O Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a prescrição de esteróides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo. A norma técnica foi publicada no Diário Oficial da União, na terça-feira 11 de abril de 2023. Mas os medicamentos ainda são indicados e permitidos em alguns casos, desde que com prescrição e acompanhamento médicos.
O convidado da Coluna do Paulo Viana desta semana é o cardiologista Rodrigo Bodanese*
O que são os esteróides androgênicos anabolizantes?
Os esteróides androgênicos anabolizantes são uma classe de compostos químicos, derivados de testosterona, que se ligam a receptores androgênicos com capacidade de aumentar massa muscular e massa óssea.
Por que o CFM proibiu prescrição médica de anabolizante para fins estéticos e que doenças podem causar?
O uso de esteróides anabolizantes para fins estéticos nunca foi regulamentado, tampouco indicado. Com o uso crescente dessas terapias, com prescrição indiscriminada e apologia em redes sociais, o conselho houve por bem emitir um posicionamento, visto que o uso indevido dessas substâncias está associado a uma série de efeitos colaterais em diversos sistemas corporais. O sistema cardiovascular é um dos mais afetados, com o aumento da pressão arterial e hipertrofia do músculo cardíaco, podendo evoluir para um quadro de insuficiência cardíaca.
O risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral também está aumentado pela série de alterações no perfil lipídico (níveis de colesterol) e disfunção do endotélio, camada que reveste os vasos, gerando aterosclerose acelerada e precoce. Somam-se a isso alterações na cascata de coagulação, gerando um ambiente propício para eventos trombóticos. No sistema gastrointestinal ressaltamos o risco de hepatite medicamentosa e, até mesmo, câncer do fígado.
Do ponto de vista psiquiátrico constata-se ansiedade, agressividade e distúrbios do humor, causados pelas alterações de níveis de neurotransmissores, além de um quadro de dependência química e psíquica. Do ponto de vista endocrinológico ocorre alterações marcadas nas mulheres, com a virilização, engrossamento da voz, calvície e infertilidade. No homem, infertilidade, impotência sexual, ginecomastia (aumento das mamas) e aumento da próstata estão presentes.
Para que e para quem ainda podem ser indicados e prescritos?
A principal indicação para uso da terapia de reposição de testosterona é o hipogonadismo primário. Nesta condição os testículos não conseguem produzir quantidades suficientes de testosterona e esperma. O hipogonadismo primário pode estar relacionado a problemas genéticos ou ser secundário a infecções, radioterapia ou quimioterapia.
No hipogonadismo secundário, a reposição de testosterona pode estar indicada, porém como se trata de problema primário de sinalização cerebral, com produção insuficiente de gonadotrofinas pelo hipotálamo e pela hipófise, a reposição de gonadotrofinas constitui-se na primeira escolha.
O hipogonadismo funcional também pode-se constituir em uma indicação, porém apenas após ampla investigação, visto que os sintomas de cansaço, falta de energia e de libido podem estar ligados a uma série de outras patologias. Por fim, o uso de testosterona pode ser indicado em casos extremos de caquexia e sarcopenia (grandes queimados, idosos com fragilidade importante, pacientes com AIDS ou Câncer e perda expressiva de massa muscular).
De acordo com a norma, os médicos ficam impedidos dos seguintes procedimentos:
A norma restringe qualquer uso que esteja ligado a estética, seja composição corporal ou aparência. O uso para melhora de desempenho esportivo também é vedado, até porque o uso de esteroides anabolizantes configura doping.
Há algum tratamento para quem abusou do uso de anabolizantes e quer recuperar a saúde?
O tratamento vai ser orientado considerando-se potenciais benefícios e malefícios que podem resultar de sua indicação e é direcionado à patologia que se apresenta. Por exemplo, usuários que dão entrada na emergência com infarto agudo do miocárdio são levados ao cateterismo e realizada angioplastia (colocação de stent), se indicado.
Caso não tenha ocorrido nenhum evento adverso mais grave e o maior problema seja a não produção de testosterona pelo corpo (que ocorre pelo bloqueio do eixo hormonal), existem terapias que auxiliam o corpo a voltar a produzir testosterona de maneira endógena. Nesses casos, geralmente se usa citrato de Clomifeno ou Tamoxifeno, e o acompanhamento deve ser feito preferencialmente por um endocrinologista.
Dicas para ter uma vida saudável
A prática de atividade física e adoção de uma alimentação saudável ainda constituem a base para uma vida saudável. A realização de exercícios, preferencialmente uma mescla de exercícios aeróbicos e resistidos, está associada a melhora da capacidade funcional, controle de fatores de risco tanto para doenças cardiovasculares como para câncer, melhora da autoestima, controle do stress e ansiedade. Uma dieta com base em frutas, vegetais e carnes magras é indicada.
Devemos evitar o consumo excessivo de alimentos industrializados e ultraprocessados, assim com o consumo excessivo de gordura saturada e carboidratos refinados. A manutenção de um peso adequado é primordial e acaba sendo o resultado da adoção das medidas acima referidas.
O acompanhamento de profissionais capacitados, com orientação específica em algumas situações, auxilia muito no processo. O acompanhamento multidisciplinar com médico, nutricionista e profissional de educação física é o melhor caminho, fornece melhores resultados práticos e permite obter melhor impacto na saúde das pessoas.
* Rodrigo Bodanese, MD Cardiologista pela SBC – CRM 37353 – RQE 31594 Preceptor da Residência em Cardiologia do Hospital São Lucas da PUCRS e Médico de Centro de Reabilitação Cardíaca da PUCRS