No inverno, o risco de infarto pode ser até 30% maior do que em outras épocas do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia, principalmente em pessoas que apresentam fatores de risco.
Para esclarecer eventuais dúvidas sobre o tema Paulo Viana entrevistou o cardiologista Fábio Cañellas, chefe do Serviço de Métodos diagnósticos por imagem de Cardiologia da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da SOCERGS de 2022 a 2023, que respondeu algumas das perguntas mais frequentes.
O que é infarto agudo do miocárdio (IAM)?
O infarto agudo do miocárdio pode levar uma pessoa imediatamente à morte com a chamada parada cardíaca. O infarto ocorre quando o fluxo sanguíneo do músculo cardíaco é interrompido, necrosando tecidos do coração. Isso ocorre por conta de outra obstrução, no caso de uma artéria coronária devido a um coágulo de sangue sobre a placa de gordura presa em sua parede.
Quais são os tipos de infarto?
Em termos de extensão, temos o infarto que acomete toda espessura da parede do músculo cardíaco, chamado Infarto Q, e o infarto não transmural. O médico consegue identificar estes tipos pelo eletro, exame de sangue e a conversa com o paciente.
Podemos dividir em cinco tipos de infarto. O tipo 1 é caracterizado pelo impedimento da passagem de sangue por uma artéria. No tipo 2, o músculo do coração passa a ser menos irrigado, e o oxigênio não dá conta da demanda exigida no momento. O tipo 3 é conhecido por infarto fulminante, aquele que leva à parada cardíaca e ao óbito na hora. Neste caso, soma-se a obstrução do músculo cardíaco e a falta de oxigênio. O infarto do tipo 4 é aquele que ocorre em pacientes que já passaram por uma angioplastia das artérias coronárias (esse procedimento visa desobstruir os vasos sanguíneos).
Um novo infarto pode ocorrer logo após uma angioplastia por haver uma nova obstrução, por exemplo. E finalmente, temos o do tipo 5: que tem relação direta com a revascularização cardíaca, ou seja, a conhecida Ponte de Safena. Em linhas gerais, é realizada uma ligação artificial entre a artéria e a aorta, propiciando o fluxo sanguíneo, descartando a parte obstruída. Mesmo assim, é possível ocorrer um infarto, caracterizando o do tipo 5.
Os principais fatores de risco para o infarto?
Fazer as consultas regulares ao seu cardiologista de confiança é uma forma segura de prevenção. Digo isso porque é na consulta clínica e com alguns exames, que serão solicitados, que iremos descobrir o que não está funcionando como deveria no seu organismo do paciente. É também neste momento que serão verificados alguns hábitos danosos à saúde como: o tabagismo, a obesidade, o sedentarismo, a alimentação inadequada… Para esses comportamentos ruins também é possível ter um tratamento.
Hoje, já há medicamentos bastante eficientes para o tabagismo, por exemplo. É importante destacar que pessoas que têm na família pais ou mães que tiveram infarto, precisam ter cuidados redobrados e começar a fazer consultas com seu cardiologista dez anos antes do primeiro episódio ocorrido com seu familiar.
Quais são os primeiros sintomas de um infarto?
O mais comum é a dor forte no peito, em aperto, podendo ou não se irradiar para braços, mandíbula e dorso. O formigamento no braço esquerdo, a dor na nuca e pescoço são bem característicos também. Algumas pessoas podem apresentar dores nas costas, suor frio e mal-estar generalizado, náuseas e até desmaios.
Os sinais de infarto são diferentes em homens e mulheres?
No homem o mais comum é a dor no peito. Já na mulher, nem sempre. Elas queixam-se mais de dores nas mandíbulas, também relatam um grande cansaço eminente, dor no estômago ou sensação de ter comido demais e sentem calor. O fato é que é preciso que ambos, tanto homens quanto mulheres, fiquem atentos aos sintomas do seu organismo. Ter consultas regulares com um cardiologista e manter hábitos saudáveis ajuda muito, pois, se houver alguns sintomas negativos será mais facilmente identificado e tratado.
O infarto pode acontecer em pessoas jovens?
Cada vez mais temos visto pacientes jovens infartando, já com 35 anos por exemplo. São indivíduos com diabetes, obesidade, ou tabagismo desde a adolescência, ou com dislipidemia hereditária (colesterol elevado) principalmente. Vale destacar que pacientes jovens com diabetes ou hipertensos também devem ter um cuidado maior.
Qual o tratamento para infarto?
Será avaliado cada caso, podendo variar de uso de medicações para desobstruir imediatamente a artéria, implante de Stents para dilatar o vaso, ou cirurgia de urgência. Saliento também os cuidados pós-infarto que envolvem tratamento medicamentoso, com anticoagulantes ou anti-hipertensivos; de mudanças de hábitos e também pode ser indicada uma cirurgia. Trata-se de um paciente que precisará de uma maior atenção.
Por que as pessoas enfartam mais no inverno?
Com a queda da temperatura, o coração tende a trabalhar mais, as veias e as artérias fazem mais constrição. Com isso, existe uma maior incidência de angina – a dor no peito, e pode haver mais risco de infarto. A literatura médica relata algo em torno de 30% a mais do que em outras épocas do ano.
O infarto pode ser hereditário?
Quando é feito a anamnese de um paciente, é fundamental ser investigado o histórico familiar de doenças. No que diz respeito ao infarto, essa informação é primordial, pois se pode orientar comportamentos e tratamentos futuros desse paciente. Além da genética, também se leva em consideração os fatores congênitos, ou seja, doenças que nascem com o paciente.
Como ajudar uma pessoa que está tendo um infarto?
Deve-se chamar imediatamente o Samu, número 192. Enquanto chega ajuda profissional, fique calmo e deixe o paciente mais tranquilo possível. Deixe-o em posição confortável, verifique a respiração e o pulso da pessoa. Se o contato for feito com o Samu, certamente orientarão adequadamente em cada caso.
A partir de qual idade consultar um cardiologista é importante?
A orientação padrão é a partir dos 45 anos iniciar consultas regulares, normalmente, anuais, ao cardiologista, mas eu sugiro uma primeira Revisão aos 30 anos.
Dicas para evitar problemas cardíacos durante o inverno
Primeiro, não se deve deixar de fazer exercício físico, apenas é preciso estar adequadamente agasalhado, preferir fazer exercícios no momento mais quente do dia, manter a alimentação saudável, preferir sopas com verduras do que as muito gordurosas, com queijos ou cremes.