| Redação RDC TV | 

Na reta final da corrida eleitoral em Porto Alegre, a RDC TV transmitiu, na terça-feira (24), o especial  “Na RDC, quem decide o voto é vc”. O programa recebeu os candidatos Sebastião Melo (MDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB), que disputam o Paço Municipal, e seus respectivos vices, Ricardo Gomes (DEM) e Miguel Rossetto (PT).

No primeiro turno, o candidato do MDB recebeu 31,01% dos votos, enquanto a candidata do PCdoB obteve 29%.

Cinco jornalistas conduziram as entrevistas individuais, divididas em 50 minutos. Durante a programação, os candidatos a prefeito reforçaram propostas de governo e opinaram sobre polêmicas envolvendo as eleições municipais.

Caso Carrefour e políticas de inclusão

Sebastião Melo e Manuela D’Ávila se posicionaram sobre a morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, vítima de agressão no supermercado Carrefour. O episódio foi repercutido internacionalmente como um caso de racismo, após dois homens brancos espancarem João Alberto, negro, até a morte.

O primeiro a comentar o ocorrido foi Melo. Questionado sobre a acusação de ter apoiadores racistas, o candidato alegou que a adversária “passou todos os limites”, afirmando que já havia acionado o direito de resposta. Em entrevista, Melo antecipou que registraria um boletim de ocorrência contra Manuela por difamação. A ocorrência foi protocolada como “crime eleitoral” na quarta-feira (25), sob a justificativa de que D’Ávila teria veiculado uma propaganda eleitoral afirmando que o candidato é racista.

“Eleição não é espaço de vale tudo”, disse o candidato. “O combate ao racismo deve ser feito por todos os cidadãos. Tu não podes usar um triste episódio e a dor de uma pessoa que foi morta do jeito que foi eleitoralmente, como se fosse um monopólio de um partido político. A gente não combate preconceito e racismo com mais violência, queimando viatura da Brigada Militar, quebrando comércio. A gente combate isso com paz”, justificou Melo.

Sobre a criação de políticas de compensação, o candidato afirmou que “não podemos dividir a cidade entre homens e mulheres, brancos e negros, idosos e novos”. Segundo Melo, “um governo tem que olhar para todos, especialmente para os que mais precisam”. O plano de governo do candidato também prevê a abertura de um concurso para construir um memorial no Largo Zumbi dos Palmares, no Centro Histórico da capital, em memória à população negra. Além disso, Melo propõe a recriação de um centro de referência a negros.

Já Manuela rebateu as críticas do opositor e defendeu que já havia registrado um programa  no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com medidas anti-racistas e de inclusão. Segundo a candidata, o Brasil é um país que reflete o racismo estrutural nas relações sociais e econômicas. “Muito antes do assassinato do Beto no Carrefour, já havíamos registrado o nosso programa com o compromisso de enfrentar o racismo estrutural”, declarou. 

“Eu acho que o candidato Sebastião, depois de assistir ao programa de televisão e ter uma boa noite de sono, vai entender que nós não o chamamos de racista. Nós falamos algo evidente, que ele é apoiado por pessoas que deram declarações racistas, como é o caso do vereador Valter Nagelstein (PSD) e do vice-presidente Mourão (PRTB). Não sei qual é a dificuldade em dizer que não concorda com aquela declaração”, alegou D’Ávila.

“Tenho aprendido muito com os homens e mulheres negros. Inclusive, cinco deles se elegeram vereadores da nossa cidade. Acho que nós, mulheres brancas e homens brancos, precisamos ter a humildade de ouvir e entender como é a construção do Brasil”, acrescentou. No programa de governo, Manuela propõe um treinamento com todos os servidores do município para práticas anti-racistas. 

“A Guarda Municipal deve ser treinada para ter um comportamento anti-racista, os educadores, os profissionais da saúde, da assistência social. A prefeitura precisa reconhecer a existência para qualificar os seus funcionários e funcionárias para o enfrentamento. Existe uma parte que é a parte localizada, digamos assim, em nosso programa de políticas de enfrentamento ao racismo, mas também existem outras políticas na educação, na geração de trabalho e renda, no enfrentamento da violência e que são políticas que enfrentam o racismo estrutural da nossa sociedade”, assegurou Manuela.

“Estou casada com um homem branco que vai ao supermercado de havaianas. Se ele gritar com alguém, ele não será morto a pontapés. Todos nós sabemos que foi racismo”, disse a candidata. 

Revisão de tributos

Ambos os candidatos afirmaram que planejam cancelar o aumento de 20% do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), firmado no calendário de aumentos escalonados da Secretaria da Fazenda.

Segundo Sebastião Melo, a coligação “Estamos Juntos Porto Alegre” projeta realizar um programa de parcelamento de tributos para contribuintes. A chapa pretende anular todas as multas de comerciantes autuados pela abertura de estabelecimentos comerciais em meio às medidas de restrição. “Nós vamos remeter para a Câmara de Vereadores, nos primeiros dias de janeiro, um projeto cancelando todos os demais aumentos do IPTU, tanto comercial quanto residencial”, afirmou. 

Melo acredita, ainda, que há possibilidade de interferir na questão tributária. “Podemos mexer, sim, na questão tributária, mas levando em conta o equilíbrio fiscal. Tenho uma expectativa de receita. O orçamento é uma peça que você ajusta anualmente. Eu tenho uma expectativa de receita para 2020, incluindo mais R$ 35 milhões de arrecadação do IPTU”, assumiu o candidato.

Para Manuela D’Ávila, da coligação “Movimento Muda Porto Alegre”, a suspensão do reajuste do IPTU comercial deve ser feita ainda em 2020.  “O empresariado tem urgência. Ele [Melo] quer esperar assumir a prefeitura em 1° de janeiro para ir propor uma alternativa para a questão do IPTU. Para não afetar o aumento em 2021, há necessidade do prefeito Nelson Marchezan enviar um projeto na transição. O prefeito Marchezan já se comprometeu em fazer isso. Então há, sim, a possibilidade”, disse. 

“Nós não sabemos como será 2022, 2023, 2024. Nós temos urgência de resolver 2021”, acrescentou a candidata.

Retorno das aulas 

Melo salientou que a evasão escolar já era grande antes da pandemia. O candidato afirmou que não acha que “o prefeito tem que chegar a emitir um decreto com uma ordem” sobre a volta às aulas presenciais, “mas os professores também não podem fazer isso”. De acordo com Melo, o retorno das aulas presenciais deve ser mediado pelo diálogo. “A primeira coisa que a gente tem que fazer é acabar com essa guerra entre professores e prefeito”. 

Uma das principais metas do emedebista para Porto Alegre é recuperar pontos do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e finalizar o ano letivo.

Manuela, por sua vez, almeja criar uma política de renda básica de proteção à infância, iniciativa que garante auxílio financeiro para que os estudantes permaneçam matriculados.

“Tenho uma preocupação muito grande com o retorno das aulas pós-pandemia ou durante a pandemia, porque sei que as crianças da rede municipal são as mais vulneráveis. Portanto, nós não estamos falando só sobre a perda de aulas de matemática ou português, ou de biologia e química. Nós estamos falando sobre a perda de vínculos”, justificou. 

D’Ávila destacou que a criação do programa será custeada por recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). “Nós temos a possibilidade de conquistar 60 milhões com o Fundeb, em atualização do Fundeb, e temos a obrigação de cumprir com aquilo que era demanda”.

Recursos para o município 

Ambos prefeituráveis justificaram que os recursos para investimento municipal estão concentrados na União. 

Para Melo,“continuamos em um país que é um império”, onde “a União pode tudo, os estados podem um pouquinho e um municípios quase nada”.

O candidato disse que a reforma tributária, proposta pelo governo federal, é uma “decisão política”. “Eu apostava muito que esse ano pudesse ter uma reforma, não ideal. Nós precisamos ter um reforma tributária que privilegie pagar imposto quem tem renda”, disse. Melo ainda afirmou que as carreiras políticas no Brasil são “um privilégio”. 

Em relação ao apoio de partidos, Melo assegurou que “não vai lotear o governo”.

Para Manuela, o Congresso concentra “bancadas descomprometidas com o país”. “Nós vivemos em um país em que uma parte grande dos deputados e das deputadas negam o vírus”, apontou. A candidata defendeu uma relação ativa com o governo federal, na qual “o bom é exigir que cada um cumpra o seu papel. Tem que dialogar, tem que saber propor, tem que ter projetos, mas não dá para baixar a cabeça”. 

Sobre o apoio recebido pelos partidos políticos, Manuela disse que tem “o maior orgulho de ter o apoio da Juliana Brizola (PDT), da Fernanda Melchionna (PSOL), da bancada de homens e mulheres negros, da REDE de Marina Silva. Tenho orgulho dos aliados que temos”. 

Empreendedorismo e inovação

Em entrevista, os candidatos também abordaram a revitalização do 4º Distrito, região que compreende os bairros Floresta, Navegantes, São Geraldo, Farrapos e Humaitá.

Considerada um polo industrial em potencialidade, Melo afirmou que é preciso “ter um projeto econômico que dê sustentação” à proposta. Segundo o candidato, a zona “tem uma região bem localizada, tem o aeroporto ampliado e está na saída da cidade. Então, a cidade tem potencial”. Como proposta, Melo propõe uma ação urbana que revise o Plano Diretor. 

Já Manuela acredita que “não podemos ser a capital da inovação se continuarmos sendo uma cidade absolutamente desigual”. Para atrair investimentos, a candidata planeja uma análise da Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa).

“Eu acredito no papel da Procempa, no papel da articulação da Procempa em relação às startups, para que a gente possa pensar em soluções para a cidade. Acredito que Porto Alegre precisa valorizar a iniciativa do Pacto Alegre”, disse.

Cobertura das eleições

A RDC TV fará a cobertura completa do segundo turno das eleições municipais em Porto Alegre, neste domingo (29). 

Com programação ao vivo das 08h às 00h, a transmissão contará com convidados no estúdio e equipes de reportagem em pontos estratégicos da capital. 

A cobertura poderá ser acompanhada pelos canais 24 e 524 da Claro NET ou pelas plataformas digitais da emissora (site, Youtube e Facebook).

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