Foto: Marcelo Casal Jr. /Agência Brasil

O último dia 29 de outubro foi marcado pelo Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, o AVC é uma das principais causas de morte no Brasil, só este ano, já vitimou mais de 77 mil pessoas, de acordo o Portal da Transparência do Registro Civil, mantido pela ARPEN Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).

Chamando a atenção para conscientizar a população acerca da importância da prevenção, Paulo Viana entrevistou o Dr. Luiz Felipe de Alencastro, Gestor do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre,  que respondeu algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.

O que é AVC?

Um AVC, ou Acidente Vascular Cerebral, é uma condição médica que ocorre quando o fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro é interrompido, seja devido a um coágulo que obstrui uma artéria (AVC isquêmico) ou a um ruptura de uma artéria cerebral, provocando sangramento (AVC hemorrágico). O dano ao tecido cerebral pode provocar uma séria de sintomas. O tratamento o mais precoce possível é essencial para reduzir os danos em um AVC.

O que causa um AVC e quais os fatores de risco?

Existem diversos fatores de risco que podem favorecer a ocorrência de um avc, mas alguns se destacam. O mais reconhecido é a hipertensão arterial sistêmica, pois sabidamente provoca a médio prazo dano à parede das artérias, especialmente as artérias cerebrais, favorecendo o entupimento ou ruptura das mesmas.

Outro fator bem conhecido e comum é o tabagismo, pelo mesmo motivo que a hipertensão arterial, por provocar dano à parede das artérias. Pessoas com diabetes, colesterol elevado e obesas também apresentam maior risco de desenvolver um AVC.

O aumento do sedentarismo da população mundial tem contribuído para a elevação dos índices de AVC, pois torna o individuo mais propenso aos fatores descritos acima.

Finalizando, também foram identificados como fatores que aumentam o risco de AVC: consumo excessivo de álcool, história familiar de AVC, idade avançada, arritmia cardíaca, uso de contraceptivos orais, dentre outros.

Quais são os sinais de AVC?

Os sinais de um AVC são bastante diversos e dependem da importância da artéria acometida, sendo frequentemente mais grave e com sequelas mais importantes, quanto maior for a representação da artéria danificada. Os principais de um AVC são: redução de força ou dormência em um membro ou de um lado do corpo, dificuldade de fala, perda de coordenação motora, dor de cabeça atípica e tontura. Uma característica do AVC é que estes sinais e sintomas se apresentam de forma súbita, e muitas vezes pode ser percebidos  após o despertar do paciente.

Qual a diferença entre AVC isquêmico e hemorrágico?

Como descrito acima, o AVC isquêmico se caracteriza pela obstrução de uma artéria, causando falta de irrigação do cérebro (isquemia). Já o AVC hemorrágico ocorre devido à ruptura de uma artéria no cérebro, com formação de um coágulo e destruição do tecido cerebral pelo mesmo.

Como é o diagnóstico?

O diagnóstico do AVC começa pela pronta identificação dos sinais e sintomas descritos acima. É fundamental que a população esteja treinada a reconhecer rapidamente os sinais clínicos de uma AVC para que o paciente seja atendimento o mais rápido possível. No AVC, todo minuto conta. Quanto mais rápido for o atendimento, mais chance se tem de diminuir as sequelas provocadas pelo mesmo.

Uma vez identificados os sinais clínicos, o paciente deverá ser submetido a um exame  de tomografia computadorizada ou ressonância magnética do cérebro para determinar a exata causa do AVC. A investigação muitas vezes deverá ser complementada por outros exames de sangue, por ecografia das artérias cervicais ou ecocardiografia, dentre outros.

Como é feito o tratamento do AVC?

O tratamento do AVC irá variar de acordo com a fase em que o mesmo for diagnosticado, bem como o tipo de AVC (isquêmico ou hemorrágico). Como já comentado, quanto antes for iniciado o tratamento, mais chances de bons resultados.

De forma simplificada, na fase aguda do AVC isquêmico, o cuidado concentra-se na tentativa de se reestabelecer o fluxo sanguíneo na área afetada. Para isso pode ser aplicada a técnica de trombólise (aplicação de medicação endovenosa que possibilita desmanchar o coágulo) ou a trombectomia (retirada do coágulo por meio de um cateter intra-arterial).

Caso o AVC seja do tipo hemorrágico, o tratamento visa especialmente avaliar a necessidade de remoção do coágulo por via cirúrgica.

Quais são as sequelas do AVC?

As principais sequelas de uma AVC são motoras e de linguagem; dentre as dificuldades motoras, a mais comum é a restrição ou perda de determinados movimentos de um membro ou de uma lado inteiro do corpo, podendo também haver incoordenação motora.

Já no aspecto linguagem, o indivíduo pode apresentar dificuldade de expressar-se verbalmente, ou em casos mais graves, de compreender o que lhe é dito.

Outras sequelas frequentes são: piora cognitiva, piora da visão, dificuldade para deglutir, perda do controle urinário, alterações de personalidade, depressão ou espasticidade muscular.

O que fazer ao identificar um AVC?

A primeira coisa ao identificar um AVC é garantir que o paciente seja, o mais breve possível, levado a atendimento médico, de preferência, em local capacitado para o atendimento de um AVC. No tratamento de qualquer forma de AVC todo minuto conta. Todo o atraso no início do tratamento pode representar sequelas mais profundas.

Uma pessoa pode sofrer mais de um AVC?

Sim, com certeza. Pessoas que já sofreram uma AVC tem maior chance que a população em geral de desenvolver um novo AVC. Por isso, é fundamental depois da fase aguda de tratamento, que se identifiquem e se corrijam todos os fatores de risco que levaram aquela pessoa a desenvolver um AVC.

Por que os casos de AVC têm crescido entre os mais jovens?

O aumento dos casos de AVC em pacientes jovens se deve a uma série de fatores sócio-comportamentais que tem sido cada vez mais presentes nesta subpopulação: obesidade crescente na população jovem, tabagismo, piora progressiva da qualidade na rotina alimentar, sedentarismo, uso de drogas lícitas e ilícitas, uso de contraceptivos orais mais precocemente, etc.

O que pode ser feito para prevenir o AVC?

O controle de fatores de risco é a melhor estratégia para prevenção de um AVC, passando necessariamente por adoção de hábitos saudáveis: controle da pressão arterial e das taxas de colesterol, monitoração da taxa de glicose, atividade física regular, alimentação saudável, tabagismo zero e acompanhamento médico de forma regular.

Sempre é bom lembrar que a conscientização e educação permanente da população tem papel essencial na prevenção de novos casos de AVC.

 

*Os conteúdos desta coluna têm caráter informativo e não substituem a consulta com um médico.

Compartilhe essa notícia: