Tudo ia relativamente bem na viagem de Jair Bolsonaro à Argentina até que o presidente resolveu inventar que seria uma boa ideia criar uma moeda conjunta entre os dois países. Trata-se de um não assunto, que só repercute por ser uma completa estultice econômica tirada sabe-se lá de onde.
Batizado provisoriamente de “Peso Real”, o projeto monetário já nasce como um verdadeiro peso morto. Nem o Banco Central brasileiro segurou a invencionice, emitindo uma nota desmentindo o próprio presidente. No texto, o órgão informa que não tem projetos ou estudos em andamento para uma união desse tipo com a Argentina.
Como tudo o mais que sai da boca de Bolsonaro, a coisa veio de forma rasteira, oportunista e deslocada. A conversa sobre uma moeda do Mercosul não é nova. Remonta aos anos 90. É um velho sonho de integração que jamais se realizou e que precisaria de estudos sérios e longo prazo para ser viabilizado. A União Europeia, que começou seu processo de unificação em 1950, ainda hoje precisa lidar com problemas na implementação de um sistema bancário e fiscal unitário.
O que Bolsonaro fez foi parir um factoide político para ajudar seu colega, Mauricio Macri, que enfrenta enormes dificuldades para se reeleger presidente da Argentina. O país vizinho encontra-se em uma crise econômica severa resultante do populismo praticado na época de Cristina Kirchner, que ameaça voltar ao poder pela incapacidade do atual mandatário do país de resolver os problemas que herdou.
De modo que, se a esperança de Macri repousa na moeda proposta por Bolsonaro, então ele está definitivamente condenado. Unir as moedas do Brasil e da Argentina é o mesmo que misturar tango triste com chanchada.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil