Para avançar nas políticas de saúde na Terra Indígena Guarita, está sendo construído um modelo de Ambulatório de Saúde Integral da População Indígena, que será financiado pelo programa estadual de incentivos hospitalares Assistir. A iniciativa se junta às ações emergenciais realizadas pela Secretaria da Saúde na comunidade, localizada no Norte do Estado. “O serviço vai acolher os indígenas na Atenção Especializada, suplementar à Atenção Primária que funciona dentro da Terra Indígena”, relatou o especialista em Saúde da SES Guilherme de Souza Müller.
A presidente do Hospital Santo Antônio, de Tenente Portela, Mirna Braucks, já apresentou interesse em implantar o ambulatório. “O atendimento voltado exclusivamente aos indígenas é um sonho, principalmente para gestantes e crianças”, afirmou Mirna. A ideia é que essas unidades sejam implementadas em diversos pontos do Estado, como funciona com as demais especialidades do Assistir.
Também está em tratativas um projeto de credenciar o Hospital Santo Antônio como referência regional no atendimento à violência sexual. “As mulheres indígenas são as que mais sofrem violência no Estado, levando em consideração dados históricos desde 2019. Precisamos atender os casos que chegam e também trabalhar pela prevenção”, explicou a consultora da Organização Panamericana da Saúde (Opas), da SES, Gabriela Dalenogare. O Santo Antônio notificou, apenas em 2022, 326 casos de atendimentos de vítimas de violência, e em 68% deles a vítima era indígena.
Mobilização de Mulheres Indígenas Kaigang
As ações foram apresentadas durante a 2ª Mobilização de Mulheres Indígenas Kaingang, no Grupo de Trabalho Guarita pela Vida: Meu Corpo, Meu Território, na quarta-feira (17/5). O evento, que seguirá até esta quinta (18), conta com apoio da SES e ocorre na Terra Indígena Guarita. Na programação, estão discussões sobre políticas públicas voltadas à proteção e ao cuidado de vítimas de violência no contexto indígena e rural e acerca do combate à violência.
O objetivo do encontro é montar um documento com demandas a ser entregue à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Entre as demandas está a criação de uma casa de acolhimento às mulheres vítimas de violência. A ideia é que o espaço ofereça cursos de aperfeiçoamento de artesanato, técnicas de plantio e projetos de sementeiras para horta domiciliar, entre outras ações que auxiliem as mulheres a crescer econômica e socialmente, como explicou uma das organizadoras do evento, a liderança indígena Regina Goj Téj Emílio.
A assessora de projetos do Conselho de Missão Entre Povos Indígenas (Comin), Nyg Kaingang, destacou que o território de cada mulher é seu corpo, mas também sua família e seu espaço. “O Brasil surgiu do estupro das mulheres e crianças indígenas. Faz 523 anos que precisamos mudar essa realidade. Estamos aqui lutando como nossas ancestrais”, refletiu.
“Nós, brancos, temos muito a aprender com o saber indígena: como bem viver, como bem comer. O cuidado com a vítima é fundamental, mas temos que pensar também as causas da violência, que são estruturais, e enfrentar o racismo, o machismo e tantas formas de preconceito e violência”, acrescentou a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Magali Mendes de Menezes.