Novembro Azul: Mês de conscientização sobre a saúde do homem

Para conscientizar os homens sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata, Paulo Viana entrevistou o Dr. Eduardo Carvalhal, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Moinhos de Vento, que responde perguntas que são importantes à prevenção do câncer de próstata durante o ano todo.

O que é câncer de próstata?

O câncer de próstata é uma doença neoplásica e maligna que pode se manifestar dentro de um espectro bastante variado de evolução. Nós podemos ter pacientes com câncer de próstata com uma evolução lenta, de baixa agressividade e que podem, eventualmente, permanecer sem evoluir ou colocar o paciente em risco por muitos anos. Por outro lado, podemos ter um paciente com uma condição mais agressiva de acordo com as mutações de células tumorais.

No caso mais grave, é o tipo de paciente que necessita ser tratado de forma precoce para evitar o risco de vida. Então, o grande desafio não é somente fazer o diagnóstico, mas identificar o paciente que tem um quadro mais leve e que pode receber um tratamento mais conservador e até mesmo um acompanhamento vigilante. E de mesmo modo, identificar o paciente grave para que ele possa receber um tratamento mais agressivo a tempo.

Qual é a função da próstata e para que serve?

A próstata é uma glândula que participa do nosso sistema geniturinário no homem. Ela é responsável pela produção do sêmem que, depois, permanece armazenado nas vesículas seminais (de onde será ejaculado durante a relação sexual) e também tem uma participação indireta na continência urinária masculina. Além do esfíncter uretral, a presença da próstata ajuda o homem a controlar um pouco melhor a urina.

Por outro lado, quando a próstata cresce muito ao longo da vida — algo que ocorre por uma determinação genética nos homens a partir de uma determinada idade, aos 40, 50 anos —, acontece a chamada hiperplasia benigna da próstata. Essa condição causa sintomas urinários por dificuldade de esvaziamento da bexiga como jato fraco, sensação de esvaziamento vesical incompleto, necessidade de micção bem mais frequente do que o habitual ou durante a noite. Esses, normalmente, são sintomas relacionados ao aumento benigno da próstata e raramente ao câncer de próstata.

Um problema importante é que o câncer de próstata, na fase inicial ou intermediária, é uma patologia silenciosa. Por isso a importância de conscientizarmos a população masculina da necessidade do diagnóstico precoce, e deste modo, a análise de prós e contras sobre o rastreamento genético.

Embora hoje não haja evidências populacionais conclusivas sobre o benefício desse rastreamento em termos de redução da mortalidade global na população examinada, é importante esclarecermos ao paciente que ainda é a única forma de identificarmos a doença em fase precoce e com as melhores chances de cura, que alcançam 80%, 90% a 95%, dependendo do estágio da patologia, com os tratamentos hoje disponíveis.

Com que idade os homens devem fazer os exames de rotina?

Recomendamos aos homens que façam uma avaliação inicial da próstata entre os 45 e 50 anos de idade. A consulta com o urologista é importante para discutir, em conjunto, os benefícios de uma avaliação periódica. Então, normalmente, fazemos o exame de toque retal, para termos acesso à superfície posterior da próstata, que concentra a maioria dos tumores, e o exame de sangue, que é o PSA (Antígeno Prostático Específico).

São as formas de identificarmos aqueles pacientes que têm risco de apresentarem a doença: por meio de um nódulo exame de toque, de uma área de endurecimento da glândula prostática, ou se houver aumento do PSA sem outras justificativas, como prostatite ou infecção urinária, que também podem alterar esse exame de sangue.

Então, quando o paciente apresenta alguma dessas alterações, deve-se prosseguir na investigação. Atualmente, utiliza-se muito a avaliação por imagem por meio de ressonância nuclear magnética e, eventualmente, em casos de maior suspeita, a realização da biópsia de próstata, por via transretal ou transperineal para que se possa colher material e enviar ao exame patológico para que seja identificado se há a presença de células tumorais cancerígenas. Seja identificado se há a presença de células tumorais cancerígenas.

 Quais são as causas do câncer de próstata?

A causa do câncer de próstata, como em muitas outras neoplasias, ainda não é totalmente esclarecida. No entanto, sabemos que surge a partir de mutações desencadeadas em células da glândula prostática por motivos nem sempre evidentes, muitas vezes por predisposição genética, e que vão dar origem a um foco de adenocarcinoma – o tipo mais frequente de câncer de próstata –, que gera uma proliferação mais acelerada de células e de glândulas prostáticas.

Elas acabam crescendo, se desenvolvendo dentro da glândula, tornando aquela região uma área diferente do parênquima prostático usual, normalmente mais endurecida, mais vascularizada e que pode, eventualmente, lançar células para circulação sanguínea ou linfática, ocasionando metástases à distância ou linfonodos da região pélvica.

Por isso, o câncer de próstata, quando tratado ainda na fase localizada da doença, ou seja, restrito à glândula prostática, apresenta chance de cura ou de boa resposta ao tratamento muito melhor do que quando temos doenças metastáticas à distância.

Quais são os fatores de risco para o câncer de próstata?

Os principais fatores de risco são o histórico familiar associado ao risco genético. Outras neoplasias podem estar associadas a mutações compartilhadas pelo desenvolvimento do câncer de próstata, como, por exemplo, o câncer de mama, seja em mulheres da mesma família de primeiro ou segundo grau. Por exemplo, se o homem for filho de mulher que câncer de mama, provavelmente tem risco maior de desenvolver o câncer de próstata ao longo da vida.

Isso porque ambas as doenças podem compartilhar uma mutação, como a do gene BRCA1 ou BRCA2 (genes que participam quando mutados no aumento do risco de desenvolvimento dessas doenças, tanto do câncer de mama quanto do câncer de próstata).

Se eventualmente uma mutação germinativa como essa é transferida da mãe para o filho, esse filho também vai ter, ao longo da vida, o risco de um câncer de próstata com maior frequência que a população em geral, e eventualmente, até uma doença mais agressiva do que outras pessoas. Além dos fatores de risco genéticos, podemos elencar alguns fatores de risco ambientais, como o sedentarismo, a obesidade, dieta rica em gorduras e pobre em fibras e verduras.

O câncer de próstata pode ocorrer em jovens?

Em geral, o câncer de próstata ocorre a partir dos 50 anos de idade com mais frequência, mas não é tão incomum encontrarmos pacientes mais jovens, a partir dos 40, 42 anos de idade com o diagnóstico. Inclusive com predisposição para doenças mais agressivas, normalmente são pacientes que têm essa propensão genética.

Como prevenir o câncer de próstata?

É difícil quantificar os impactos das medidas consideradas preventivas, mas isso pode ser realizado individualmente, procurando manter hábitos de vida saudáveis, com uma dieta equilibrada, pobre em gorduras e rica em verduras e vegetais, bem como manter a regularidade de atividades físicas, evitando o sedentarismo e a obesidade. Todos esses fatores contribuem para a redução de risco não só do câncer prostático, mas de outras doenças que acometem a saúde do homem, como o risco cardiovascular.

 

*Os conteúdos desta coluna têm caráter informativo e não substituem a consulta com um médico.