| Lívia Rossa |

A população LGBT está se sentindo ainda mais isolada em função da pandemia. O distanciamento vem afetando a saúde mental dessa comunidade, afirma o especialista em saúde pública, Guilherme Thomazi. Isso porque as pessoas acabam morando sozinhas por conta da intolerância, não só da sociedade, mas, e, principalmente, da própria família.

De acordo com ele, no entanto, essa realidade não é nova para quem sempre teve que lidar com uma sociedade cis-heteronormativa, ou seja, que espera que todas as pessoas se identifiquem com o sexo que nasceram e, além disso, sejam heterossexuais.

O problema está na incompreensão e na falta de preparo das pessoas para lidar com as diferenças. Thomazi descreve, por exemplo, quando uma mulher (cis) vai ao médico ginecologista e precisa responder perguntas como métodos de prevenção ou vida sexual ativa quando, na verdade, é lésbica.

No caso das mulheres trans, a dificuldade inicia já na hora da documentação quando, mesmo que tenha os documentos ratificados (nome e gênero), enfrenta dificuldades para marcar não só um ginecologista, mas qualquer médico de outra especialidade.

Mercado de trabalho é excludente

Um dos fatores que estão tornando a pandemia mais difícil é a perda de empregos. Segundo Thomazi, já é difícil para a população LGBT ingressar no mercado de trabalho formal e, em uma situação de calamidade, essas são as primeiras pessoas a serem demitidas.

De acordo com ele, as dificuldades não são uma exclusividade da pandemia e refletem a vida cotidiana da população LGBT que não está limitada às dificuldades que enfrenta no dia-a-dia, mas é acometida pela intolerância da sociedade que é incapaz de compreender o sentimento do grupo.

Ele afirma também que, mesmo quando existem empregos, muitas pessoas sofrem preconceitos no ambiente de trabalho. “O que acontece é que o local às vezes é muito hostil onde, por exemplo, os colegas fazem piadas com o jeito da pessoa”, afirma Thomazi.

Má situação financeira leva pessoas à situação de rua ou obriga que voltem para casa de familiares que não sabem lidar com a orientação dos parentes LGBT

Com a baixa de empregos, muitas pessoas LGBT se encontram sem opção de moradia por falta de recursos e acabam ou indo para a casa de familiares que reprimem suas vidas, ou, em casos drásticos, acabam vivendo em situação de rua.

Nesse sentido, Thomazi diz que alguns familiares “até aceitam” que seus parentes LGBT voltem para casa, mas estabelecem regras que podem tornar o ambiente muito tóxico, permitindo que voltem, mas deixando claro que a pessoa “não pode ser quem ela é, precisa conter seus trejeitos e não pode ser relacionar com pessoas do mesmo sexo”, em exemplo a uma situação de um homem gay.

Violência doméstica aumenta – “O Brasil é um país muito difícil para ser LGBT

Conforme pesquisas, a violência física contra a população LGBT aumentou durante a pandemia.  Os dados indicam que, no primeiro semestre de 2020, o aumento no número de assassinatos foi de 39% contra a população transsexual, tanto mulheres trans, quanto homens trans. Muitas vezes, a situação vem de dentro de casa.

Lado a lado com a situação familiar de incompreensão surge a violência doméstica. Segundo Thomazi, grande parte da população transexual é expulsa de casa aos 13 anos de idade.

O desamparo leva muitas pessoas às ruas, atuando, em 90% dos casos, com a prostituição que acaba sendo a única opção em diversos casos. Segundo Thomazi, essa maneira de ganhar a vida acontece também pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal.

A prostituição, inclusive, não está sendo rentável em meio à pandemia pelo medo do contágio do coronavírus. Essa é mais uma situação de abandono da comunidade, principalmente transexual já que, sem opções, acaba morando nas ruas.

Crédito foto: Unsplash / Divulgação / RDC TV

Compartilhe essa notícia: