Com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância de declarar-se doador de órgãos, e também informar aos familiares esta decisão, Paulo Viana entrevistou o Dr. Antonio Nocchi Kalil, cirurgião do aparelho digestivo e diretor médico e de ensino e pesquisa da Santa Casa de Porto Alegre, que que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.
Como funciona a doação e transplantes de órgãos Brasil?
No Brasil os transplantes são regidos pelo SNT(Sistema Nacional de Transplantes),que é ligado a Centrais Estaduais de Transplantes,e estas distribuem os órgãos de acordo com uma lista única. Para um paciente receber um órgão ele deve ter compatibilidade com o doador,que inclue tamanho e compatibilidade de grupo sanguíneo. Existem critérios de gravidade na lista que podem fazer com que um paciente tenha preferência em receber um determinado órgão,mesmo tendo entrado depois nesta.
O que é um doador vivo e o que ele pode doar?
Os órgãos que permitem a utilização de doador vivo são o rim,fígado e pulmão. O rim pode ser doado inteiro,pois temos dois,mas fígado e pulmão são doados partes destes órgãos. Nestas situações,uma avaliação muito criteriosa do doador deve ser feita,para diminuir ao máximo o risco destas pessoas saudáveis. Normalmente a doação é realizada com doadores vivos aparentados. Também deve-se respeitar a compatibilidade e o tamanho do órgão a ser doado neste tipo de transplante.
O que é um doador falecido e o que ele pode doar?
Doador falecido é aquele em que há morte encefálica,mas ainda existe funcionamento dos outros órgãos. Ele pode doar órgãos como fígado,pulmão,coração,os dois rins,pâncreas,intestino. E além disso, córnea e tecidos como pele e osso.
Quero ser doador. A minha religião permite?
No mundo ocidental,e no Brasil especialmente, normalmente não há problemas relacionados a preferência religiosa e doação de órgãos. No mundo oriental sim,este problema é mais frequente,e por isto os programas de transplantes inter-vivos são mais desenvolvidos.
Quem não pode ser doador de órgãos?
Todas as pessoas com morte encefálica devem ser avaliadas para a possibilidade de doação,mas situações que envolvem a maioria das doenças malignas e infecções não controladas normalmente são contra-indicação a doação.
Quantas pessoas podem ser beneficiadas por um doador de órgãos?
Pelo menos oito pessoas podem receber órgãos de um doador,mas outros mais podem se beneficiar das córneas e outros tecidos.
O que é morte encefálica?
Morte encefálica é a situação em que o cérebro não tem mais vascularização/funcionamento, mas os outros órgãos continuam recebendo sangue e mantendo sua função. Isto permanece por algumas horas,e é neste período que os demais órgãos devem ser retirados. A morte encefálica é sempre confirmada através de exames clínicos e exames de imagem,não havendo risco de acontecer erro neste diagnóstico.
Caso eu decida ser um doador, como minha família saberá sobre a possibilidade da doação após a minha morte?
A possibilidade da doação é abordada por profissionais do hospital, que falam com os familiares do paciente quando em morte encefálica na UTI. Neste momento a decisão é da família,por isto a importância de conversar sobre o tema e demonstrar durante a vida a seus familiares sua vontade de ser doador de órgãos.
Se doar um órgão, terei problemas de saúde no futuro?
Já existem vários estudos que demonstram não haver mudança na qualidade de vida de indivíduos que foram doadores de órgãos inter-vivos.
Como funciona a declaração em cartório, tem algum custo?
A declaração de doador em cartório é simples e sem custo,basta procurar qualquer cartório e efetivar sua vontade. Isto poderá ser de grande valia caso a família tenha dúvidas sobre a vontade do familiar.
Qual é a importância de conscientizar a população sobre a necessidade de doação de órgãos?
É fundamental,pois todos podemos ter na família necessidade de receber um órgão em algum momento. O Brasil,e especialmente o RS,tem muitos pacientes em lista de espera por órgãos e precisamos aumentar o número de doadores por milhão de habitantes,e não deixar que tantas pessoas ainda morram na lista aguardando um órgão.