| Mélani Ruppenthal |
Em um dia tumultuado para o governo Bolsonaro, pelo menos dois ministros sinalizaram a intenção de deixar seus cargos nesta segunda-feira (29). Após pressões, Ernesto Araújo foi ao encontro do presidente no Palácio do Planalto para pedir a sua demissão em frente ao ministério das Relações Exteriores. Horas após o anúncio, Fernando Azevedo e Silva informou em nota oficial que está deixando a gestão como ministro da Defesa.
A reunião aconteceu de última hora no Planalto e não constava na agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro até o fim do encontro, com o chanceler cancelando compromissos com autoridades estrangeiras no dia de hoje. Ernesto passou pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty e vinha sendo contestado dentro e fora do governo. A saída de Araújo marca a retirada de um dos membros mais proeminentes da ala ideológica bolsonarista e serve como uma resposta ao Congresso, que vinha demonstrando insatisfação quanto a política externa adotada pelo governo.
O pedido de demissão também vem no dia seguinte a Araújo afirmar em um tuíte que a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), disse a ele no início de março que ele se tornaria o “rei do Senado” se fizesse “um gesto em relação ao 5G”, o que ele afirmou ter se recusado a fazer. A fala do chanceler gerou forte reação de Kátia Abreu e de vários senadores, entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), inflamando mais os ânimos.
Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse:
“Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.”
Não fiz gesto algum.— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) March 28, 2021
Quanto a Azevedo e Silva, o militar permaneceu por dois anos e três meses à frente do Ministério da Defesa. As Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) são vinculadas à pasta. Em sua nota informando a saída, não há explicações quanto aos motivos. Nos bastidores, o entendimento é que a demissão foi a partir de uma decisão do presidente Bolsonaro. Até o momento, não há nomes para a substituição.
Confira abaixo a íntegra do comunicado:
Nota Oficial
Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa.
Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado.
O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira.
Saio na certeza da missão cumprida.
Fernando Azevedo e Silva