Milhares de mortos e infectados, a privação do direito de ir e vir e recomendações de completo isolamento. Tudo isso gera um cenário de medo, estresse e incertezas sociais e econômicas. Diante desse contexto, mais do que passar ileso fisicamente, como manter a sanidade mental frente à pandemia global de Covid-19 causada pelo novo Coronavírus?

A psicóloga Priscila Cunha destaca que vivemos um momento de luto. “A gente perdeu a nossa capacidade de ir e vir, de encostar, de ser carinhoso, de ser livre. Ao invés de estarmos em um estado de cuidado, estamos em um estado de alerta”, diz.

Priscila lembra que não existe um dispositivo que faça com que as emoções sumam, então é preciso parar, respirar e evitar comportamentos que levem ao pânico. Ela, que desde o início da pandemia tem realizado apenas atendimento online, cita a importância das novas tecnologias. Porém, frisa a importância de fontes confiáveis de informações. A tecnologia tem sido a grande aliada da estudante Giordana Garcia, a intercambista brasileira está isolada em um alojamento de estudantes em Portugal e falou à RDC Tv como teu sido sua rotina.

Lisiane Ribeiro é mestre em Programação Neuro-Linguística (PNL) e física quântica e está acostumada a tratar pacientes com grandes traumas, como as pessoas envolvidas no caso da boate Kiss e no acidente de avião com o time de futebol da Chapecoense. Quando perguntada se o nível traumático que podemos esperar em um mundo pós-pandemia é comparável a esses dois casos citados, ela é enfática: “Infelizmente sim. É possível que sejam ainda piores, vai depender do tamanho do estrago. Na Itália, algumas pessoas estão com mortos dentro de casa aguardando que as autoridades os recolham. Diferente de um evento único, mesmo com tantas mortes, o abalo emocional virá pela vivência com as perdas e dificuldades prolongadas”.

Para ela, o primeiro passo é fugir da negação. “Existe um problema real, que ainda não é perceptível aos olhos para muitos de nós, então a negação entra nesse ponto. O de acreditar que tomando algum cuidado é o suficiente. Nesse momento é hora de refletir sobre o sentido da pluralidade. Enxergar o outro será o sentindo”, explica.

Por outro lado é necessário evitar válvulas de escapes. Já que estamos em casa, dá vontade de se reunir para jogar carta com vizinhos, amigos, parentes, etc. No entanto, esse momento é de reflexão e preservação. “Não há melhor momento para a avaliação de novas alternativas de vida ou de comportamento do que agora”, conclui.

A agência de saúde da ONU destaca que esses recursos podem ser utilizados também por pessoas que querem ser solidárias ajudando os demais, atitudes como telefonar para vizinhos ou membros da comunidade que possam precisar de assistência extra podem fazer a diferença.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) é essencial que as pessoas infectadas não sejam estigmatizadas. São tempos de prevenção mas também de empatia. “Trabalhar juntos como uma comunidade pode ajudar a criar solidariedade na abordagem à COVID-19”, afirma a organização.

Também é recomendada que a proteção dos funcionários contra o estresse crônico e a saúde mental ruim e com isso lhes proporcionar as capacidades necessárias para o desempenho de suas funções. Além disso, a OMS destacou os benefícios do rodízio de trabalhadores entre as funções de maior e menor estresse e na parceria de trabalhadores inexperientes com os que têm mais experiência, para proporcionar segurança.

No que diz respeito aos profissionais da saúde, a agência pede a todos que respeitem o “papel que desempenham para salvar vidas e manter entes queridos em segurança”, assegurando aos profissionais de saúde que é normal sentir-se “sob pressão” e enfatizando que o estresse é “de modo algum um sinal de que você não pode fazer seu trabalho ou que é fraco”. A OMS orientou-os a descansar o suficiente, comer alimentos saudáveis, praticar atividade física e manter contato com familiares e amigos.

Recomendações aos pais de crianças

“As crianças se sentem aliviadas se puderem expressar e comunicar seus sentimentos em um ambiente seguro e favorável”, sustentou a agência de saúde da ONU, incentivando que, se estiverem seguras, elas sejam mantidas próximas aos pais e à família. Caso contrário, deve-se manter contato regular com os pais, como telefonemas ou videochamadas agendadas duas vezes ao dia. Quem explica com mais detalhes é a psicóloga Priscila Cunha:

 

Cuidado com os mais vulneráveis

Como os idosos e as pessoas com condições de saúde pré-existentes e vulneráveis podem se tornar mais ansiosas, agitadas e retraídas durante o surto, a OMS enfatizou a importância de transmitir instruções claras de maneira concisa, respeitosa e paciente. “Engaje a família e outras redes de apoio” para fornecer informações e ajudá-los a praticar medidas de prevenção, incluindo lavagem das mãos.

Grávidas e mães amamentando

Enquanto isso, o Fundo de População da ONU (UNFPA) recomendou que as mulheres que amamentam e adoecem não devem ser separadas de seus recém-nascidos. Embora não haja evidências de que a doença possa ser transmitida através do leite materno, o UNFPA orientou as mães infectadas a usar uma máscara quando estiverem perto do bebê, lavar as mãos antes e depois da alimentação e desinfetar as superfícies contaminadas.

“Se uma mãe está doente demais para amamentar, ela deve ser incentivada a extrair leite para ser dado ao bebê, tomando todas as precauções necessárias”, afirmou a agência de saúde da ONU. Neste momento, saúde mental e apoio psicossocial vão ser essenciais para os indivíduos afetados e suas famílias.

 

 

Produção, texto e edição de vídeo:

Caroline Musskopf e Moisés Machado

Arte:

Daniel Rocha

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