| Alice Ros |
Após suspensão dos testes da vacina Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), anunciada na segunda-feira (09), o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que a decisão causa “surpresa, insegurança e, no nosso caso, até indignação”.
Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (10), Covas alegou que o Butantan teve conhecimento da resolução através da imprensa. De acordo com a Anvisa, a medida foi tomada após a morte de um voluntário, descrita pela agência como um “evento adverso grave”. Os testes com o imunizante estavam na fase 3, estágio mais avançado nesse tipo de pesquisa.
“Suspenderam o estudo, causaram medo nas pessoas, fomentaram um ambiente que já não é muito propício pelo fato dessa vacina ser feita em associação com a China. Fomentar isso a troco de quê? Não seria mais justo ligar e falar que reunião estava marcada pra esclarecer isso. Não seria mais justo, ético e compreensível?”, disse Covas.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, a paralisação ocorreu por questões técnicas. “Diante de informações incompletas, a área técnica só tem uma decisão a tomar [de suspender a pesquisa]. Nos desenvolvimentos têm eventos adversos, como dor ou vermelhidão. E tem graves, que vão desde internação com risco, sequela e até mesmo ao óbito”, justificou Barras.
Pelo acordo de confidencialidade firmado com os voluntários e “em respeito aos seus familiares e amigos”, a vítima foi identificada como um voluntário do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP. O falecimento teria ocorrido 25 dias depois dos testes. Até o momento, não foi informado se o paciente recebeu vacina ou placebo.
Entretanto, conforme apuração levantada pelos veículos UOL e CNN, a morte do voluntário não tem ligação com a vacina. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo alegou que investiga o caso como suicídio. “Foi registrado e é investigado como suicídio pelo 93º DP (Jaguaré). Exames periciais estão em andamento e mais detalhes não serão divulgados até a conclusão dos laudos técnicos para não atrapalhar as investigações”, aponta.
A Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, continuará sendo testadas na China e na Indonésia, onde a farmacêutica Bio Farm administra testes com 1,6 mil participantes. Em comunicado, a empresa indicou que “vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina”.
Sobre o posicionamento da Anvisa, Covas espera que a agência mantenha os critérios técnicos. “Não quero acreditar que esse episódio represente alguma mudança [na postura técnica. Vou atribuir isso a uma dificuldade de comunicação, preocupação exagerada e fatores que podem ser resolvidos rapidamente. Quero acreditar que a Anvisa seja técnica e independente. Desde a sua constituição, essa independência e parte técnica do órgão é fundamental”, disse o presidente do Instituto Butantan.
Foto: NG HAN GUAN / AP