Caroline Musskopf
O número de registros de mortes por problemas respiratórios e pneumonia no Brasil apresentou aumento quando analisa-se os três primeiros meses de 2020. De acordo com levantamento feito na plataforma de transparência do Governo Federal, de janeiro a março deste ano, o número de casos foi de 27.750 para 29.203, uma diferença de 1.498. Quando olhamos para estes dados a nível estadual, os números em janeiro foram de 1.932 casos para 2.004 em março. Quando compara-se com o primeiro semestre do ano anterior, vê-se um aumento de 845 casos no Brasil. No Rio Grande do Sul, no entanto, com relação ao primeiro trimestre de 2019, temos hoje uma diminuição de mais de 1500 casos. A preocupação do poder público é de que vítimas do coronavírus podem estar entrando nas estatísticas de outros problemas respiratórios.
Dados do sistema InfoGripe, da Fiocruz, já haviam mostra alta em março no número de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que também poderia encobrir os registros de Covid-19. Apenas entre os dias 15 e 21 de março, o sistema estimou que cerca de 2.250 casos de pessoas foram internadas com sintomas de síndrome gripal forte – além de febre, tosse, e outros sintomas, elas têm dificuldade de respirar. Em 2019, houve 934 casos.
Subnotificação de casos de Covid-19
O Ministério da Saúde informou, em nota, que “diante da insuficiência de insumos no mundo, nem toda a população será testada”. A pasta disse ainda que a orientação é de que seja priorizada a testagem dos casos graves e que “fará inquérito epidemiológico por amostragem para conseguir as melhores informações sobre a dinâmica da epidemia”. O Mestre e Doutor em Bioquímica pela UFRGS, Matheus Becker, afirma que a previsão é de que o número de pessoas infectadas seja 15 vezes maior que a informação disponibilizada atualmente. Essa subnotificação está sendo discutida na pesquisa inédita desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas a partir do pedido do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
A falta de testes para toda a população também é apontada por Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “É possível que haja mortes, particularmente por pneumonia, que tenham relação com a infecção causada pela covid-19, já que estamos testando. Avaliações feitas por epidemiologistas estimam que, para cada caso notificado, temos 15 outros desconhecidos. Não temos controle da velocidade de transmissão e a epidemia cresce de forma desordenada. A mortalidade pode não ser rigorosamente real, porque não ocorreu testagem em todos esses óbitos, por falta de testes.” Segundo ela, a notificação é importante para que sejam estabelecidas estratégias de controle da doença e para entender como o vírus se comporta.