Transplante de coração. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

Paulo Viana entrevistou Dr. Paulo Caramori, graduado em Medicina, mestre em Cardiologia e Ciências, doutor em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares e chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da PUCRS, o +Cardio, que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.

1 – O que é insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca é a falha do funcionamento do coração como uma bomba. O coração bombeia o sangue para todo o nosso corpo, fazendo com que o sangue oxigenado chegue a todas as partes do nosso organismo. Quando, por qualquer razão, o coração não consegue entregar a quantidade de sangue necessária para o normal funcionamento do nosso organismo, quando isso acontece, nós chamamos de insuficiência cardíaca.

2 – O que pode causar a insuficiência cardíaca?

Existem várias causas para o coração ficar fraco. A mais comum em nosso meio é a existência de infartos antigos, de falhas no fornecimento de sangue para o próprio coração, que faz com que ele fique fraco e sem capacidade de funcionar como músculo. É como se não passasse sangue direito para o nosso braço e o nosso braço ficasse mais fraco e não conseguisse exercer a função dele, que seria exatamente de bombear sangue para todo o organismo.

Outras causas incluem o enfraquecimento progressivo do coração causado pela pressão alta, pelo diabetes, pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, pelas doenças das válvulas cardíacas e por uma infecção no músculo, que é chamada de miocardite.

3 – Quais os sintomas de insuficiência cardíaca?

O principal sintoma de insuficiência cardíaca. Quando o coração falha, o principal sintoma é a falta de ar e a perda de capacidade de executar tarefas simples, porque de um modo similar a um automóvel, em que o motor precisa ter mais potência para fazer mais coisas, para andar mais rápido ou carregar mais carga, o nosso coração também precisa de força para poder nos conduzir. Quando ele fica fraco, uma das primeiras manifestações é a perda de capacidade física e, na sequência, sensação de falta de ar e, eventualmente, aperto no peito e arritmias.

4 – É possível reverter à insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração já está fraco. Então recuperar a força do coração pode ser extremamente difícil. Nos últimos anos, diversos tratamentos têm surgido que permitem que o coração tenha um melhor desempenho, mas são tratamentos que necessitam ser utilizados para toda a vida.

Assim, o melhor tratamento da insuficiência cardíaca é prevenir que haja lesão no músculo cardíaco, que haja dano irreparável no coração. Por isso que é fundamental controlar os fatores de risco para as doenças cardiovasculares, evitando que a pessoa tenha um infarto ou tenha hipertensão mal controlada ao longo dos anos e assim por diante.

5 – Como é o tratamento para insuficiência cardíaca?

O tratamento moderno da insuficiência cardíaca inclui, primeiro, tratar qualquer causa que seja considerada removível, ou seja, os fatores que estão levando ao enfraquecimento do músculo cardíaco devem ser removidos, sejam eles obstrução coronária, ou pressão mais controlada, uso abusivo de álcool, lesão nas válvulas cardíacas e assim por diante.

Além disso, existem as medicações que fazem com que o coração já fraco se sustente ao longo do tempo e há um grupo de medicações hoje que se usa em associação, então são quatro a cinco medicações que o paciente deve tomar para toda a vida para garantir que o coração tem o melhor desempenho possível ao longo dos anos.

6 – Por que a insuficiência cardíaca pode levar a necessidade de transplante? 

Mesmo com a medicação, a perda de função do coração pode ser progressiva. Bom, os remédios são bastante eficientes, mas em um número cada vez menor de pacientes, pode evoluir para perda importante do funcionamento do coração, que seja incompatível com a vida.

Quando o coração continua piorando, enfraquecendo cada vez mais, o médico deve considerar a possibilidade de transplante cardíaco e preparar o paciente para que consiga realizar o transplante, que é um procedimento complexo e que envolve muitos aspectos, num futuro próximo.

Portanto, quanto pior a evolução da insuficiência cardíaca, maior é a chance de um paciente precisar de trocar o coração por um coração doador que não tenha as doenças que levaram ao enfraquecimento do coração próprio do paciente.

7 – Como evitar as doenças cardiovasculares?

A doença cardiovascular mais frequente no nosso meio é o que leva angina e infarto. Isso se chama doença arterial coronariana, ou também chamada de cardiopatia isquêmica. Bom, os fatores de risco para cardiopatia isquêmica são bem conhecidos. Ele que inclui fatores que são modificáveis e outros que não são modificáveis. Hoje os não modificáveis incluem a idade, o avançar da idade, o sexo masculino, que tem maior risco que o sexo feminino, e a carga genética.

Eu digo hoje eles não são modificáveis porque é possível que com alguma brevidade nós tenhamos terapias genéticas que corrigem problemas nos nossos genes que levariam a um infarto. Depois entre os modificáveis eu dividiria um grupo que é relacionado ao estilo de vida, que pode ser feito, o cuidado desses atores de risco pode ser feito por qualquer um de nós e eles incluem ter sono de boa qualidade, alimentação balanceada, não ter excesso de peso, manter a atividade física regular, no mínimo três vezes por semana, o controle do estresse e, muito importante, não fumar em hipótese nenhuma.

Finalmente, há um grupo de fatores de risco que deve ser controlado junto ao seu cardiologista, que inclui pressão arterial, colesterol e diabetes. O seu médico, hoje, tem condição de especificamente determinar qual é o melhor nível de pressão de colesterol para qualquer pessoa que tenha risco ou não de doença cardiovascular, porque os alvos de ajuste de pressão, colesterol e diabetes podem variar de pessoa para pessoa.

É importante salientar que esses últimos três fatores não são percebidos pelo indivíduo, então, algumas pessoas costumam dizer que sabem quando tem pressão alta, que sabem quando o seu colesterol está alto, isso falha muito e a gente não pode confiar nessa percepção individual, que a pessoa acredita ter, mas sim em dados fidedignos, que são medidos através da medida de pressão arterial e da medida no laboratório dos níveis de colesterol e glicose, além de existirem muitos medicamentos hoje que são eficazes para tratar esses três aspectos.

Em resumo, cuidando de todos esses aspectos, a chance de a pessoa desenvolver doença coronariana ou cardiopatia isquêmica ou um infarto, que no fundo realmente são a mesma coisa, é o contínuo da mesma doença, fica muito reduzida.

Finalmente, eu queria chamar a atenção que as doenças cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente 40% da mortalidade da nossa população. Dito de outra forma, quem hoje lê essa coluna tem 40% de chance de morrer de doença cardíaca.

Por isso que é fundamental que todos nós nos cuidemos e tomemos as medidas adequadas e que se consulte o seu cardiologista para evitar o desenvolvimento de doença cardíaca que leve a um enfraquecimento definitivo do coração. Com isso, a gente vai conseguir viver por mais tempo e melhor.

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