O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que autoriza a ozonioterapia em território nacional. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União no último dia (7). A terapia com ozônio foi alvo de polêmicas durante a pandemia de covid-19 quando chegou a ser recomendada por políticos mesmo sem ter eficácia comprovada contra o vírus que causa a doença.
Para esclarecer dúvidas sobre o assunto, Paulo Viana entrevistou a Médica Dermatologista Rosemarie Mazzuco, Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – seccional RS, que responde aos principais questionamentos desse assunto.
O que é ozonioterapia?
A ozonioterapia é uma terapia alternativa que envolve a aplicação controlada de ozônio, uma forma ativa de oxigênio, para tratar várias condições de saúde. Ela é utilizada em várias formas, como a injeção de ozônio em áreas específicas do corpo ou a administração por via intravenosa. No entanto, sua eficácia e segurança continuam sendo objeto de debate na comunidade médica e científica.
Para que serve a ozonioterapia?
A ozonioterapia é frequentemente promovida como um tratamento complementar ou alternativo para uma variedade de condições médicas, incluindo inflamações, infecções, doenças circulatórias, musculoesqueléticas, e condições estéticas. Na odontologia, a ozonioterapia é utilizada no tratamento de cáries e outras infecções dentárias. No entanto, a eficácia da ozonioterapia não é amplamente aceita pela comunidade médica convencional e ainda carece de evidências científicas robustas para apoiar muitas de suas alegações. Antes de considerar a ozonioterapia, é importante consultar um médico para avaliar as opções de tratamento mais seguras e comprovadas.
Como é feita a ozonioterapia?
A ozonioterapia é realizada de diferentes maneiras, dependendo da condição a ser tratada. Algumas das formas mais comuns incluem:
- Insuflação retal ou vaginal: O ozônio é introduzido no corpo por meio do reto ou da vagina, alegadamente para tratar condições intestinais ou ginecológicas.
- Injeção local de ozônio: O gás de ozônio é injetado diretamente em áreas específicas do corpo para tratar inflamações, lesões musculares ou articulares.
- Auto-hemoterapia: Nesse método, uma certa quantidade de sangue é retirada do paciente, misturada com ozônio e, em seguida, reinjetada na corrente sanguínea. Isso supostamente melhora a oxigenação do sangue e estimula o sistema imunológico.
- Ozonoterapia sistêmica: O ozônio é misturado com o sangue do paciente e depois reintroduzido por via intravenosa, alegando ter efeitos positivos sobre várias doenças.
- Ozônio tópico: Óleos ozonizados podem ser aplicados topicamente na pele para tratar feridas, infecções cutâneas ou inflamações.
O que dizem as pesquisas sobre ozonioterapia?
As pesquisas sobre ozonioterapia têm sido controversas e os resultados variam amplamente. Embora alguns estudos sugiram benefícios potenciais em certas condições, a maioria das pesquisas não fornece evidências científicas sólidas e consistentes para apoiar o uso generalizado da ozonioterapia. Muitos dos estudos disponíveis têm limitações metodológicas, como amostras pequenas, falta de grupos de controle adequados e falta de rigor científico.
Algumas das conclusões encontradas nas pesquisas incluem:
- Efeitos positivos: Alguns estudos indicaram que a ozonioterapia pode ter efeitos benéficos em certas condições, como no tratamento de úlceras diabéticas, feridas crônicas, dor lombar e doença arterial periférica.
- Falta de evidências consistentes: Para muitas condições, incluindo doenças cardiovasculares, doenças autoimunes e câncer, as evidências científicas são insuficientes ou inconsistentes para apoiar o uso da ozonioterapia como tratamento eficaz.
- Riscos e preocupações: Muitos estudos também destacam os riscos potenciais da ozonioterapia, incluindo efeitos colaterais adversos, riscos de infecção e falta de regulamentação. Em geral, a comunidade médica e científica tende a ser cética em relação à ozonioterapia devido à falta de evidências robustas e à preocupação com a segurança dos pacientes. É importante consultar fontes confiáveis e discutir as opções de tratamento com profissionais de saúde antes de considerar a ozonioterapia ou qualquer outra forma de terapia alternativa.
Qual o posicionamento do conselho federal de medicina sobre a ozonioterapia?
O Conselho Federal de Medicina (CFM) no Brasil não reconhece a ozonioterapia como uma prática médica com eficácia cientificamente comprovada. O CFM e outras instituições médicas costumam basear suas posições em evidências científicas sólidas e rigorosas, e até então, a ozonioterapia não tem sido amplamente aceita devido à falta de estudos clínicos bem conduzidos que demonstrassem sua eficácia e segurança.
O que diz a lei?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o ozônio como “um gás com forte poder oxidante e bactericida”. Os equipamentos de ozonioterapia aprovados pela ANVISA somente possuem indicações de uso para tratamento da cárie; periodontia; endodontia; cirurgia odontológica, além da aplicação estética para auxiliar a limpeza e assepsia de pele.
A ozonioterapia é oferecida pelo SUS?
Não, a ozonioterapia não é disponível no SUS.
A ozonoterapia pode oferecer risco à população?
A ozonioterapia apresenta vários riscos e preocupações de segurança, que incluem:
Efeitos colaterais: Pode causar efeitos colaterais como irritação das vias respiratórias, tosse, dor de cabeça, náuseas e tonturas.
- Risco de infecção: Procedimentos que envolvem a introdução de ozônio no corpo, como injeções ou insuflações, podem aumentar o risco de infecção.
- Reações alérgicas: Algumas pessoas podem ser alérgicas ao ozônio, o que poderia levar a reações alérgicas graves.
- Danos nos pulmões: A inalação de ozônio em altas concentrações pode causar danos aos pulmões, piorando condições respiratórias existentes.
- Risco de embolia: A ozonioterapia intravenosa pode criar bolhas no sangue, aumentando o risco de embolia, que é a obstrução de um vaso sanguíneo por um coágulo ou bolha de ar.
- Falta de evidência científica: A eficácia da ozonioterapia para muitas condições ainda não é apoiada por evidências científicas sólidas.
- Falta de regulamentação: A ozonioterapia não é amplamente regulamentada em muitos países, o que pode levar a práticas inseguras ou inadequadas.