Lula está oficialmente de volta ao jogo eleitoral. É bem verdade que, mesmo preso, ele nunca deixou de participar da disputa política brasileira. Parte considerável do que se desdobrou na eleição presidencial de 2018 foi arquitetado de dentro da carceragem da Polícia Federal. Foi lá que o ex-presidente construiu um candidato que o representasse no pleito, já que, na época, não podia concorrer em virtude do efeito jurídico da condenação que recaia sobre ele. Também foi de lá que torpedeou a candidatura de Ciro Gomes, personagem insubordinado cuja pretensão política era fincar bandeira no território dominado pelo PT.
A decisão de Edson Fachin de anular os processos envolvendo o líder petista e que estavam sob a guarda da 13° Vara Federal de Curitiba terá sérias implicações no que ocorrerá ano que vem no país. Lula se fortalece na medida em que seu discurso vitimista ganha verossimilhança narrativa. Seus supostos algozes jurídicos, afinal, agora estão declarados incompetentes para julgá-lo, tendo seus atos processuais todos anulados. A incorporação disso no script de sua pré-candidatura ao Planalto é fato dado.
Mas não é apenas Lula quem tem o que comemorar. O discurso de Bolsonaro também ganha força, já que ele busca representar o antipetismo. E nada mais adequado para isso fazer sentido na cabeça do eleitorado do que um Lula com plenos direitos políticos podendo concorrer e ser eleito. A possibilidade de o PT voltar ao poder por meio de seu principal nome é um combustível mobilizador de efeito contrário para aqueles que rejeitam essa perspectiva.
Todo protagonista precisa de um antagonista definido. O de Bolsonaro é Lula, e o de Lula é Bolsonaro. Apesar das óbvias diferenças ideológicas entre ambos, o fato é que hoje um potencializa o outro, sequestrando o debate público e asfixiando o surgimento de uma eventual terceira via ou nomes alternativos.
A eleição presidencial de 2022 já caminhava para repetir 2018, mas agora ganha contornos absolutamente definitivos com essa decisão de Fachin. O único fator que pode representar uma desestabilização de perspectivas é o próprio Sergio Moro, que, apesar da decisão aparentemente desfavorável, lhe dá um discurso político poderoso: o de ex-juiz que tentou combater a corrupção mas foi frustrado pela cultura impunidade existente no STF.
Temos três discursos bem definidos aqui: 1) o do ex-presidente condenado por um juiz declarado incompetente; 2) o do atual presidente que busca evitar a volta da esquerda; 3) o do ex-juiz que enfrentou os poderosos e o sistema corrupto. Com a decisão de Fachin, os três se fortificam, e é natural que assim seja, já que estamos tratando de políticos. A descobrir qual será mais bem sucedido em ganhar votos.