O repórter Marcelo Canellas e equipe gravam em frente ao local onde funcionava a Boate Kiss. Foto: Globo/Divulgação

Na próxima sexta-feira (27), a tragédia da Boate Kiss completa uma década. Mesmo dez anos após o incêndio que vitimou 242 pessoas e feriu 636 em Santa Maria (RS), a angústia segue tomando conta das famílias e dos sobreviventes em busca de uma resposta da Justiça. O júri que condenou os quatro réus do caso foi anulado e as prisões foram revogadas no início de agosto de 2022.

Acompanhando e apurando os fatos de perto desde o ocorrido, o jornalista natural de Passo Fundo (RS), mas criado e formado na cidade de Santa Maria, Marcelo Canellas documenta os dez exaustivos anos de luta das famílias na série “Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria”, que estreia no Globoplay na quinta-feira (26). Em entrevista para o programa “Tudo por você!”, da RDC TV, Canellas relata que demorou alguns dias para perceber o seu dever de cobrir o acontecimento como repórter, após uma reação inicial de perplexidade pela relação próxima e pelos laços afetivos construídos na cidade.

Durante os cinco episódios de aproximadamente 55 minutos, diversas partes envolvidas no caso são ouvidas – familiares das vítimas, sobreviventes, profissionais da saúde, da segurança e da imprensa que atuaram no dia da tragédia. Por acompanhar durante os dez anos entre idas e vindas de Santa Maria, o diretor conta ser amigo pessoal de familiares e sobreviventes, envolvimento que fica claro e evidente no documentário.

A ideia inicial ao produzir a série era ter um desfecho no julgamento, o que não aconteceu. A trajetória de um processo judicial longo e penoso é retratada: “Algo está errado no sistema judiciário em que se leva dez anos para apurar responsabilidades e não se chega a uma resposta para as famílias. O documentário questiona isso”, diz Canellas. “Essa cicatriz é uma cicatriz de Santa Maria, é uma cicatriz do Brasil e precisa ser assumida”, complementa.

As lideranças da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) são frequentes no documentário como símbolo da luta incessante pela conclusão do caso. Perguntado sobre o que será feito até que haja um desfecho, o repórter exclama que a luta continua.

“Os recursos estão postos. Tanto no Tribunal de Justiça, quanto no Superior Tribunal de Justiça. Nós vamos continuar acompanhando. Agora, você pode ter uma certeza: essas famílias que estão à frente, na liderança do movimento, estão exaustas, estão cansadas, mas não vão desistir. E isso é uma demonstração de cidadania, não desistir é uma tarefa cidadã.”

Marcelo tem 35 anos de carreira, com grandes reportagens produzidas na área dos direitos humanos, mas conta que nunca fez nada tão autoral quanto o trabalho de documentação da tragédia da Boate Kiss. Por ter sido estudante da Universidade Federal de Santa Maria, como grande parte das vítimas, por frequentar a boate do Diretório Central dos Estudantes, conta se enxergar naqueles jovens. “A série é uma grande alegoria do Brasil. De como a sociedade brasileira e o Estado do Brasil se comportam diante de uma tragédia dessas dimensões”, finaliza o jornalista.

 

Por: Rafael Renkovski

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