No Brasil, ao menos 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência, e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 55 milhões, com 10 milhões de novos casos por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, o número de indivíduos acometidos pela doença poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.
Paulo Viana entrevistou o Dr. Virgilio Olsen, chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre, que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.
O que é a doença de Alzheimer?
Demência de Alzheimer é o principal tipo de demência, que muitos ainda confundem com demência senil. A demência de Alzheimer está envolvido com uma perda progressiva de memória, além de perdas em outros domínios cognitivos como por exemplo desorientação no tempo ou espaço, perder a capacidade de tomar decisões ou resolver problemas da vida cotidiana, não conseguir manter a atenção.
O que pode causar a doença de Alzheimer?
Não existe uma causa única para a doença de Alzheimer. Existem algumas hipóteses que englobam a morte de neurônios, impedindo a sua conexão de forma adequada, tais como componentes de formação de placas amilóide, componentes vasculares.
Quais são os fatores de risco para a doença de Alzheimer?
A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Entretanto hábitos de vida influenciam diretamente o risco do seu surgimento, como a presença de pressão alta, diabetes, tabagismo e etilismo.
Quais sãos os primeiros sinais da doença de Alzheimer?
Em geral, o primeiro sinal da doença é a perda de memória.
Como é feito o diagnóstico da doença de Alzheimer?
O diagnóstico é prioritariamente clínico. Avaliando as queixas dos pacientes e seus familiares, associado a testes de memória e do funcionamento dos demais domínios cognitivos, que levam a uma redução das atividades do indivíduo. Recentemente, alguns testes sanguíneos, de líquor e exames de imagem vem sendo sugeridos para reforçar o diagnóstico.
Quais são os estágios da doença de Alzheimer?
A doença de Alzheimer pode ser graduada em leve, em que o paciente com alguma supervisão e auxílio ainda consegue realizar a maioria das suas atividades simples com segurança.
Estágio moderado – nesse estágio, o paciente já está claramente com problemas de memória e resolução de problemas. Nessa fase é frequente a perda de interesses por seus hobbies, precisa de auxílio para a grande maioria de suas atividades básicas (banho, vestir, higiene pessoal).
Estágio grave – nesse estágio o paciente tem apenas memórias fragmentadas, somente consegue se orientar em aspectos pessoais e precisa de auxílio para todas as suas atividades.
Alzheimer tem cura?
Infelizmente, a doença de Alzheimer ainda não tem cura. É uma doença que progride lentamente e todo o planejamento do cuidado é para reduzir a velocidade de progressão, com a manutenção da autonomia e independência pelo maior tempo possível.
Quais são os direitos do paciente com a doença de Alzheimer?
O paciente com demência de Alzheimer tem direito a isenção do imposto de renda, além de um acréscimo de 25% em casos de aposentadoria por invalidez.
Também é possível pleitear auxílio com cuidadores, fraldas e medicamentos.
Como é o tratamento da doença de Alzheimer? Existem tratamentos pelo SUS?
O tratamento envolve questões farmacológicas e não farmacológicas, com objetivo claro de reduzir a progressão com aumento do tempo de independência e autonomia. Existem 2 grupos de medicamentos utilizados desde o início dos anos 2000, com acesso inclusive via SUS, que infelizmente, tem um resultado apenas modesto.
A terapia não farmacológica – com adaptação de ambientes, sons, forma de comunicação com a pessoa com demência que são igualmente importantes e precisam ser realizas em todos os pacientes com demência.
Quais as principais dificuldades enfrentadas por familiares de pacientes com a doença de Alzheimer?
A demência de Alzheimer traz muito sofrimento para o paciente e seus familiares. Frequentemente há uma inversão de papéis na família, onde os filhos agora assumem os cuidados dos seus pais.
Entender que o paciente não pode realizar determinadas atividades sem supervisão, que retirar a liberdade para movimentações financeiras e de medicamentos, por exemplo, é zelar pelo cuidado do seu familiar.
O que há de novo sobre a doença de Alzheimer?
Nos últimos anos tivemos o lançamento de novos medicamentos contra a doença de Alzheimer (ainda não disponíveis no Brasil). São medicamentos em pacientes com estágios muito iniciais da doença, que tem como alvo as placas amilóide depositadas no cérebro. Esses medicamentos parecem reduzir a progressão da doença, com efeitos adversos que podem ser graves e devem ser utilizados (quando disponível no Brasil) com extrema cautela.
É possível prevenir a doença de Alzheimer?
Sim. Principalmente quanto aos hábitos de vida. Controlar a pressão e a diabetes, assim como evitar consumo de cigarro e álcool reduzem o risco do desenvolvimento de doença de Alzheimer. Além disso, estudar, ler e realizar atividades cerebrais durante toda a vida e inclusive depois de idosos protegem o cérebro.
Como conviver e cuidar de uma pessoa com a doença de Alzheimer?
É preciso ter muita paciência. Perguntas e histórias repetidas aconteceram diversas vezes. Entender que essa repetição não é provocação ou birra é fundamental para planejarmos o cuidado.
Toda decisão nova ou movimento fora da rotina pode ser um desafio para a pessoa com demência, portanto manter um padrão de hábitos e horários também facilita a organização mental da pessoa com demência.
Muito importante que o cuidador não esqueça do auto-cuidado e tenha momentos durante a semana para pensar em si.