Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Chamando a atenção para conscientizar a população acerca da importância da prevenção, Paulo Viana entrevistou a chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital Mãe de Deus e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a endocrinologista Melissa Barcellos Azevedo, que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.

O que é diabetes? Quais são as possíveis causas da diabetes?

Diabetes é uma doença crônica que ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando o corpo não usa bem a insulina que produz. A insulina é um hormônio que ajuda a regular a glicose no sangue. Quando há falta ou resistência à insulina, a glicose se acumula no sangue e pode causar complicações em vários órgãos.

Quais são os tipos de diabetes?

Os tipos mais comuns de diabetes são:  tipo 2, tipo 1 , diabetes gestacional e o pré-diabetes.

Quais são as principais causas de diabetes?

As causas do diabetes podem variar de acordo com o tipo. Em geral, alguns fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de diabetes são:

  • Alimentação inadequada, rica em açúcar, gordura e carboidratos refinados
  • Estilo de vida sedentário, que favorece o ganho de peso e a resistência à insulina
  • Sobrepeso ou obesidade, que aumentam o risco de diabetes tipo 2
  • Distúrbios hormonais, como na gravidez, na menopausa ou em doenças da tireoide.
  • Doenças do pâncreas, que podem afetar a produção de insulina (Diabetes tipo 1)
  • Defeitos genéticos, que podem causar diabetes tipo 1 ou formas raras de diabetes.
  • Sequela de Covid-19, que pode provocar inflamação no pâncreas e alterar a função das células beta
  • Uso de certas drogas ou produtos químicos, como diuréticos, corticoides, betabloqueadores, contraceptivos, imunobiológicos (usado no tratamento de alguns tipos de doenças como câncer, doenças reumatológicas) , que podem interferir na ação da insulina ou na glicose no sangue.

O que é diabetes gestacional e como ela ocorre?

Diabetes gestacional é um tipo de diabetes que ocorre durante a gravidez, quando a mulher desenvolve uma resistência à insulina provocada pelos hormônios da gestação. A insulina é o hormônio que ajuda a metabolizar a glicose e a fornecer energia para o corpo. Quando há resistência à insulina, a glicose se acumula no sangue e pode causar complicações para a mãe e para o bebê. O diabetes gestacional geralmente surge no terceiro trimestre da gravidez e, na maioria dos casos, não apresenta sintomas. O diabetes gestacional costuma desaparecer após o nascimento do bebê, mas pode aumentar o risco de diabetes tipo 2 no futuro.

Quais são os sinais e sintomas da diabetes?

Os sinais e sintomas de diabetes podem variar de acordo com o tipo e a gravidade da doença, mas alguns dos mais comuns são:

  • Vontade frequente de urinar
  • Sede excessiva e boca seca
  • Fome constante e dificuldade para se sentir satisfeito
  • Perda de peso sem motivo aparente
  • Cansaço e falta de energia
  • Visão embaçada ou alterada
  • Cicatrização lenta de feridas ou infecções frequentes na pele, na boca ou nos genitais
  • Formigamento ou dormência nos pés ou nas mãos
  • Náuseas, vômitos e dor abdominal em alguns casos
  • Mau hálito (cetose), o hálito cetônico, em alguns casos

Como é realizado o diagnóstico da diabetes?

O diagnóstico de diabetes é feito por meio de exames de sangue que medem a quantidade de glicose no organismo. Os principais exames são:

  • Glicemia em jejum: mede a glicose no sangue após um período de jejum de pelo menos 8 horas. O resultado normal é entre 70 e 110 mg/dL. Se for maior ou igual a 126 mg/dL em dois exames seguidos, indica diabetes.
  • Hemoglobina glicada (HbA1c): mede a média da glicose no sangue nos últimos 3 meses. O resultado normal é menor do que 5,7%. Se for maior ou igual a 6,5%, indica diabetes.
  • Teste oral de tolerância à glicose (TOTG): mede a glicose no sangue antes e depois de ingerir uma solução com glicose. O resultado normal é menor do que 140 mg/dL após 2 horas. Se for maior ou igual a 200 mg/dL, indica diabetes.
  • Glicemia capilar: mede a glicose no sangue com uma gota de sangue retirada do dedo. O resultado normal é entre 80 e 120 mg/dL. Se for maior ou igual a 200 mg/dL, indica diabetes.

O diagnóstico da diabetes gestacional é feito com o TOTG entre as 24ª e 28ª semanas de gestação, ou mais cedo se houver fatores de risco.

Como é feito o tratamento para o diabetes?      

O tratamento para o diabetes depende do tipo e da gravidade da doença, mas em geral envolve:

  • Medicamentos que ajudam a diminuir a glicose no sangue, como antidiabéticos orais (ex: metformina, glibenclamida, gliclazida) ou insulina injetável.
  • Dieta equilibrada e pobre em açúcar, gordura e sal, com orientação de um nutricionista.
  • Exercícios físicos regulares, com orientação de um educador físico ou fisioterapeuta.
  • Monitoramento da glicose no sangue, com aparelhos específicos (glicosímetros ou monitores inteligentes como Freestyle Libre, que permite a captação da glicose através de um sensor subcutâneo e leitura por aplicativo).
  • Controle de outras doenças associadas, como hipertensão, colesterol alto e obesidade.

O tratamento para o diabetes deve ser feito sempre com acompanhamento médico e visa a melhorar a qualidade de vida do paciente e prevenir complicações.

Existe vacina contra a diabetes?

Ainda não existe vacina contra o diabetes disponível para uso imediato. Há alguns estudos em andamento para desenvolver uma vacina que possa prevenir ou tratar o diabetes tipo 1, mas eles ainda estão em fase de testes e não há garantia de eficácia ou segurança.

Por que o diabetes pode levar a amputações e cegueira?

O diabetes pode levar a amputações e cegueira porque afeta a circulação sanguínea e os nervos do corpo, causando danos aos tecidos e órgãos. Veja como isso acontece:

  • Amputações: o diabetes pode causar neuropatia periférica, que é a perda de sensibilidade nos pés e nas pernas. Isso faz com que pequenos ferimentos, como bolhas, cortes ou rachaduras, passem despercebidos e se infectem. Além disso, o diabetes prejudica a cicatrização e a defesa do organismo contra as bactérias. Se a infecção não for tratada, pode evoluir para gangrena, que é a morte dos tecidos por falta de oxigênio. Nesse caso, a única solução é amputar o membro afetado para evitar que a infecção se espalhe pelo corpo.
  • Cegueira: o diabetes pode causar retinopatia diabética, que é uma doença que afeta os vasos sanguíneos da retina, a parte do olho responsável pela formação das imagens. O excesso de glicose no sangue faz com que os vasos se rompam ou se obstruam, provocando sangramentos e inchaços na retina. Isso prejudica a visão e pode levar à cegueira se não for tratado adequadamente.

Por isso, é muito importante controlar o diabetes com medicamentos, dieta, exercícios e acompanhamento médico regular. Assim, é possível prevenir ou retardar essas complicações graves.

No Brasil, quem tem direito a injeções de insulina, remédios e novos aparelhos para controlar e tratar o diabetes? O SUS oferece tudo isso?

No Brasil, todas as pessoas com diabetes têm direito a receber gratuitamente pelo SUS os medicamentos e insumos necessários para o tratamento da doença. Veja o que você pode obter:

  • Insulinas: o SUS fornece as insulinas humana NPH e regular, que são as mais usadas no Brasil. Para retirar as insulinas, você precisa apresentar um documento com foto, comprovante de residência, laudo médico e cartão do SUS na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua casa.
  • Medicamentos orais: o SUS também oferece três tipos de medicamentos que ajudam a controlar a glicose no sangue: Glibenclamida, Metformina e Glicazida. Esses medicamentos podem ser retirados nas farmácias populares ou nas UBS, mediante receita médica.
  • Insumos: o SUS ainda garante o fornecimento de seringas e canetas de insulina com agulha acoplada, tiras de glicemia capilar e lancetas para automonitorização da glicemia. Os glicosímetros e lancetadores são emprestados pelo SUS em comodato, ou seja, você pode usar o aparelho enquanto precisar, mas deve devolvê-lo quando não usar mais. Para retirar os insumos, você também precisa apresentar os documentos citados acima.

O que há de mais novo para controlar a doença?

Existem muitas novidades para controlar a diabetes, tanto na área de medicamentos quanto na de tecnologia. Veja algumas delas:

  • Insulina inalável: é uma forma de administrar a insulina sem usar agulhas, por meio de um dispositivo que se assemelha a um inalador de asma. A insulina inalável é absorvida rapidamente pelos pulmões e ajuda a controlar a glicose após as refeições.
  • Semaglutida oral: é um comprimido que substitui a injeção de um medicamento chamado semaglutida, que estimula a produção de insulina e reduz o apetite. A semaglutida oral mostrou ser eficaz para controlar a glicose e promover a perda de peso em pessoas com diabetes tipo 2, além da prevenção de doença cardiovascular.
  • Tirzepatida: aprovada recentemente pela ANVISA, é uma medicação injetável que tem sido utilizada para tratar diabetes mellitus tipo 2 (T2DM). No entanto, ela também ganhou popularidade no exterior como um auxiliar para emagrecimento.
  • Insulina semanal: a insulina semanal é uma inovação importante no tratamento do diabetes. Ela permite que os pacientes apliquem a insulina apenas uma vez por semana, o que é uma mudança significativa em relação às aplicações diárias.
  • Pâncreas artificial: é um sistema que monitora continuamente a glicose no sangue e libera automaticamente a quantidade certa de insulina, sem a necessidade de intervenção do usuário. O pâncreas artificial é composto por um sensor, uma bomba de insulina e um algoritmo inteligente que calcula a dose ideal. Ele ainda está em fase de testes clínicos, mas promete revolucionar o tratamento do diabetes tipo 1.
  • Células-tronco: são células capazes de se transformar em outros tipos de células, como as produtoras de insulina. Pesquisadores estão tentando criar células-tronco que possam substituir as células beta do pâncreas, que são destruídas pelo sistema imunológico no diabetes tipo 1. Essas células-tronco poderiam ser transplantadas para os pacientes e restaurar a produção natural de insulina. Essa técnica ainda está em desenvolvimento e enfrenta alguns desafios, como evitar a rejeição e garantir a segurança dos pacientes.
  • Aplicativos: são ferramentas digitais que podem auxiliar no controle da diabetes, fornecendo informações, lembretes, dicas, gráficos e alertas sobre a doença. Alguns exemplos de aplicativos são: Glic Online, Diabetes: M, MySugr, Social Diabetes e Glooko. Eles podem ser baixados gratuitamente em smartphones ou tablets e podem se conectar com glicosímetros ou sensores para monitorar a glicose em tempo real.

Como se prevenir da doença?

A prevenção de diabetes depende do tipo da doença. O diabetes tipo 1 não pode ser prevenido, pois é causado por uma reação autoimune que destrói as células produtoras de insulina. O diabetes tipo 2 pode ser prevenido com hábitos de vida saudáveis. Entre eles:

  • Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e proteínas magras, e pobre em açúcar, gordura e sal.
  • Praticar exercícios físicos regularmente, pelo menos 150 minutos por semana, de preferência sob orientação de um profissional de saúde.
  • Evitar o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, que podem aumentar o risco de complicações de diabetes.
  • Controlar o peso corporal, evitando o excesso de peso e a obesidade, que são fatores de risco para diabetes tipo 2.
  • Monitorar os níveis de glicose no sangue, especialmente se houver histórico familiar de diabetes ou outros fatores de risco, como hipertensão, colesterol alto ou síndrome dos ovários policísticos.
  • Tomar a medicação prescrita pelo médico, se for o caso, para controlar a glicose ou outras condições associadas ao diabetes.

Essas medidas podem ajudar a prevenir ou retardar o aparecimento de diabetes tipo 2, além de evitar complicações como hipoglicemia, infarto, derrame, cegueira e amputações.

 

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