| Lívia Rossa |

O afroempreendedorismo é uma vertente importante para os empresários do Brasil já que a população negra representa a maioria entre os microempresários no país. Dentro deste cenário, o “Odabá” surgiu no Rio Grande do Sul, inicialmente como uma vertente do Rede Brasil Afroempreendedor (REAFRO), mas que atualmente ganha espaço como uma iniciativa independente para apoiar os empreendedores regionais. O nome, em linguagem iorubá, significa empresário.

Reforçando a ideia de acolhimento, a Odabá preza por uma comunidade que profissionaliza e muda vidas por meio da qualificação empreendedora, do trabalho contra crenças limitantes e através da valorização da produção cultural. Entre os objetivos está o fomento do empreendedorismo negro e a prestação de consultoria a pessoas que queiram abrir o seu negócio, mas não sabem como; o mesmo vale para quem já têm uma empresa, porém necessita de mais notabilidade ou de formalização. Ao total são beneficiados 200 empreendedores, nos mais variados nichos de atuação. 

Os trabalhos acontecem, então, por meio de parcerias que direcionam parte de seus serviços para afroempreendedores, como cursos que possam ensinar educação financeira, entre outros assuntos.

A vice-presidente da Odabá Itanajara Almeida diz que o empreendedorismo é uma cultura entre os negros, que acompanham suas famílias abrindo e gerenciando o próprio negócio desde pequenos. Ela alega, no entanto, que existem impasses na hora de ingressar no mundo do empreendedorismo por conta da falta de oportunidades levando muitas pessoas negras a entrarem no mercado de trabalho formal por necessidade, adiando ou cessando o desejo de empreender. 

Por experiência própria, Itanajara, que também é empreendedora e dona de um salão de beleza, diz que a luta por reconhecimento é constante. Ela, que abriu negócio específico voltado para beleza afro, sente que demorou muito tempo para se estabelecer como empresária no bairro Bom Fim, pois se sentia muito hostilizada. Hoje, mesmo depois de oito anos, afirma que o público que frequenta o estabelecimento é quase todo de fora do bairro onde está inserido. 

Diante do cenário, a dirigente afirma que a conexão entre os empreendedores negros por meio da associação é importante, já que, juntos, eles criam uma rede de apoio. “Não só temos impedimentos para entrar no mercado de trabalho, mas também para estar no ensino superior. Esse processo faz que com fiquemos à margem e, assim, é importante que diante das dificuldades sejamos um grupo unido nos negócios”, reitera Itanajara. 

Mesmo os negros sendo 56% da população brasileira, Itanajara afirma que a invisibilidade é um grande problema e que iniciativas acabam sendo criadas para tentar barrar os efeitos da desigualdade. É o caso do “Black Money”, ação  que estimula circulação econômica entre empresas lideradas por negros.

“O fortalecimento entre os afroempreendedores por meio da troca de experiência nos negócios nos fortalece”, afirma Diego Dias, dono da “Implicantes”, primeira fábrica de cerveja do Brasil administrada somente por negros.

“Implicantes” é primeira fábrica de cerveja do Brasil administrada somente por negros/ Crédito foto: Implicantes/Divulgação/RDC TV

Após identificar no mercado cervejeiro a falsa ideia de representatividade, Dias, junto do irmão Daniel Dias e do primo Thiago Rosário, resolveu criar rótulos que problematizem expressões ou representações racistas. “Víamos as cervejarias tentando homenagear os negros sempre vinculando às cervejas escuras. Além disso, nos rótulos, os negros eram representados através de figuras caricatas, como jogadores de basquete”, lembra Dias.

O ponto de partida foi reverter o símbolo da marca, um gato preto (costumeiramente associado  ao azar pela sua cor) em um atributo positivo. Depois, a conscientização contra o racismo continuou com o questionamento de termos como “nas coxas”, “a dar com pau” ou “denegrir”, assuntos dificilmente debatidos durante um happy-hour.

“Por sermos a primeira fábrica é nosso dever discutir muitos problemas que estão enraizados em nossa sociedade”, reitera o dono da Implicantes. Para Dias é importante reverter hábitos como apelidar, em uma roda de amigos, pessoas negras como “negão” sem nem saber se a pessoa se sente à vontade com a denominação, questão também debatida por meio dos rótulos.

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