| Lívia Rossa |

Um dos problemas identificados pela pandemia do novo coronavírus foi o aumento na compra de medicamentos nas farmácias. A automedicação é um problema sério no Brasil, influenciada, até mesmo, por questão cultural da população que compra remédios sem considerar que, embora muitos não necessitem de receita, são igualmente drogas cujo uso deve ser ponderado.

Em pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) por meio do Instituto Datafolha, foi constatado que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses anteriores ao estudo, feito em 2019. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.

De acordo com o levantamento, houve aumento significativo nas vendas de medicamentos relacionados à Covid-19 nos três primeiros meses deste ano, quando aumentaram os casos da doença, em comparação ao mesmo período do ano passado.

O consumo de vitaminas, analgésicos e antitérmicos disparou desde a chegada da Covid-19. Em primeiro lugar na venda de medicamentos está a comercialização da Vitamina C, ou Ácido Ascórbico, considerada pela população como “prevenção”. Embora contribuam para a melhora da imunidade, não há evidências da medicação no combate do novo coronavírus.

O uso de Hidroxicloroquina Sulfato também cresceu 67,93%, com 388.829 vendas em 2020. Em 2019, houveram 231.546 vendas do medicamento.

Orientação dos farmacêuticos na hora da compra de remédios previne complicações de saúde

A preocupação das entidades farmacêuticas está centrada, principalmente, no uso indevido e indeferido de medicação. Sem saber se os medicamentos estão sendo utilizados de forma correta ou se está havendo orientação em relação ao que se pode ou não usar.

O vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF-RS) Tarso Bortolini reforça que a orientação dos farmacêuticos nos estabelecimentos é essencial. O serviço, que é gratuito, pode prevenir o desencadeamento de problemas decorrentes de medicações utilizadas de forma errada.

O representante afirma que nunca foi tão importante as pessoas tirarem suas dúvidas em relação às medicações, principalmente em meio à pandemia. O coronavírus, doença em evidência, pode confundir os pacientes sobre determinados sintomas – que se manifestam de forma diferente em cada pessoa – e, na busca por automedicação, uma decisão não acertada pode trazer sérias consequências. “Cada pessoa é uma pessoa, cada situação é individual e cada interpretação de sintoma se manifesta de forma diferente em alguém”, afirma Bortolini.

O profissional de farmácia, nesse sentido, pode auxiliar quem está com dúvidas e, até mesmo, encaminhar para um médico se julgar necessário. “As pessoas não estão acostumadas a solicitar a ajuda do farmacêutico, mas às vezes o profissional identifica que o cliente precisa de orientação e ajuda prevenir uma decisão errada”, afirma Bortolini.

O uso de medicação sem conhecimento prévio tem gerado discussões desde o início da pandemia. É o caso da Hidroxicloroquina, cujo uso causou controvérsias até que fosse provada a ineficiência da medicação para pacientes.

A utilização medicamentosa ainda está em discussão na comunidade acadêmica, mas, mesmo sem a comprovação, tirou dos pacientes com doenças crônicas a possibilidade de encontrar medicações cujo uso é contínuo, como no caso das doenças lupus, artrite e reumatismo. Esse é o problema da falta de informação e da ausência de consulta direta com um profissional da área da saúde, diz Bortolini.

O vice-presidente afirma que é importante saber distinguir o uso irresponsável de medicação e o uso com orientação, sem culpabilizar, necessariamente, os remédios. “Não é uma questão de dizer o que se deve tomar ou não, mas ter uma prescrição de um médico ou orientação de um farmacêutico, ou seja, para orientar os pacientes com conhecimento necessário na hora que forem tomar remédios”, afirma.

Crédito foto: Laurynas Mereckas/ Unsplash/Divulgação/RDCTV

Compartilhe essa notícia: