A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) tem emitido notas e comunicados informativos e didáticos desde o início dos casos do novo Coronavírus, diagnosticados na China, até a atual condição de pandemia. Em um documento publicado hoje, esclarece que, até o presente momento, não há medicamento comprovadamente seguro e eficaz para ser usado contra a infecção pelo novo coronavírus. O estudo francês intitulado “Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial” foi aceito para publicação no periódico International Journal of Antimicrobial Agents e traz alguns pontos novos para o debate.

Os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina são utilizados respectivamente para o tratamento de malária e artrite reumatóide e lúpus eritematoso. Por isso, é apenas para estes casos em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indica esses compostos. A cidade de Lagos, maior metrópole da Nigéria, registrou dois casos de intoxicação por cloroquina. Na contramão destes boletins médicos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nos últimos dias que os laboratórios do Exército ampliariam a produção do remédio. Donald Trump, presidente dos EUA, também já havia citado o medicamento como possível solução para a pandemia de Covid-19. A Anvisa precisou enquadrar a cloroquina como “medicamento de controle especial”, já que pessoas que precisam de fato do medicamento, estavam com dificuldade para realizar a compra. A esperança de que esta substância poderia curar o Covid-19 fez com que o remédio ficasse esgotado em diversas farmácias.

“Vários antimicrobianos, incluindo antivirais, mostraram atividade experimental in vitro, mas falharam ao serem avaliados em pesquisas clínicas em humanos”, aponta a SBI. Por isso, o uso da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19 é entendido pelos especialistas hoje como uma “terapia de salvamento experimental”. Seu uso deve ser individualizado e avaliado sempre por um médico capacitado, preferencialmente com a participação de um infectologista. A automedicação pode levar a diversos efeitos colaterais, entre os principais, destacam-se: distúrbios do sangue e sistema linfático, náuseas, vômitos e diarreia.

“A SBI acha compreensível seu uso no paciente crítico, já que não há tratamento aprovado para COVID-19, mas manifesta sua preocupação que um tratamento experimental possa trazer mais danos do que benefícios para o paciente”, finaliza a instituição. Recomenda-se, portanto, que, se usado, idealmente o seja na forma de estudo clínico aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) ou que pelo menos seu uso seja aprovado pelo Comitê de Ética do hospital, com termo de consentimento do paciente ou da família. Como é uma medicação experimental para esta indicação (COVID-19), é importante que seu eventual uso esteja dentro de um protocolo da instituição e que os resultados, tanto se forem positivos, como negativos, sejam relatados.

O documento da SBI pode ser lido na íntegra aqui.

Texto: Caroline Musskopf

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