| Alice Ros |

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) solicitou, em nota publicada na terça-feira (16), a troca do comando do Ministério da Saúde, dirigido por Eduardo Pazuello. O documento manifesta “indignação com a condução da crise sanitária pelo Ministério da Saúde” e acusa a pasta de “total inexistência de diálogo” com os municípios.

Segundo o presidente da CNM, Glademir Aroldi, a confederação está preocupada com a falta de vacinas contra Covid-19 nas prefeituras para dar continuidade ao plano de imunização.

“A entidade está preocupada com a gestão local. As pessoas estão procurando a unidade básica de saúde e há risco de interromper a vacinação. Preocupa, também, a dificuldade na negociação com as instituições internacionais. Parece que a gente perdeu um pouco a credibilidade nesse sentido. É um cenário que todo o Brasil está vivendo, algumas regiões em situação gravíssima”, explicou Aroldi, em entrevista ao Portal RDC (18). 

“Até o início da próxima semana, nós imaginamos que 70% dos municípios do país vão ter que suspender a vacinação por falta de vacinas. É preocupante”, disse.

O presidente da CNM ressaltou que a eficácia da vacinação é um consenso entre a comunidade científica nacional e internacional. A imunização, conforme Aroldi, será decisiva para retomar a economia e as atividades essenciais.

“Colocar vacinas à disposição é o único caminho para a gente fazer o enfrentamento da crise sanitária, da crise social, econômica e da retomada das atividades escolares em 2021. Não é a CNM que acredita, é a comunidade científica do Brasil e do mundo. Nós não temos outra alternativa. Sem a vacina, a vacinação em massa, nós não vamos ter a retomada das atividades econômicas, a recuperação dos empregos perdidos. Vamos ter que continuar auxiliando emergencialmente as famílias em situação de vulnerabilidade. Tudo está ligado à vacinação”, disse Aroldi.

“Não é uma situação política partidária”, ressalta a CNM

Em relação ao pedido de troca do ministro da Saúde, a CNM argumenta que não é uma situação partidária, e sim de saúde pública.

“Neste momento, temos que estar unidos. O governo federal tem que botar toda a musculatura na aquisição das vacinas. Isso tem nos preocupado. O Ministério da Saúde tem reagido somente quando acontece uma ação política ou social. Não está havendo ação adequada para um momento grave como este que estamos vivendo. Não se tem nada contra o ministro Pazuello. Não é uma situação política partidária. O que nós queremos é colocar vacinas o mais rápido possível à disposição da população brasileira. Estamos vendo mais de mil vidas perdidas diariamente”, defendeu Aroldi.

A CNM realiza reuniões quinzenais com equipes do governo federal e do Ministério da Economia para alinhar questões relacionadas à pandemia. Na opinião de Aroldi, o Ministério da Saúde precisa dialogar mais com a confederação para que as ocorrências feitas pelos municípios sejam atendidas.

“A cada 15 dias a gente se reúne com a equipe de secretaria do governo e com a equipe do Ministério da Economia. Isso aconteceu hoje (18) pela manhã, às 10h30. O diálogo, de forma geral, é positivo. Agora, com o Ministério da Saúde, temos uma dificuldade imensa. Temos a convicção de que podemos contribuir muito nesse processo, porque a gente tem informação da dificuldade que todo o município do Brasil está encontrando em cada etapa. Isso serviria de base para ações do Ministério da Saúde, mas o diálogo com o Ministério não está acontecendo. Nem através de agendas e nem por pedidos de informações”, ressaltou.

“A gente quer o espaço para contribuir não apenas com o Ministério da Saúde, mas com a sociedade brasileira, a economia, a área social, sanitária e a retomada das atividades escolares presenciais”, indicou Aroldi. 

Além de repassar informações sobre a vacinação, a confederação também espera alertar a pasta sobre o avanço do vírus, principalmente com dados sobre a disseminação da variante P1, registrada originalmente em Manaus.

“Esta nova variante, a cepa que surgiu no Brasil, é, infelizmente, mais grave do que nós estamos imaginando”, alertou.

A aquisição de vacinas é dever do governo federal

Antes do Ministério da Saúde iniciar a distribuição nacional de vacinas contra Covid-19, prefeitos e governadores chegaram a prometer a compra do imunizante.

De acordo com a CNM, a aquisição é obrigação da União.

“Não é obrigação da CNM, nem dos governadores. A aquisição é obrigação do governo federal. O Sistema Único de Saúde estabelece isso. A União precisa adquirir, através da Saúde, vacinas suficientes para atender a população brasileira. Cabe aos municípios a logística e a vacinação da população. Os municípios estão preparados para vacinar a população”, ressaltou Aroldi.

Na quarta-feira (17), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apresentou um cronograma em que prevê a distribuição de 230,7 milhões de doses de vacinas até julho. O anúncio foi feito em reunião virtual com governadores.

As negociações incluem os laboratórios União Química/Gamaleya e Precisa/Bharat Biotech, envolvidos na distribuição da vacina russa Sputnik V ao Brasil, e da indiana Covaxin, respectivamente. Os dois imunizantes ainda não têm pedido de uso emergencial aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A CNM acredita que as negociações entre governo federal e institutos para a compra e a fabricação de vacinas demoraram muito para acontecer, fato que ainda reflete no lento processo de vacinação.

“O governo federal, lamentavelmente, desde abril do ano passado, não compreendeu que a vacina seria o caminho para amenizar e resolver essa pandemia. Portanto, ele não se programou”, explicou. Caso o cronograma de vacinação estivesse fechado mais cedo, o presidente da CNM estima que cerca de mil brasileiros seriam vacinados por dia.

“O Brasil tem o melhor programa de imunização do mundo, porque há um trabalho sendo feito ao longo dos anos em parceria com União, estados e municípios, e isso precisa continuar acontecendo. Na questão da logística, o Exército colaborando, especialmente na região Norte do Brasil, é extremamente importante. O que falta é a questão da vacina. O Brasil sabe o restante do processo e tem todas as condições de executá-lo sem problema nenhum”, disse. 

“Tendo vacinas suficientes, eu não tenho dúvida nenhuma de que temos capacidade de imunizar mais de um milhão de brasileiros por dia. Hoje, no melhor dos momentos, a gente está imunizando 200, 250 mil pessoas”, destacou Aroldi.

Ao elogiar o apoio do Exército Brasileiro nas ações de transporte e aplicação das vacinas, Aroldi também destacou o papel do governo federal no auxílio financeiro fornecido aos municípios durante o ano passado.

“O governo federal, com o apoio do Congresso Nacional, ajudou muito os municípios. Entre auxílios financeiros e recomposição de perda de arrecadação, nós conseguimos chegar a um valor no ano passado de RS 76 bilhões. Não é pouca coisa, é muita coisa. Se não fosse isso, e o Congresso Nacional nos ajudou muito, eu acredito que muitas prefeituras teriam fechado as portas no ano de 2020. Não teriam tido a condição mínima de continuar prestando serviços”, frisou.

No entanto, a prioridade do momento deve ser direcionada para a compra e a distribuição de imunizantes, alerta a CNM.

“Neste momento, precisaríamos de outro alinhamento, outras ações e medidas para enfrentar efetivamente a crise sanitária, que é a aquisição das vacinas. Ontem (17) à tarde, com os governadores, o ministro da saúde já deu uma sinalização para que possa efetivamente acontecer”.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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