O governo de São Paulo deve receber, nesta quarta-feira (03), mais 5,4 mil litros de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção de 8,6 milhões de doses da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

Após o desembarque dos insumos, o Butantan projeta concluir a fabricação dos imunizantes em 20 dias.

Em coletiva de imprensa realizada hoje (01), o governador de São Paulo, João Doria, também garantiu que mais 5,6 mil litros de IFA devem chegar ao país em 10 de fevereiro. A expectativa é de que o Butantan possa desenvolver 40 milhões de doses da CoronaVac até abril.

A importação de IFA da China tem sido um processo lento, principalmente por dois motivos: por conta do interesse de países que também precisam do insumo e pelo fato de o Brasil ter entrado em conflitos diplomáticos com o país asiático.

Para o consultor de negócios e especialista em China, Eduardo Ponticelli, os conflitos entre Brasil e China são resultado de “uma ala ideológica do governo”. O futuro âncora do Shangai Connection, da RDC TV, afirma que “o problema é uma ala ideológica do governo, fixada pelo ministro das Relações Exteriores. Foram diversos ataques ideológicos feitos nas redes sociais. A China se manteve em silêncio e preservou o respeito e a diplomacia. O planejamento do país em relação ao Brasil é para longo prazo e o comércio entre os dois países deve ser preservado”, explica o consultor.

Parlamentares e especialistas em relações internacionais entendem que as relações do Brasil com a China foram desestabilizadas depois de declarações do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

De acordo com Ponticelli, o envio tardio dos insumos representa uma resposta política ao Brasil. “A demora no envio foi um recado de Beijing aos governantes brasileiros”, disse. O especialista, que será um dos apresentadores do programa Shanghai Connecttion na RDC TV (atração que deve estrear até o fim do mês de fevereiro) foi um dos entrevistados do programa Fantástico da Rede Globo no último domingo.  Ele ressalta que a China deverá priorizar as relações comerciais e o fornecimento de IFA, mesmo diante das desavenças. “A China é pragmática e suas estratégias estão acima de picuinhas de baixo nível e discussões em redes sociais”.

Um dos desconfortos sinalizados pela China aconteceu após Eduardo Bolsonaro acusar a China de espionagem. Em resposta ao deputado, a embaixada da China no Brasil rebateu: “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita americana (…) Caso contrário, irão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou.

Ernesto Araújo, por sua vez, concordou com o deputado e afirmou que a resposta do embaixador chinês a Eduardo teve “tom ofensivo e desrespeitoso”.

“Atualmente, o IFA para produção da vacina Covid 19 é mais precioso que ouro, e uma produção limitada. A China está tratando o assunto com muito cuidado, pois precisa cuidar da sua população e ao mesmo tempo liberar o insumo para outros países. Para o Brasil, os envios do IFA passam por uma negociação diplomática, onde a China vai enviar mais lotes de acordo com as decisões do governo em respeitar a China e rever os seus ataques ideológicos, além da questão do leilão para o 5G”, destaca Ponticelli.

Para produzir as vacinas CoronaVac e Oxford/AstraZeneca, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil precisa adquirir o IFA da China, produtora do princípio ativo. No caso da CoronaVac, o imunizante é feito com o próprio vírus inativado. Já no caso da vacina de Oxford, produzida junto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o IFA é um adenovírus modificado geneticamente para carregar com uma sequência genética do Sars-CoV-2.

A cada um litro de IFA vendido pela China, o Instituto Butantan consegue produzir 1.612 doses da vacina. Para a Fiocruz, um litro equivale a 33.333 doses da vacina Oxford/AstraZenica.

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