| Alice Ros |

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MBD), esteve em Brasília nesta semana para discutir ações de enfrentamento da pandemia de Covid-19 com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. 

Ao longo de dois dias, Melo compareceu à cerimônia de posse de Onyx Lorenzoni ao cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, no Palácio do Planalto, e participou de uma reunião com a secretária extraordinária de Relações Federativas e Internacionais, Ana Amélia Lemos, para ampliar a participação da prefeitura nas decisões tomadas em Brasília.

“Minha agenda principal foi com o ministro Pazuello. Ficamos mais de duas horas discutindo como financiar a ampliação de leitos e possíveis hospitais serem reabertos. Veio bastante dinheiro ano passado, mas este ano, em dinheiro extra, ainda não chegou. A reunião foi bastante proveitosa. O ministro tem a compreensão da situação que estamos vivendo em Porto Alegre”, explicou o prefeito, em entrevista ao Portal RDC (24).

Melo disse que uma das decisões tomadas para conter a pandemia é ampliar o número de leitos disponíveis na cidade. O prefeito reconheceu que a situação de Porto Alegre é grave e justificou que a prefeitura está buscando recursos para aumentar a estrutura hospitalar. Na manhã desta quinta-feira (25), o painel de monitoramento das UTIs de Porto Alegre registrou 404 pessoas internadas com Covid-19 em Unidades de Tratamento intensivo, 18 pacientes a mais do que o teto considerado pela prefeitura.

“Ontem (23) mesmo, eu requisitei, através de decreto municipal, a abertura do Hospital Beneficência Portuguesa. Estive, também, no Hospital Parque Belém. Quero ver se é possível abrir aquele hospital. E estamos trabalhando com o Vila Nova, esse sim vai ampliar leitos. Pedi ao ministro para que ele pudesse interferir em dois hospitais federais do Rio Grande do Sul para ampliar leitos, que é o Conceição, administrado pelo Ministério da Saúde, e o Hospital de Clínicas, que não é da gestão do ministro, mas que o governo é o mesmo. O sexto andar do Clínicas pode abrir mais leitos”, afirmou.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) cadastrou hoje 32 leitos de enfermaria e 15 de UTI – Covid-19 do Hospital Beneficência Portuguesa no Sistema de Gerenciamento de Internações (Gerint). Os leitos serão utilizados gradativamente, de acordo com a capacidade operacional do hospital. Melo também sinalizou que pretende visitar e avaliar a estrutura do Hospital Álvaro Alvim.

Mais uma vez, o prefeito negou que Porto Alegre adote medidas mais restritivas para conter o avanço do vírus, como o fechamento do comércio. A capital está classificada em bandeira preta (risco de contágio altíssimo), mas segue medidas de contenção da bandeira vermelha (risco alto). 

“Estamos fazendo todos os esforços para não fechar a economia, porque nós já temos muitos problemas sociais. Fechar a cidade, sinceramente, é um baque muito grande. Todos os esforços foram feitos e não mediremos esforços para isso até que a economia possa girar”, garantiu.

O prefeito convocou todos os representantes de hospitais da capital para uma reunião nesta manhã. O encontro, segundo Melo, deve nortear as próximas ações do município. 

“Eu convoquei, às 09h, uma reunião com todos os hospitais de Porto Alegre, toda a equipe de saúde, secretários do governo, convidei o Exército – eles mandaram um representante – e nós juntos vamos tomar decisões. Não dá para brincar com isso, é muito sério. Vamos tomar todas as providências para salvar vidas. É o que estamos fazendo”, disse.

Melo ainda ressaltou o pedido que fez ao Ministério da Saúde, para que a pasta envie 50 mil testes Covid-19 para Porto Alegre. De acordo com o prefeito, Pazuello também apresentou um cronograma anual de envio de novas doses da vacina contra Covid-19. O documento prevê a aquisição de 454 milhões de doses.

“Na conversa com o ministro, ele me apresentou uma planilha – e eu estou levando ela e posso apresentar para vocês – e diz ali, digamos que até o final deste ano, que ele vai comprar 454 milhões de vacinas. Nessa semana ainda, até o dia 27, chegaria em Porto Alegre em torno de 40 mil vacinas novas. Diz que março tem uma boa perspectiva de entregar uma capacidade boa de vacinas para o Brasil, do plano nacional. Eu pedi para ele, e reforcei ontem, 50 mil testes para aplicar em Porto Alegre, que é importante também”, explicou Melo.

Ao negar pedidos de fechamento dos serviços não essenciais, Melo argumentou que parte da aceleração do contágio é responsabilidade da população.

“As pessoas já estão contaminadas. Aí eu vou resolver isso decretando o fechamento da cidade? Aí eu fecho tudo. Fecho parques, fecho Orla e as pessoas não obedecem. O que eu vou fazer? Vou prender as pessoas? Vou multar as pessoas? Eu prefiro continuar em um diálogo. As pessoas pensam que não vai chegar nelas, e pode chegar em suas famílias, Pode chegar no seu vizinho, pode chegar no teu amigão, na tua amigona. Não tem leitos para todo mundo, nem na Itália, nem nos Estados Unidos, nem na Alemanha, nem em Porto Alegre”, insistiu.

“Nós estamos fazendo tudo, mas se não tiver a consciência da população, este jogo está perdido. Até três dias atrás, qual era a regra da praia? Bares abertos até o final da noite, boates abertas, gente circulando de montão, torcidas de futebol se aglutinando na saída do aeroporto e assim vai indo”.

O prefeito também defendeu que o comércio deve continuar de pé. Como aposta para combater o vírus, Melo citou a ampliação das fiscalizações.

“Tenho sido muito rigoroso aqui com a Guarda Municipal. Temos fechado muitas festas clandestinas, locais de bares que ficam aglutinando. E vamos apertar o cerco muito mais do que isso. Agora, eu só acho que quem trabalha, quem produz, quem está dando emprego, quem está girando a economia da cidade vai ser castigado. Será que é realmente esse público que contamina a cidade ou será que é o outro público? O debate está muito raso. Parece que o caminho é fechar tudo. Então eu vou dizer que temos que fechar rádios, jornais, TVs, tem que fechar tudo. Se é para fechar a cidade, tem que fechar tudo”.

Hoje à tarde, Melo também participa de reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).  “Eu continuo defendendo a cogestão, acho que ela é importante. Dividir decisões com os prefeitos é muito importante”, ressaltou.

Foto: Cesar Lopes / PMPA

Compartilhe essa notícia: