Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O convidado da coluna é o Dr. Bruno Fraiman*

O que é a doença de Parkinson?

A Doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum na população. Ela é marcada pelo acúmulo anormal no cérebro de uma proteína chamada alfasinucleína e pela morte de diversos neurônios, sobretudo os que produzem o neurotransmissor dopamina numa região cerebral chamada de substância negra. A falta desse neurotransmissor gera os principais sintomas motores da doença como tremor e lentidão de movimentos.

A diferença entre Parkinson e Parkinsonismo?

O parkinsonismo é uma síndrome clínica, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas. São eles a bradicinesia (lentidão de movimentos), rigidez muscular e tremor de repouso. A Doença de Parkinson é apenas uma das causas de parkinsonismo. Existem muitas outras doenças que se apresentam com uma síndrome parkinsoniana e esta pode até ser decorrente de efeitos colaterais de medicamentos, como alguns de uso psiquiátrico.

Causas da doença?

A causa da Doença de Parkinson é ainda em grande parte desconhecida. Sabe-se que em apenas 10-15% dos casos há uma mutação genética identificada em um grupo de genes que causa a doença. Nestes casos, geralmente, o início da doença é precoce, abaixo dos 45 anos de idade. Por outro lado, na imensa maioria dos casos, nenhum fator genético é conhecido. Alguns fatores de risco já foram identificados, como viver em zona rural, beber água de poço, exposição a pesticidas. Então, é provável que a doença seja causada por uma interação de fatores genéticos e ambientais.

Principais sinais e sintomas?

Os sintomas cardinais da Doença de Parkinson são os motores que compõe a síndrome parkinsoniana: lentidão de movimentos, rigidez muscular e tremor de repouso.

Os tremores são o principal e mais conhecido sintoma. Quais são os outros?

Além dos sintomas motores cardinais da Doença de Parkinson, uma ampla gama de sintomas não-motores também estão presentes. Muitas vezes esses sintomas iniciam antes até dos sintomas motores, como perda do olfato, constipação intestinal e distúrbios do sono. Outros tendem a acometer o paciente em fases mais avançadas, como perda cognitiva, alterações psiquiátricas e perda do equilíbrio. Apesar dos sintomas não-motores serem menos conhecidos, usualmente são eles que trazem um maior impacto na qualidade de vida dos pacientes.

Quando desconfiar que os tremores  têm ligação com o Parkinson?​

O tremor na Doença de Parkinson aparece principalmente no repouso, ou seja, quando o paciente está com o braço relaxado e tende a diminuir ou desaparecer quando usa-se o membro. Além disso, uma característica importante é que na Doença de Parkinson os sintomas iniciam-se por um lado do corpo para só depois de um tempo atingir o outro. Os sintomas são assimétricos, o lado por onde a doença começou costuma ser o mais afetado.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da Doença de Parkinson é puramente clínico. É feito com base na história do paciente e no exame físico realizado no consultório. Para tanto é preciso que o paciente apresente os sinais e sintomas da síndrome parkinsoniana.

Existe tratamento?

Sim. Apesar de não haver uma cura ainda para a doença existe um arsenal terapêutico muito amplo que traz bastante qualidade de vida para os acometidos pela doença. O tratamento passa sempre por atividade física e hábitos de vida saudável, além de assistência multidisciplinar como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional por exemplo. Além disso, existem vários fármacos que podem ser usados para aliviar os sintomas. Em casos mais avançados,  há ainda a opção do tratamento cirúrgico com a estimulação cerebral profunda (DBS), conhecida como marcapasso cerebral.

Qual o ritmo de “evolução” da doença? É possível retardá-la?

A Doença de Parkinson se caracteriza por ser uma doença progressiva, mas com velocidade muito lenta. Pacientes que apresentam evolução dos seus sintomas de forma muito rápida acendem uma luz de alerta para o médico e devem ser investigados para diagnósticos alternativos. É comum ter pacientes com a Doença de Parkinson por 20, 30 anos com a doença. Com os tratamentos disponíveis hoje em dia, ainda não é possível retardar a progressão da doença.

Incidência no Brasil

Existem poucos dados sobre a epidemiologia da doença no país. De acordo com um estudo epidemiológico realizado em Minas Gerais, acima de 65 anos, 3% da população é afetada pela doença.

Quais são as principais novidades em relação ao tratamento da doença? É possível pensarmos na cura?

A cura da Doença de Parkinson ainda é algo que não foi atingido. Todos os tratamentos disponíveis visam apenas melhorar os sintomas. Novas drogas são lançadas, com novos mecanismos de ação que ajudam na melhora da qualidade de vida. Além disso, o tratamento cirúrgico com o DBS também vem se popularizando e avançou muito. Modernas tecnologias de estimulação cerebral estão chegando que ajudam o médico a mitigar os sintomas da doença.

A doença pode ser prevenida? Como diminuir o risco?

Infelizmente não há um método para evitar a doença. Sabemos que como em todas as doenças neurodegenerativas, hábitos de vida saudável, atividade mental e a prática de exercícios físicos regulares ajudam bastante o cérebro a manter-se saudável.

Dicas para quem enfrenta os desafios de cuidar de alguém com doença Parkinson

É importante ter paciência e compreensão, pois é uma doença que afeta o indivíduo em vários aspectos, não apenas motores. Respeitar a autonomia de quem sofre com a doença e incentivar a realização das atividades que o paciente consiga fazer sozinho é fundamental. Sabe-se também que o cuidador também pode adoecer pela carga de estresse, sobretudo quando o paciente atravessa as fases mais avançadas da doença. Portanto, é importante ter uma rede de suporte que ajude o cuidador, e estar sempre atento a sua própria saúde.

 

*Bruno Fraiman é preceptor da residência médica em Neurologia do Hospital São Lucas da PUCRS.

Neurologista especialista em distúrbios do movimento pela Universidade de São Paulo (USP-RP).

Mestre em Ciências Médicas pelas Universidade Federal Do Rio Grande do Sul

Membro dos serviços de neurologia do Hospital São Lucas da PUC-RS e Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

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