| Lívia Rossa |
Após a Prefeitura liberar o funcionamento de estabelecimentos comerciais e de serviços em Porto Alegre, na última terça-feira (19), muitos empresários ficaram entusiasmados em poder reativar suas atividades. Contudo, embora as operações possam ser retomadas, a recuperação pode não ser tão acelerada para os pequenos proprietários.
De acordo com o segundo vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física (CREF) Alessandro Gamboa, até o anúncio das novas medidas do decreto 20.534/2020, 20% das academias já faliram no Estado. Assim mesmo, a paralisação de 60 dias nos negócios castigou muito os negócios e Gamboa acredita que possam ocorrer mais fechamentos, variando entre 15 e 20%.
Grande parte das condições desfavoráveis tem relação com o fato de que, caso os donos decidam reabrir seus estabelecimentos, as contas serão equivalentes à estrutura de antes, porém o lucro será de um terço da receita comparado a épocas normais. Como se as dívidas das semanas sem trabalho não fossem o suficiente, o receio na retomada das academias também se encontra no número reduzido de alunos devido ao medo da Covid-19.
Não é surpresa que os praticantes de atividades físicas estejam receosos, já que os números de casos da doença são bastante elevados no estado. Até a manhã desta sexta-feira (22), foram totalizados 5473 casos confirmados, sendo 166 óbitos em 251 municípios gaúchos. Em Porto Alegre, o número de casos confirmados é de 601 com 26 vítimas fatais.
A alternativa é voltar a trabalhar aos poucos e respeitando as medidas de distanciamento e higiene. É o caso da empreendedora Taiane Medeiros, dona de uma academia de pequeno porte que atendia em média 90 alunos e durante a paralisação teve redução de cerca de 80% da receita. Sem perspectivas de retorno, ela precisou parcelar o aluguel do estabelecimento e renegociar as dívidas. Enquanto a prefeitura restringia os serviços considerados não-essenciais, a solução para mascarar as despesas foi realizar as aulas no formato online, mesmo com número reduzido de alunos interessados.
Para amenizar os efeitos da crise, segundo Gamboa, o CREF trabalha em conjunto com a Associação dos Profissionais de Educação Física (APEFRS), com a Associação Brasileira de Academias (ACAD) e com o Sindicato dos Profissionais (SINPEF/RS) no pedido de linhas de crédito e apelo a vereadores e deputados para implementarem um projeto de lei que dê suporte aos empresários. As opiniões entre os vereadores sobre a abertura comercial divergem.
Como os vereadores vêem a abertura comercial
Para o vereador Mendes Ribeiro (DEM), otimista na abertura, a saída do decreto é uma consequência da “demonstração de maturidade” da população porto-alegrense e marca a retomada gradual à atividade econômica. Conforme Ribeiro, a crise deve ser reduzida e a situação da saúde segura em relação ao resto do Brasil.
Em relação às academias, a posição de Ribeiro é favorável à medida que sejam consideradas as ponderações do novo decreto. Sobre as pequenas empresas reconhece, no entanto, que alguns proprietários sairão prejudicados, principalmente aqueles que não tem infraestrutura para fazer as adaptações exigidas pela prefeitura em razão do espaço pequeno ou que possuem imóvel locado. Em âmbito municipal não há previsão de recursos destinados a esses profissionais.
Na contramão do desbloqueio, o vereador Marcelo Sgarbossa (PT) acredita que a abertura de estabelecimentos não representa, necessariamente, o giro da economia, por conta da retração das pessoas.
Sgarbossa não é contrário ao funcionamento dos serviços essenciais, que já vinham operando, mas acredita que o abrimento do comércio deve ser realizado com muito zelo, tendo em vista não somente a ocupação dos estabelecimentos, mas também o deslocamento da população até os locais representando riscos à contaminação.
O vereador também afirma que, embora a situação esteja controlada, o contágio por Covid-19 ainda deve ser considerado, já que há aumento progressivo no número de casos confirmados e mortes em Porto Alegre. “Mesmo que o prefeito diga que é possível rever o seu próprio decreto, isso significará que muitas pessoas já estarão infectadas, a progressão é geométrica no aumento de casos”, completa.
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