Quando em 2013 violentos protestos eclodiram Brasil afora a partir de Porto Alegre sob o título “não é por 20 centavos”, quebrando lojas, bancos, a imprensa tratou sempre de passar pano dizendo que era uma minoria que levava o protesto para a violência. Cavalos do batalhão de choque de Porto Alegre foram feridos com instrumentos perfurantes, o prédio do Paço Municipal foi vandalizado, o apartamento do então prefeito José Fortunati foi atacado, as lojas da Azenha saqueadas, a RBS só não foi destruída porque a Brigada Militar a protegeu.

Mas mesmo ante a tudo isso, a mídia amiga (dos jornalistas do centro acadêmico) continuava passando pano e dizendo que a violência não era parte das manifestações, que eram verdadeiramente democráticas. Mesmo após a trágica morte de um cinegrafista da Band em SP, por um rojão, a retórica permaneceu.

Vejam agora o duplo standard em relação às manifestações da assim dita direita: famílias saíram às ruas, primeiro em 2016, ante as denúncias de corrupção da Petrobrás e frente à inépcia do governo Dilma. Não se registra nesses movimentos um caso de vandalismo sequer, uma depredação, um enfrentamento com a polícia. É verdade que num momento subsequente, já após a eleição democrática de Bolsonaro, grupos pequenos começaram a colocar nas suas pautas um pedido por intervenção militar. Pronto, foi o que bastou para surgir o estigma repetido à exaustão de extremistas de direita, o mesmo atribuído ao presidente.

São essas incongruências que movem e alimentam as bases de Bolsonaro, a indignação em relação a muitas narrativas. A impunidade de criminosos convictos, a politização do STF, as interferências no poder que nas urnas o brasileiro delegou ao seu presidente, tudo cria indignação na parcela que apoia o presidente. Por exemplo, as acusações de arbitrário dirigidas a Bolsonaro pela sua retórica, a partir da Globo, da Folha, do “mainstream” jornalístico: na verdade quem prendeu jornalistas, criminalizou a opinião, encarcerou deputado e algemou cidadão trabalhador, não foi ele. As acusações de “genocida”, a CPI, (mesmo que o presidente tenha se manifestado de forma inadequada algumas vezes em relação a algo que é novo para todos –  a COVID-19) contrastam com a vacinação em curso no Brasil e com o que acontece na Europa agora, por exemplo. A politização da pandemia é evidente e isso também inflama a base social que sustenta o governo.

O problema é novamente o duplo standard que tem por trás o interesse político e as posições ideológicas e as verbas perdidas.

Pois bem, se vamos falar em empatia, vamos reconhecer que nas bases do bolsonarismo há um sentimento genuíno de brasilidade e uma visão de mundo. Desqualificar as pessoas chamando-as de gado, ou o presidente chamando-o de Bozo apenas torna os opositores tão ruins quanto o mal que julgam combater e o jornalismo duplo padrão apenas vira militância.

 

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