Foto: José Cruz/Agência Brasil

O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres. De acordo com estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer), para o triênio de 2023 a 2025, o país deve registrar 73.610 casos novos da doença, um risco estimado de 66,54 casos novos a cada 100 mil mulheres. Só em 2020, o Brasil registrou quase 18 mil mortes por câncer de mama, que equivale a um risco de 16,47 mortes por 100 mil mulheres.

Paulo Viana entrevistou o Dr. Leônidas Machado, coordenador da Mastologia do Centro Integrado de Oncologia do Hospital Mãe de Deus, com especialização pelo Instituto Europeu de Oncologia de Milão, na Itália, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia no Rio Grande do Sul (2020 a 2022), que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.

O que é câncer de mama?

É uma doença maligna que acomete as mamas, principalmente de mulheres, mas que também pode acometer a dos homens. A diferença da doença maligna para a benigna é que a maligna – aqui o câncer de mama – apresenta um risco de enviar metástases para outros órgãos, de disseminar essas células cancerígenas e atingir outros órgãos, que principalmente são ossos, fígado e pulmões.

Quais são os estágios da doença?

Existem estágios de 1 a 4. Quanto maior o estágio, mais grave é a doença. O estágio 1 é o inicial, quando o nódulo encontrado é muito pequeno, e o estágio 4 é a forma mais grave – neste caso, além da mama, o câncer já atingiu outros órgãos (metástases) da paciente.

Como o câncer de mama é classificado?

Atualmente, a classificação do câncer de mama é feita basicamente por meio de um exame que a gente chama de imuno-histoquímica, o qual nos permite saber as características do nódulo, se ele é mais ou menos agressivo, pois, conforme essas características, o tratamento vai ser diferente. A cirurgia poderá ser menor, chamada cirurgia conservadora (setorectomia ou quadrantectomia), em que a gente preserva a mama, ou maior, uma cirurgia mais radical, a mastectomia, em que é a retirada de toda a mama. Quando se faz a mastectomia, temos a opção de fazer a reconstituição. Na verdade, a paciente tem o direito de fazer a reconstrução da mama – é uma decisão dela, que pode não fazer ou ainda optar por fazer no futuro. Então, dependendo da classificação, a gente pode ter de fazer, além da cirurgia, quimioterapia, radioterapia e até hormonioterapia.

Quais são os fatores de risco para o câncer de mama?

Alimentação rica em gordura, fritura, enlatados e embutidos, ou seja, uma má-alimentação, tabagismo, obesidade, uso de hormônios em excesso, seja por reposição hormonal ou até mesmo alguns anticoncepcionais. A mulher não ter tido filhos e não amamentar não quer dizer que ela vá ter um câncer de mama, mas o risco dela é maior quando se compara com mulheres que tiveram filhos. Na verdade, o câncer de mama é multifatorial, não tem um fator de risco específico. São vários fatores que podem influenciar.

Quais os primeiros sinais do câncer de mama?

O mais importante é deixar claro que pode acontecer de nenhum sinal se apresentar, ou seja, a paciente não sentir nada, não apalpar nada de alterado, mas, ao fazer uma mamografia, descobrir um nódulo muito pequeno, e esse nódulo ser maligno. Por isso a importância de consultar regularmente e fazer o exame.

Mas a paciente também pode ter alguns sintomas, como um nódulo na mama perceptível ao toque, a pele da mama ficar diferente, como uma casca de laranja, se o mamilo, caso sempre tenha sido para fora e a paciente começa a perceber que ele entrou, o que chamamos de mamilo invertido ou inversão do mamilo. O importante é deixar claro que não precisa ter algum desses sinais para a paciente ter um câncer de mama, por isso é muito importante fazer uma consulta com um médico mastologista e fazer a mamografia.

Como é feito o diagnóstico do câncer de mama?

Através de uma biópsia.

Como é feito o tratamento conforme o estágio da doença?

O tratamento, hoje em dia, é muito individualizado e personalizado. Nós temos várias opções de tratamento, como eu já falei, a cirurgia, que pode ser menor ou a mastectomia. E temos quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, imunoterapia, mas aí isso vai depender de cada caso. Não necessariamente a paciente vai precisar de todos os tratamentos.

Câncer de mama tem cura?

Sim, o câncer de mama tem cura. Hoje é sabido que, se o câncer de mama for descoberto no estágio bem inicial, a chance de cura fica em torno de 90% a 95%. Por isso, de novo, é preciso reforçar a importância da prevenção e de fazer os exames de rotina.

Existe um grupo de risco para a doença?

Sim. Pessoas com história familiar de câncer de mama em primeiro grau, ou seja, mãe e irmãs.

O que considerar sobre o autoexame?

Ele serve para auto conhecimento, mas não substitui a visita ao mastologia e a mamografia.

Menopausa e reposição hormonal não trazem risco para o câncer de mama?

A Reposição hormonal pode ser feita em pacientes que tem os exames mamários e ginecológicos normais. Sempre conversando com a paciente sobre os benefícios e os riscos.

Todos os nódulos da mama são câncer?

Não, muitas mulheres vão ter nódulos benignos. Na verdade, a grande maioria dos nódulos que acometem as mamas das mulheres são benignos – podem ser cistos, que nós consideramos pequenas bolinhas de líquido, ou fibroadenomas.

Como sabemos se realmente são benignos ou malignos?

Através do exame físico, dos exames de imagem, como mamografia e ecografia, eventualmente até uma ressonância magnética mamária, e se houver dúvida, o exame padrão se chama biópsia.

Usar sutiã apertado causa câncer?

Nem sutiã nem desodorante causam o câncer de mama, isso é completamente mito.

Os chamados chips da beleza previnem o câncer de mama?

Não, muito pelo contrário. O chip da beleza não é um tratamento totalmente autorizado. No Brasil, inclusive, ainda temos várias restrições e ele pode inclusive aumentar a taxa de câncer de mama. Então, tem de ser muito individualizado o uso desse medicamento, que sabemos, em algumas circunstâncias, há um exagero do uso desse tratamento.

Usar desodorante antitranspirante causa câncer de mama?

Nem sutiã nem desodorante causam o câncer de mama, isso é completamente mito.

Uso de anticoncepcional causa câncer de mama?

Há vários estudos mostrando que não, que aumenta muito pouco o risco. Claro que, quando se prescreve algum medicamento, a gente tem de explicar os riscos e os benefícios. Mas para uma mulher muito jovem, que não quer ter filhos, a anticoncepcional é uma ótima opção, e hoje em dia as doses dos anticoncepcionais são muito baixas.

Mulheres que amamentam têm menos chances de desenvolver câncer de mama?

A amamentação é um fator protetor. Quando a gente fala em fator protetor, não quer dizer que a mulher que amamentou três, quatro filhos, apresente um risco zero. É um risco menor. É na comparação entre mulheres que amamentaram com aquelas que não amamentaram que percebemos ser um fator protetor.

Hereditariedade aumenta as chances de desenvolver câncer de mama?

Hereditariedade pode aumentar sim o risco de câncer de mama, principalmente se tiver familiar de primeiro grau, mãe ou irmã, com câncer de mama. Porém, a maioria dos cânceres de mama não tem uma ligação genética, em torno de 90%.

A prática de atividades físicas pode ajudar a prevenir o câncer de mama?

Com certeza. Tem grandes estudos já demonstrando que a atividade física regular – de três a quatro vezes por semana, pelo menos uma hora de exercício aeróbico, mesclando com musculação – pode diminuir em até quase 30% o risco de ter um câncer de mama. Então, atividade física, controle do peso e uma boa alimentação diminuem muito o risco de câncer de mama.

Próteses de silicone aumentam o risco de câncer?

Usar uma prótese mamária, seja por estética ou na reconstrução após uma cirurgia de câncer (mastectomia), não aumenta o risco de câncer de mama.

Como é o tratamento do câncer de mama?

Vai depender de cada caso. Muitas vezes, nós começamos pela cirurgia, dependendo das características, tanto da paciente quanto do nódulo, da agressividade desse nódulo. Também podemos começar pela quimioterapia, e algumas pacientes vão precisar também de radioterapia, outras não. O tratamento é muito personalizado.

O câncer de mama também pode atingir homens?

Pode, mas é mais raro. A literatura fala em torno de 1%, ou seja, 99% dos casos de câncer atingem a mama das mulheres.

Quais são os direitos de pacientes com câncer de mama?

É claro que nós médicos sabemos muitos desses direitos, mas eu sempre sugiro de a paciente conversar com um advogado, para entender bem os detalhes das leis. Algumas são muito importantes, como, por exemplo, a lei dos 60 dias.

Quando a paciente tem um diagnóstico de câncer de mama e tem um convênio, ela procura um médico com uma certa agilidade, mas no SUS, a lei dos 60 dias protege essas pacientes para que elas comecem algum tipo de tratamento antes dos 60 dias. Existe também a lei da reconstrução de mama, pois é é um direito da paciente reconstruir a mama. Seja pelo convênio, seja particular, seja pelo SUS, ela tem direito à reconstituição. Algumas pacientes ganham isenção do imposto de renda, o benefício de sacar o FGTS.

Qual a idade certa para começar a fazer mamografia?

Aqui no nosso país, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Sociedade de Radiologia e a Sociedade de Ginecologia, é recomendado começar a mamografia a partir dos 40 anos e uma vez ao ano. Claro que depende de cada caso. Se a paciente tem histórico de câncer de mama na família, normalmente nós começamos numa idade abaixo dos 40 anos, e esse exame tem de ser feito anualmente.

Qual o cenário atual do câncer de mama no Brasil e o que ainda precisa ser regularizado na forma da lei?

Infelizmente, a gente sabe que é o câncer que mais atinge as mulheres, no nosso país e no mundo, ficando atrás só câncer de pele não melanoma. Neste ano, só para o Brasil, é estimado que mais de 70 mil novos casos de câncer de mama sejam registrados, então realmente é um número bem alarmante. Por isso, a gente tem de ter esse cuidado com as nossas pacientes, de tentar oferecer para elas todas as medidas preventivas, ressaltar que fazer os exames de rotina possibilitam uma detecção precoce, e que isso é muito importante para salvar a vida.

O que ainda precisa avançar na lei em relação ao câncer de mama diz respeito a medicamentos. Em relação a cirurgias, nós conseguimos fazer pelo SUS todas aquelas feitas nos convênios, inclusive as cirurgias de reconstrução de mama. Radioterapia também. Agora, muitos medicamentos novos têm surgido nos últimos anos, e realmente são muito caros, mas apresentam uma boa resposta, isso às vezes demora um pouco mais de tempo para ser incorporado ao SUS. No entanto, a gente sabe que, mesmo pelo SUS, as pacientes têm um ótimo tratamento.

Dicas para prevenir o câncer de mama

As dicas mais importantes são fazer atividade física regularmente, manter o peso dentro do adequado, ter uma alimentação saudável, não fumar, não beber em excesso e fazer os seus exames de rotina com o seu médico mastologista. E aproveitando, lembro que, no Hospital Mãe de Deus, nós temos um serviço que se chama Pronto Mama.

Como funciona?

Se a paciente percebe alguma alteração em sua mama, algum nódulo na pele, mamilo, tudo aquilo que eu falei anteriormente, ou se ela fez um exame de mamografia e viu que tem um nódulo, ela vai ser atendida por um de nossos mastologistas e, se avaliarmos necessário, vamos pedir uma biópsia. Esse exame fica pronto em até 24 horas. Então, isso é muito importante para a paciente que descobriu um nódulo e que está assustada, querendo saber se esse nódulo é algo mais sério ou não.

 

Os conteúdos desta coluna têm caráter informativo e não substituem a consulta com um médico.

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