O Dia Nacional do Diabetes foi no último dia 26, para conscientizar sobre fatores de riscos, diagnósticos e prevenção contra a doença, Paulo Viana entrevistou o Dr. Guilherme Rollin, Chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento.
O que é diabetes?
O diabetes que estamos falando é o diabetes mellitus, a característica do diabete é o aumento da glicose no sangue, ou seja, aumento da glicemia no sangue.
Quais os tipos de diabetes?
Os principais tipos de diabetes mellitus são: o tipo 1, que ocorre normalmente na criança e no adolescente com uma deficiência absoluta na produção de insulina, e com isso, a glicose sobe; o tipo 2, que é o mais comum, está associado à obesidade, ao sedentarismo e a tendências genéticas, neste caso existe uma deficiência relativa na produção de insulina, ou seja, o pâncreas não produz de maneira adequada a insulina, o que gera também uma deficiência na ação, ela não age adequadamente para colocar a glicose dentro das células, aumentando a incidência no sangue.
Como o diabetes é diagnosticado?
O diagnóstico é feito por meio da medida da glicose no sangue porque o conceito de diabetes básico é a glicose elevada no sangue. Mas existem algumas particularidades, pacientes de diabetes tipo 2 podem ser assintomáticos, e por isso, recomenda-se fazer exames preventivos com regularidade.
Entre os exames que fazem o diagnóstico, estão o que mensura a glicose em jejum. Quando é constatado um valor superior a 126 mg/dl, é necessário refazer o exame – em caso de confirmação, teremos o diagnóstico.
Outra forma é o teste de sobrecarga oral de glicose. Nesse caso, o paciente ingere um líquido doce e depois de duas horas faz a medição de glicose. Se ficar superior a 200 mg/dl, também teremos o diagnóstico de diabetes.
Uma terceira ferramenta é a hemoglobina glicada que representa uma média da glicose nos últimos três meses. Se o valor da hemoglobina glicada chega a 6,5%, o paciente é diagnosticado com diabetes.
Neste contexto, são necessários dois exames alterados para confirmar o diagnóstico. Porém, naqueles pacientes que têm sintomas típicos do diabetes – excesso de sede, excesso de fome, excesso de diurese, emagrecimento e glicose medida em qualquer horário, sem a necessidade de jejum, maior que 200 mg/dl –, já temos o diagnóstico. Nesse caso, não precisa repetir a medida. Esse quadro é comum nos que têm o tipo 1.
Quais são as possíveis causas da diabetes?
O tipo 1 é uma doença autoimune, o próprio corpo produz anticorpos que atacam o pâncreas fazendo com que o órgão não produza mais insulina, especificamente as células beta responsáveis pela produção. O diabetes tipo 2 é uma associação importante com obesidade, sedentarismo e história familiar. Aqueles indivíduos com hábitos de vida
saudáveis têm menos chance de desenvolver a doença.
O que é o estado de pré-diabetes?
O estado de pré-diabetes é uma transição entre a normalidade e o diabetes. Então, a glicose em jejum normal é até 99, e diabetes é 126. Entre 100 e 125, tenho um estado de pré-diabetes, ou quando se faz aquele teste oral de glicose, se o resultado ficar entre 140 e 200, é estado de pré-diabetes. Menor que 140 é a normalidade. E aquele indivíduo que tem a hemoglobina glicada entre 5,7 e 6,4 também é diabete. Lembrando que, se chegar a 6,5, é diabetes, e menor do que 5,7 é a normalidade.
O diabetes tem cura? Existe vacina contra a diabetes?
Como o tipo 1 é uma doença autoimune, ainda estão sendo pesquisados tratamentos, vacinas, medicações imunossupressoras que possam mexer no sistema imunológico para curar ou prevenir. Mas não existe nada muito consistente, apenas alguns resultados de pesquisa.
O mais importante é sobre o diabetes tipo 2. Como existe uma relação importante com obesidade, quando esse paciente reduz muito o peso (em torno de 15% da massa corporal), ele poderá entrar na remissão do diabetes. A palavra cura não é usual, porque se o paciente emagrece e mantém o quadro, poderá normalizar o metabolismo da glicose, entretanto, se o paciente voltar a ganhar peso, a doença retorna.
Como é feito o tratamento para o diabetes?
O tratamento do tipo 1 é feito obrigatoriamente com o uso da insulina, além do hábito de uma alimentação saudável e regulada com o controle de carboidratos e atividades físicas regulares. No tipo 2, o controle da alimentação e a atividade física têm a mesma importância, mas, neste caso, existe uma série de medicações que ajudam o pâncreas e a insulina a funcionar melhor. Entre esses, há um novo grupo de medicamentos que ajuda a glicose a sair pela urina e com isso diminui a presença no sangue.
Quais são os riscos que a diabetes pode trazer?
Os riscos podem ser divididos entre os agudos de curto prazo ou os riscos de longo prazo. No agudo, há um aumento muito grande da glicose que pode levar, no tipo 1, à cetoacidose diabética e, no tipo 2, à síndrome hiperosmolar – e ambos podem levar ao coma pela glicose muito alta.
Complicações crônicas são dividas nas complicações microvasculares e macrovasculares, ou seja, dos pequenos vasos e dos grandes vasos nesse contexto. Nos microvasculares, tem a doença ocular do diabetes, que é a retinopatia diabética e que pode levar à cegueira.
Temos a doença renal do diabete, que é a nefropatia diabética, que pode levar à hemodiálise, e tem a doença dos nervos periféricos, a neuropatia diabética. A mais comum é a polineuropatia diabética, que tem dois mecanismos, a glicose alta ser tóxica aos nervos, mas também os pequenos vasos que vão irrigar esses nervos são comprometidos e
isso gera perda de sensibilidades nos pés e nas pernas, causando também dores.
E tem as doenças macrovasculares, relacionadas às artérias e aos vasos grandes. Nesse sentido, podem ser doenças cardiológicas, cerebral e na circulação periférica das pernas, com o entupimento dos grandes vasos comprometendo a circulação e com risco de perda do membro.
Quais são as principais novidades em relação ao tratamento da doença?
Novidades no tratamento do tipo 1 da doença são as bombas de insulina mais modernas e que vão fazendo a infusão de insulina em velocidade que é regulada. Podemos regular a bomba para infundir 0,5 unidades por hora. Essa infusão pode aumentar de acordo com a necessidade, por exemplo, quando o indivíduo come tem como fazer uma
administração aguda que comporte uma refeição maior.
Existem sensores que medem a glicose e que, em algumas bombas modernas, conversam e são acoplados, adequando a infusão à necessidade do paciente. E não existe no Brasil, mas já está em estudo, o que chamamos de pâncreas artificial que, na verdade, é uma bomba que infunde insulina e Glucagon, e que se conecta ao sensor, e ele informa como está a glicose para poder funcionar de acordo.
Para o tipo 2, novos medicamentos estão chegando com um impacto importante na questão do peso. Além de reduzir a insulina, são medicações que trazem proteção cardiovascular e renal para os pacientes.
A diabetes também pode se desenvolver em crianças? Quais os sintomas que os pais devem reconhecer e ficar alerta?
O diabetes tipo 1 é tipicamente da criança e decorre aqueles sintomas clássicos como fraqueza, perda de peso, fome acentuada, sede e muita diurese.
Dicas para prevenir e controlar o diabetes
As principais recomendações são para o diabetes tipo 2 pela associação forte a questões hábitos de vida saudável. Então, a grande dica é prevenir obesidade – ao fazer isso, você está prevenindo a diabetes tipo 2. Outra coisa importante são os exames preventivos. No caso de quem está na fase de pré-diabetes, é possível intervir com medicações para prevenir a doença. O controle do diabete também se aplica a hábitos saudáveis.