O isolamento e até o medo da morte, efeitos da pandemia do coronavírus que estamos vivendo há um ano, têm feito com que as pessoas adoeçam, não só fisicamente, mas também emocionalmente. No início, os idosos que eram considerados como aqueles que corriam mais risco de perder a vida tiveram suas rotinas modificadas e o afastamento de seus familiares como uma triste realidade.

Assim foi com Tereza Araújo, de 86 anos. A idosa, que mora sozinha, se viu recebendo alimentos e medicamentos por meio das suas grades do apartamento, de onde, pelo lado de fora, a filha fazia toda a higienização. Mesmo já tendo tomado as duas doses da vacina contra a covid-19, a espera pelo fim deste tempo difícil é a sua única esperança para retomar o convívio com filhas, netos e bisnetos. “No final, a televisão é a única companhia que podemos ter, mas há um bombardeio só de notícia ruim. Ver a doença, as mortes e as pessoas perdendo quem amam acaba deixando a gente ainda mais deprimida e nervosa”, lembra a idosa.

Para pessoas que, assim como Tereza, estão sofrendo com o isolamento e a pandemia, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps II) oferece atendimento para adultos a partir de 18 anos sem dependência química. O público-alvo são pacientes com transtorno mental grave (egressos de internação psiquiátrica, psicóticos graves, pessoas com risco de auto e heteroagressão). Devido ao isolamento, a triagem e o acolhimento podem ser feitos on-line. Após esse primeiro contato com o paciente, os encaminhamentos são feitos de acordo com a demanda. Dessa forma, eles podem seguir no Caps ou são orientados a procurar uma unidade de saúde de referência.

A assistente social e coordenadora do Caps II, Alessandra Piá da Rosa, conta que, além dos idosos, há outro público que vem sentindo os efeitos dessa crise. “Os impactos das restrições estão se refletindo, em grande escala, nos profissionais de saúde e em adultos jovens. Mesmo em pessoas que nunca tinham apresentado nenhum sintoma relacionado a algum transtorno mental”, afirmou. Ela ainda lista algumas suposições para esse público ter sido tão impactado: as alterações significativas na rotina, o longo período de distanciamento social, a redução de estímulos, perda de renda pela impossibilidade de trabalhar, falta de perspectiva e de respostas objetivas são algumas delas.

Fique atento

Em tempos como esse, é comum o desenvolvimento de pensamentos negativos, medos e inseguranças. Por isso, a coordenadora do Caps orientou para que a população fique atenta às reações mais comuns, que podem se agravar para um quadro de problema psicológico. São elas: o medo de ficar doente e morrer; evitar procurar um serviço de saúde por receio de se contaminar; preocupação com a obtenção de alimentos, remédios ou suprimentos pessoais; medo de perder a fonte de renda, por não poder trabalhar, ou ser demitido; alterações do sono, da concentração nas tarefas diárias ou aparecimento de pensamentos intrusivos; sentimentos de desesperança, tédio, solidão e depressão devido ao isolamento; raiva, frustração ou irritabilidade pela perda de autonomia e liberdade pessoal.

Alessandra lembra que é importante procurar um profissional qualificado quando o paciente notar que não está bem. Mas ela dá algumas dicas de como tentar melhorar o dia a dia. “Evite ficar o tempo todo com o celular e nas redes sociais. Movimente-se, leia um livro, escute música, aprenda uma receita nova, veja um filme, brinque com as crianças, cuide do jardim ou cultive alguma planta num cantinho do apartamento. Agora, mais do que nunca, ter um hobby é muito importante. Pode ser até ficar com seus animais de estimação”, afirmou.

Por vezes, a pessoa que está passando por esta dificuldade não percebe.  Por isso, a família e os amigos são grandes aliados. Quando alguém próximo percebe que o medo, a irritação e tristeza estão impedindo alguém de se relacionar, raciocinar e dormir, ou se houver choro e irritabilidade na maior parte do seu dia, esse é o momento de buscar ajuda, orienta Alessandra. “Há profissionais e serviços disponíveis mesmo à distância. O telefone do Caps, para triagem e orientação é o 3600.7175. Estamos sempre disponíveis”, confirmou.

 

Texto: Douglas Glier Schütz e Paloma Vargas

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Edição: Tiemi Sá

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