Com a presença de representantes das etnias indígenas Guarani e Kaingang, a Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), lançou o Projeto Valorizando a Arte Indígena. A solenidade aconteceu na tarde de sexta-feira (1/9), no espaço Multiuso da Casa da Emater na Expointer.
O lançamento do projeto foi feito pela extensionista e coordenadora de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) da Emater/RS-Ascar, antropóloga Mariana Soares.
O objetivo do projeto é contribuir para o reconhecimento e a valorização da arte indígena no Rio Grande do Sul. “A arte é patrimônio cultural dos povos tradicionais e a carteira de artesão, um direito”, ressaltou Mariana, ao defender o artesanato como uma importante fonte de renda para uma população hoje superior a 36 mil indígenas das quatro etnias (Mbyá Guarani, Kaingang, Charrua e Xokleng Konglui) que vivem no Estado, segundo o mais recente censo demográfico do IBGE, de 2022.
“A essas comunidades deve ser dado espaço e oportunidade para terem maior visibilidade e renda em feiras como a Expointer e tantas outras realizadas no Rio Grande do Sul”, afirma o diretor do Departamento Agrário, Pesqueiro, Aquícola, Indígenas e Quilombolas da SDR, Maurício Neuhaus. Essa presença e a valorização dos povos indígenas fazem parte das metas dos planos plurianuais da secretaria. “Temos novos propósitos para 2024”, antecipou.
Respeito e valorização
Kaingang de Iraí, vivendo com outras cinco famílias indígenas no bairro Boa Vista do Sul, na zona Sul de Porto Alegre, Vicente Mendes Castoldi se emocionou ao falar sobre a luta diária dos indígenas por visibilidade e respeito. “Na arte, expressamos nossa maneira de viver. O grafismo da arte tem a história de uma nação indígena. Somos uma nação, cidadãos desse país, e o grafismo, notem, está na roupa do gaúcho, e o povo indígena sequer é reconhecido”, disse, ao citar a erva-mate, “recentemente considerada símbolo do Rio Grande do Sul, e que é patrimônio indígena”, reafirmou. “A sociedade tem que entender que a nossa forma de viver é diferente, inclusive na educação.”
O cacique Sérgio Gimenes, da terra indígena Guarani Kuaray Rese (Sol Nascente), de Osório, também pediu um olhar diferente e respeito à cultura indígena. “Os trajes gaúchos, por exemplo, não existiria cultura gaúcha sem os indígenas”, observou. Ele citou o tiro de laço, prova em que o participante monta o cavalo e precisa laçar o boi que é solto à sua frente, como uma tradição da etnia Charrua. “Somos um povo que resiste. Nosso jeito de trabalhar e a expressão da nossa cultura não serão apagados. O respeito é valioso para nós”, salientou Gimenes.
Da terra indígena Nonoai Rio da Várzea, na região do Alto Uruguai, veio para o lançamento o Kaingang Lauri Ribeiro. É a primeira vez que participa da Expointer, e seu interesse é conhecer como se comporta e como são tratados os indígenas na organização da feira. “Agradeço o empenho das instituições em valorizar o artesanato, produzido mais pelas mulheres, que confeccionam e saem para vender. Estou aqui para lutar junto, mas a agricultura familiar indígena, que produz sementes não indígenas, também quer ter espaço nessas grandes feiras”, sugeriu.
Com a filha Samantha, quatro meses, no colo, a Guarani Cristiane Benitez da terra indígena do Cantagalo, de Viamão, lamentou as críticas que recebe. “Não é fácil viver nossa realidade. Sofremos muito com tudo que tá acontecendo e, mesmo assim, saímos para a cidade para vender e algumas vezes somos expulsos dos locais. Mas qualquer lugar é de todos nós”, expressa a indígena, ao agradecer a todos que estão ajudando os indígenas, como a Emater/RS-Ascar. “Sem a Emater, não teríamos esses espaços para vender”, disse. Ela citou a sua tia, Elza Chamorro Benitez, da Terra Indígena Alvorecer, de São Miguel das Missões, que participa da Expointer vendendo cestarias, e que tem uma atuação bastante forte com mulheres indígenas Guarani mais jovens.
Para a extensionista e antropóloga Mariana, o artesanato indígena é como uma religião. “Temos que cultuar e avançar nessa valorização”, disse, ao destacar os espaços de comercialização do artesanato indígena durante a Expointer, que pode ser adquirido no Pavilhão da Agricultura Familiar.