| Alice Ros |

Pouco mais de um ano após o primeiro caso de Covid-19 detectado no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, o país enfrenta o pior momento da pandemia, com mais de 255 mil mortes e média móvel acima de mil mortes diárias.

Hoje, 17 estados brasileiros têm ocupação em leitos de UTI Covid-19 acima de 80%, incluindo o Rio Grande do Sul.

Nesta segunda-feira (01), o Estado atingiu a marca de 97,3% de ocupação em leitos de UTI em geral, com 2.696 pacientes em 2.772 leitos. 

De acordo com o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede de Análise Covid-19, o crescimento do número de casos no Sul do país é reflexo de um relaxamento das medidas de distanciamento social. Em entrevista ao programa Portal RDC, Schrarstzhaupt explicou que além das variantes mais transmissíveis, a população precisa restringir a circulação para evitar uma pandemia ainda maior.

“É uma doença coletiva. São pessoas que transmitem para as pessoas. Cada vez que a gente está em um ciclo de transmissão como este, aumenta o número de pessoas infectadas”, disse. “Se a gente tentar conviver com o vírus, vai dar o que aconteceu em Manaus, o que está acontecendo em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul inteiro, praticamente. A Bahia está nessa situação, o Paraná está nessa situação, Santa Catarina. Agora, o Brasil está quase entrando em sincronicidade. Isso é um perigo de uma epidemia gigante que pode acontecer, não em locais isolados”, alertou o cientista de dados.

Schrarstzhaupt afirmou que os próximos dias ainda terão uma alta taxa de transmissão. Por este fato, o especialista justifica que lockdowns de três dias não são efetivos para conter o avanço do vírus.

“A gente consegue saber que vai ter uma piora simplesmente pelo fato de que todas as pessoas que estão infectadas hoje ainda vão ter um percentual infeccioso. Elas ainda vão ficar pior, vão para os hospitais e os hospitais já estão colapsados. Isso vai empurrar o colapso mais para frente”, projetou, ao explicar que o processo de contágio não é imediato.

“A pessoa pega o vírus hoje e vai começar a transmitir daqui uns três a cinco dias. Se ela transmitir para alguém que entrou em contato, esse alguém começa um novo ciclo vicioso e no final do ciclo há mais casos”, disse. 

“Se a gente tem um nível altíssimo de pessoas infectadas, mesmo que a taxa de transmissão baixe e fique igual a um, quer dizer que aquela exata quantidade de pessoas ainda vão se infectar. Aí a gente vai fazer as restrições e forçar essa taxa para baixo. Se a taxa baixar, ela vai baixar de um para 0,9. De 100 pessoas, ele vai contaminar outras 90”. 

Para que a diminuição da circulação do vírus comece a ser efetiva, o cientista recomenda lockdown a partir de 15 dias.

“No mínimo 15 dias. A gente acredita, sim, que as medidas de restrições mais duras de novo são justamente porque elas atuam no processo físico, afastam as pessoas das pessoas. Concordo que não é o decreto do governador que vai fazer efeito. As pessoas têm que entender que têm que parar de se reunir umas com as outras”, disse.

Schrarstzhaupt ainda não descarta que as medidas possam ser estendidas.

“Quando nós fecharmos tudo, vão ter muitas pessoas que recém se infectaram. Essas pessoas vão chegar em casa e, por mais que se cuidem, algumas vão contaminar pessoas que moram junto e vão gerar novos tipos de contágio. Por isso, quando a gente vê lockdowns bem sucedidos, eles duram no mínimo 15 dias. Mas, geralmente, se espera um pouco mais para que a curva comece a fazer aquela volta. Depois daí, vai se abrindo”, explicou.

Sobre as medidas de contenção em menor tempo, o cientista disse que a paralisação “até restringe, porque as pessoas não vão aos lugares que elas geralmente iriam”, mas o resultado não é efetivo. “Ao mesmo tempo, efetividade, que é atuar na redução de contágio, não tem. É só pegar o ciclo do vírus. Quem pegou o vírus na sexta-feira, só vai transmitir na segunda-feira”, justificou.

Em relação às variantes, o cientista de dados apontou que estudos prévios já indicam maior probabilidade de contágio e acometimento de pessoas mais jovens. Segundo Schrarstzhaupt, as cepas são resultado de infecções em excesso. 

“As variantes são resultados de contágios em excesso. O objetivo do vírus no nosso corpo é se multiplicar. Cada vez que o vírus faz cópias nas células, ela sai um pouquinho diferente. Essas diferenças podem ser até prejudiciais para o vírus, onde o vírus fica fraco, ou pode ser uma mudança mais forte, que faça com que ele fique diferente e o corpo sofra um pouco mais para combatê-lo. Quer dizer, quanto mais contágio, quanto mais a gente deixar todo mundo pegar, a gente aumenta a chance de aparecer novas variantes”, explicou.

“Baixando o contágio, baixa a probabilidade de novas variantes. A gente está preocupado com as variantes que estão vindo dos lugares A, B e C, mas a gente pode muito bem criar uma variante”.

A entrevista completa está disponível no Facebook da RDC TV.

Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

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