| Lívia Rossa |

Com a crise econômica agravada durante a pandemia, muitos trabalhadores negros, principalmente os residentes em periferias, que já se encontravam em empregos precarizados, sofreram com a perda de emprego ou redução de salários.

Sendo assim, quando alguma oportunidade surge, muitos se arriscam para conseguir se manter e não têm a possibilidade de fazer quarentena. A angústia, para além do dinheiro, acaba se acumulando também em relação às incertezas com a Covid-19, influenciando na saúde mental dessas pessoas.

Segundo a presidenta e psicóloga das Comissões de Relações Étnico-Raciais e de Comunicação do Conselho Regional de Psicologia do RS, Roberta Gomes, saúde mental é um conceito que envolve não só a presença ou não de uma patologia, mas, principalmente, a relação social e afetiva que o indivíduo possui com o ambiente onde está inserido, bem como, a sua capacidade de tomar decisões em relação aos mais variados âmbitos da vida.

Nesse sentido, de acordo com a psicóloga, a pandemia escancara o racismo existente na sociedade, dando destaque para as dificuldades enfrentadas por pessoas que vivem na periferia. Outro desafio, segundo ela, está no acesso à psicoterapia, que ainda é bastante restrita. “O acesso a profissionais da Psicologia ainda é bastante elitizado e as pessoas que necessitam e estão na periferia acabam não recebendo atendimento”, afirma a presidente.

Roberta diz que a saúde mental das pessoas em condições de vida mais vulneráveis é atravessada pela luta diária por sua sobrevivência e acesso a direitos básicos. “Esse grupo pode acabar tendo a sua saúde mental mais vulnerável pois, além da sobrevivência econômica, precisam se preocupar com a sobrevivência literal que envolvem casa, alimentação, educação e saúde”, afirma.

Em meio à pandemia, o isolamento social acaba sendo privilégio para poucos e o contexto dramático se acentua. “As pessoas ficam sem opção, ou elas saem para trabalhar com o risco de contrair o vírus ou ficam em casa, protegidos, mas sem comer”, afirma a psicóloga. Por conta disso, a pressão psicológica faz com que essas pessoas apresentem sintomas de saúde mental abalada, como ansiedade e depressão.

Para tentar sanar a carência de políticas públicas que tornem tratamento de saúde mental mais efetivo para pessoas que vivem em periferias, Roberta integra um grupo de profissionais negros da área da saúde, que atendem a população negra, proporcionando acesso a esses serviços até mesmo para aqueles mais vulneráveis. Ela lamenta que as ações acabem sendo muito individualizadas, em número reduzido, mas considera a iniciativa importante do ponto de vista social e de representatividade.

Sob a ótica de desconstrução do racismo, Roberta acredita que para mudar a situação também é importante um reconhecimento das pessoas brancas sobre seus privilégios e a disposição para perceber as vantagens da branquitude, como acesso à educação e à saúde.

“Somos criminalizados por sermos negros, mal atendidos em lojas, recebemos salários reduzidos. Diariamente nas favelas jovens são mortos ou presos apenas por serem pretos e tudo isso se coloca porque o racismo é estrutural”, afirma.

Ela acrescenta que, embora o debate do racismo esteja evidenciado, o racismo no Brasil é uma realidade na vida de pessoas negras e não diz respeito, somente, a atos violentos específicos. Assim, a psicóloga atenta às vantagens que os brancos possuem em relação aos negros, simplesmente, pela cor da pele e acredita que o debate é importante para desconstruir a discriminação.

Crédito foto: CRPRS/ Divulgação/ RDC TV

 

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