Presente em todo o Brasil, a Anhanguera é uma das maiores redes de ensino do país. No entanto, a situação financeira da instituição não é clara. Condenada a pagar R$ 60 milhões a um empresário gaúcho, a rede busca por investidores para expandir por meio de franquias e a Cogna, grupo econômico proprietário da marca, tem ações em queda importante nos últimos anos.
Segundo a própria Anhanguera, em seu site, a empresa emprega mais de 15 mil profissionais e está presente em 22 estados com mais de 370 unidades. Só no Rio Grande do Sul, são 43 unidades.
Fundada em 1994, em São Paulo, a Anhanguera Educacional teve um importante processo de expansão no início do século. No período, o crescimento teve como uma de suas estratégias a compra de outras faculdades pelo Brasil. Uma dessas aquisições é o objeto do processo que gerou a dívida milionária.
Uma das empresas compradas pela rede paulista foi a Sociedade Educacional Noiva do Mar, tornando a Anhanguera mantenedora das Universidades Atlântico Sul Pelotas (transformada em Faculdade Anhanguera de Pelotas) e a Atlântico Sul Rio Grande (que passou a ser Faculdade Anhanguera Rio Grande). Ocorre que o grupo gaúcho pertencia a três sócios, entre eles o empresário Moacir Dalla Vecchia, que não recebeu a sua parte na transação e busca a reparação financeira, já determinada pela Justiça, em março de 2020.
Já em março de 2022, a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul negou, por unanimidade, a apelação em que a rede de ensino recorria da sentença. Em seu voto, o desembargador Guinther Spode, relator do caso, acolheu os valores pedidos pelo empresário gaúcho.
O valor corrigido, pelos cálculos da própria Anhanguera, em recurso movido em agosto deste ano chega a casa dos R$ 60 milhões. De acordo com o documento, o pagamento representa para a instituição “perigo eminente de dano de difícil reparação”.
A reportagem da RDC TV ouviu o advogado de Dalla Vecchia, Antonio Mario Sant Anna Bianchi, que revelou a dificuldade para que seu cliente receba a quantia determinada pela Justiça. “Desde o início do processo a Anhanguera vem tentando se furtar da responsabilidade e agora, no momento de executar a condenação judicial, fizemos uma pesquisa prévia e não encontramos bens para satisfação deste significativo valor”.
Ações despencam mais de 90% em meia década
Em 2014, a Anhanguera Educacional foi adquirida pela Kroton Educacional, marca que hoje pertence a Cogna Educação. Além da rede paulista, o grupo econômico também é proprietário de outras grifes importantes do mercado do ensino, como Unic, Uniderp e Unopar.
Fundada em 1966, em Belo Horizonte (MG), a Cogna é uma das empresas com maior valor de mercado no mundo. No entanto, esta realidade vem ficando mais distante a cada ano. Em 2016, dois anos após a compra da Anhanguera, o grupo fez uma oferta de R$ 5,5 bilhões para a aquisição da Estácio, mas a fusão não foi autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), por conta da concentração de mercado que seria gerada na operação, segundo a autarquia.
No ano seguinte, em 6 de outubro de 2017, as ações do grupo chegaram a ser negociadas por R$ 20,33. O otimismo, no entanto, não se manteve, e desde então, o valor segue em queda constante, chegando a R$2,31 nesta sexta-feira (18).
A expansão por meio de compras milionárias também não parece mais ser a realidade da instituição, que, em seu site, oferece parcerias com valores a partir de R$ 15 mil.
Nossa equipe também entrou em contato com o Cogna, questionando não apenas sobre o processo movido pelo empresário gaúcho, mas também sobre a saúde financeira da instituição. Por meio de sua assessoria de imprensa o grupo enviou a seguinte nota:
“A Anhanguera não comenta sobre processos judiciais em curso. No entanto, esclarece que a ação judicial se trata de demanda cuja responsabilidade financeira pelo pagamento, se houver, é dos Vendedores da Instituição adquirida pela Anhanguera no Município de Pelotas, RS.”