu certo e uma referência no gênero ação.