O Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), de Camaquã, no Centro-Sul do Rio Grande do Sul, confirmou, na quarta-feira (24), a morte de três pacientes diagnosticados com Covid-19 que foram nebulizados com hidroxicloroquina.
Em nota, a instituição confirma que a médica Eliane Scherer foi responsável por administrar, por via inalatória, “uma solução com Hidroxicloroquina, de procedência desconhecida, não prescrita em prontuário, manipulada pela própria médica”. O tratamento experimental e sem comprovação científica foi aplicado em pacientes da emergência.
Três dos quatro pacientes internados que fizeram nebulização com hidroxicloroquina tiveram taquicardia ou arritmia após a nebulização com a solução. Segundo o HNSA, “por se tratar de um tratamento sem comprovação científica, o Hospital não pode afirmar que houve relação direta entre os óbitos e a inalação com HCQ”. A instituição também afirmou que “não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes” e que “os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento”.
O caso foi denunciado ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina.
A médica Eliane Scherer é contratada de uma empresa que presta serviço ao pronto-socorro da unidade. Segundo o hospital, não há vínculo direto com a instituição. Scherer atuava no hospital desde março de 2020. Até o dia 10 de março de 2021, a profissional integrava a escala médica do pronto-socorro. Na denúncia, o HNSA apontou 17 infrações éticas supostamente cometidas pela médica.
A pedido da direção do hospital, a médica foi afastada da escala após ter tentado obrigar a equipe assistencial a administrar o medicamento. O hospital relata que houve grande mobilização por conta dos pacientes em torno do desligamento da profissional.
A nota do HNSA explica que “diante do ocorrido, a referida médica passou a ofertar o tratamento aos familiares e pacientes que chegavam ao Pronto Socorro do Hospital, bem como aqueles internados na instituição. Assim, houveram famílias que face a seu desligamento da escala do Pronto Socorro, contrataram a referida médica para acompanhar os pacientes, solicitando assim, que fosse administrado o tratamento experimental. Como se tratava de terapia experimental, houveram médicos que se negaram a prescrever o tratamento aos pacientes sob seus cuidados, razão pela qual, as famílias buscaram o poder judiciário para permitir que fosse feito o tratamento com a inalação da solução de HCQ”.
Neste contexto, houve deferimento de liminar para que fosse administrado o tratamento, desde que a médica assumisse a integralidade da assistência de seus pacientes. “Por essa razão, o hospital firmou com outras famílias que tinham o mesmo interesse em aplicar o tratamento em seus familiares, termo de acordo no qual a médica e os familiares se responsabilizavam pelas consequências do tratamento, e tinham ciência de que não havia nenhuma comprovação cientifica quanto ao mesmo. Assim, além de dois pacientes que já haviam recebido o tratamento, duas outras famílias entregaram aos cuidados da Dra. Eliane Scherer seus familiares” justifica o hospital.
O HNSA ressalta que “continuará envidando todos os seus esforços para atender os seus pacientes, respeitando os protocolos aprovados pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais”.
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O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) iniciou, na terça-feira (23), uma investigação para apurar a conduta da médica. Ela também foi denunciada ao Conselho Regional de Medicina, que deve instaurar uma sindicância. Os processos que correm no Cremers são sigilosos.
Estudos científicos promovidos desde o início da pandemia de Covid-19 não comprovaram a eficácia da hidroxicloroquina no chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19.
Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o medicamento não seja usado como forma de prevenir a doença.
Nesta semana, a Associação Médica Brasileira (AMB) também defendeu a suspensão do uso da hidroxicloroquina. “Medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, sustenta o boletim da AMB.
Foto: HNSA/Divulgação