Foto: Divulgação

Em 1971, o autor estadunidense William Peter Blatty publicou um livro de terror baseado em um caso que ocorreu nos Estado Unidos no ano de 1949. Era a história de um menino de 14 anos chamado Robert Mannheim, que após brincar com uma tábua ouija ganha de presente de sua tia viu sua vida mudar completamente, pois acabou virando um dos mais famosos casos de exorcismo.

William usou como base toda história e criou aquele que é considerado o romance definitivo sobre o tema, e que mal ele sabia se tornaria a obra máxima de terror da história do cinema. Em 1973 o filme “O exorcista” chega ao cinema no dia 26 de dezembro, ironicamente um dia após o nascimento de Jesus Cristo. Um lançamento que levou os espectadores a uma histeria coletiva, com desmaios, náuseas, alucinações e calafrios.

Porém, a produção foi tão problemática que até hoje a obra é considerada amaldiçoada, pois histórias macabras ocorreram ao longo de toda execução do projeto, como incêndios no set de filmagem, mortes no elenco, acidente com atriz durante a gravação de cena e até mesmo um serial killer de verdade fazendo uma ponta no filme como figurante. Ou seja, tinha tudo para dar errado.

Para encabeçar o projeto foi chamado o diretor William Friedkin, que já era um cineasta conhecido e premiado, em 1971 havia vencido o Oscar de melhor diretor pelo filme “Operação França”. O jeito difícil do diretor e seu perfeccionismo acabaram ajudando “O exorcista” a tomar uma forma realmente perfeita, pois de tanto discutir com o autor e roteirista do filme William Peter Blatty, o escritor acatou as dicas de Friedkin e reescreveu o roteiro.

A trama do filme segue quase que 100% aquilo que está nas páginas do livro, com poucas alterações. Na história temos Chris MacNeil (Ellen Burstyn), uma atriz conhecida que aos poucos vai tomando consciência que algo de errado está acontecendo com a sua filha. Tudo segue normal na sua vida, até que Regan MacNeil (Linda Blair), sua única filha, encontra uma tábua ouija no porão de sua casa e passa a brincar com a mesma.

Coisas estranhas passam a fazer parte do cotidiano de Regan, desde questões comportamentais até acontecimentos sobrenaturais, como a sua cama chacoalhar sem parar durante a madrugada. Tentando descobrir o porquê de isso tudo estar acontecendo, Chris procura os melhores médicos da cidade para levar a sua filha, e lá a menina passa por todos os exames possíveis, sem nenhum diagnóstico definitivo do que estava causando tudo aquilo.

Cabe mencionar a genialidade de O exorcista no quesito religião e ciência, e o motivo é bem simples e pode até passar despercebido. Na cena em questão, depois que tudo que estava ao alcance da medicina foi feito, o médico, Dr. Taney (Barton Heyman), pergunta para Chris se ela e sua família possuem alguma religião e indica até mesmo procurar um exorcista. Ou seja, de maneira sutil Friedkin mistura ciência e religião sem pesar mais ou menos para nenhum dos lados, deixando tanto Chris quanto o espectador angustiado com o que virá acontecer.

Sem saída, Chris decide procurar alguém para ver sua filha, partindo então em busca de Damien Karras (Jason Miller), um padre a quem pede ajuda. De início Karras acaba não acreditando muito que Regan possa estar possuída, pois acredita que o problema possa ser psiquiátrico. Porém as coisas passam a mudar ao longo do tempo, com Karras acreditando que um exorcismo é sim necessário para ajudar a menina.

É importante deixar registrado que não só as cenas de manifestações de possessão de Regan são assustadoras, mas também toda a construção de acontecimentos envolta dela que vai mostrando que o demônio Pazuzu está se apoderando do corpo da jovem. Agressões, insultos e cenas impactantes como a automutilação com um crucifixo englobam um pacote do que seria inimaginável se pensar em passar no cinema nos anos 70.

Depois de acreditar que tudo aquilo era real, Karras pede autorização da igreja para executar um exorcismo. O Vaticano indica que um segundo padre faça parte do ritual, alguém mais experiente que possa ajudar Karras. Um convite é enviado para Merrin (Max Von Sydow), para que viaje até a cidade de Regan e lidere o exorcismo.

Agora com tudo pronto é chegada a hora de exorcizar Regan, o que não será uma tarefa fácil para ambos os padres. Durante o processo, cenas marcantes ocorrem, como o vômito verde e o pescoço girando de Regan. Tudo começa a dar errado quando o demônio decide mostrar a sua força e mata padre Merrin de ataque cardíaco, fazendo com que Karras de uma maneira fora dos padrões de um exorcismo decida avançar em Regan pedindo para que o demônio o possua, o que acaba culminando com o seu suicidio quando sente que seu corpo foi possuído.

Podemos considerar feliz o final de “O exorcista” mesmo sendo um filme de terror. Mas acima de tudo devemos venerar uma obra atemporal que consegue ao longo de 50 anos ainda ser a principal referência do terror na história do cinema. Que me perdoem os inúmeros contribuintes dessa classe tão desrespeitados pelas premiações, mas o que Friedkin fez jamais será superado por nenhuma outra obra de possessão ou terror em geral.

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