Um prefeito ucraniano descreveu horas de interrogatórios “difíceis” quando detido por quase uma semana pelas forças russas no mês passado e disse que apelou ao papa por ajuda para impedir uma guerra que destruiu partes de sua cidade, no sul da Ucrânia.

“Foram seis dias perigosos porque entendi que para os russos minha vida e a vida dos civis valiam zero”, disse Ivan Fedorov, prefeito de Melitopol, que agora está sob controle russo, em Roma no domingo, um mês após sua libertação.

A Ucrânia disse que Fedorov foi sequestrado em 11 de março, depois que as forças russas tomaram Melitopol, que fica a oeste da cidade sitiada de Mariupol, em uma região ao sul que a Rússia quer controlar. Kiev anunciou a libertação de Fedorov em uma troca de prisioneiros em 16 de março.

A Rússia, que chama suas ações na Ucrânia de “operação militar especial”, não fez comentários sobre a detenção do prefeito ou a troca de prisioneiros relatada pela Ucrânia.

Fedorov, que se encontrou com o papa Francisco e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, no sábado, antes de participar de um culto na véspera de Páscoa, disse que pediu ao Vaticano que interceda junto ao presidente russo, Vladimir Putin, para garantir corredores humanitários para Mariupol, que enfrenta bombardeios devastadores.

O major Serhiy Volyna, comandante da 36ª brigada de fuzileiros navais da Ucrânia, que ainda luta em Mariupol, também pediu ajuda ao papa em uma carta postada no Telegram na segunda-feira.

“Não tenho muito tempo para descrever todos os horrores que vejo aqui todos os dias. Mulheres com crianças e bebês vivem em bunkers… Todos os dias os feridos morrem porque não há medicamentos. Sem água, sem comida”, disse. escrevi. “Ajude a salvá-los.”

Descrevendo sua detenção pelas forças russas no departamento de polícia de Melitopol, Fedorov disse em uma entrevista: “Eles vieram até mim à noite com cinco ou sete soldados e conversaram por cerca de quatro ou cinco horas, diálogo duro”.

‘METADE DA MINHA CIDADE ESTÁ DESTRUÍDA’

“Eles queriam fazer de mim um exemplo sobre o que aconteceria se não concordássemos com o que os russos queriam”, disse o prefeito à Reuters e ao jornal italiano Il Messaggero, dizendo que enfrentou tortura “psicológica”, mas não física.

“Os soldados russos presumiram que seriam bem-vindos, mas não foram… e é por isso que os russos ficaram muito, muito zangados”, disse ele.

“Não há comida na minha cidade. Não há farmácia. Metade da minha cidade está destruída. Mais de 200 pessoas foram sequestradas. Não é seguro andar pelas ruas”, disse ele.

A Rússia nega atacar civis e rejeita o que a Ucrânia diz ser evidência de atrocidades, dizendo que Kiev as organizou para minar as negociações de paz. Moscou diz que lançou sua ação militar há quase dois meses para desmilitarizar a Ucrânia e erradicar o que chama de nacionalistas perigosos.

A tomada de Melitopol, Mariupol e da costa sul daria às forças russas uma ligação terrestre entre separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia e a Crimeia, que Moscou anexou em 2014. A Rússia disse que quase tem controle total de Mariupol.

Fedorov, que disse manter contato regular com o povo de Melitopol, disse que convidou o papa a visitar a Ucrânia porque “talvez ele possa parar esta guerra”.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy também convidou o papa, prometendo garantir sua segurança. 

O Papa Francisco criticou implicitamente a Rússia, pedindo o fim de uma guerra que envolveu agressão e invasão injustificadas. Dirigindo-se a Fedorov e outros ucranianos no serviço de véspera de Páscoa, o papa disse: “Tenha coragem, nós o acompanhamos”. 

Fonte: Reuters

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