| Alice Ros |
O governo do Rio Grande do Sul promoveu, em formato virtual, a primeira edição do Papo Científico, iniciativa conduzida por especialistas para explicar os caminhos percorridos pela Covid-19 em território gaúcho.
O evento ocorreu na manhã desta terça-feira (16) e contou com a participação da diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Goulart Molina-Bastos; do farmacêutico da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (SES) Eduardo Viegas da Silva; e do especialista em Saúde do Laboratório Central do Estado (Lacen-RS) Richard Steiner Salvato.
De acordo com o Cevs, 20 linhagens de Covid-19 diferentes foram encontradas em circulação. Entre as variantes estudadas, as mais frequentes no Estado foram B.1.1.28, P2, B.1.1.33, P1 e B.1.1.61.
O primeiro Boletim Genômico do coronavírus no Rio Grande do Sul, produzido pelo Cevs, foi divulgado no dia 01 de fevereiro Hoje, o estudo já está na quarta edição e é publicado a cada duas semanas no site do governo estadual. O documento consiste na análise de pacientes hospitalizados, determinando quais as linhagens mais frequentes distribuídas.
Na quarta análise, foram coletadas 478 amostras entre 23 de fevereiro e 09 de março, em 117 municípios, Foram incluídos pacientes internados ou não, além de considerar os atuais indicadores epidemiológicos.
De acordo com os pesquisadores, as variantes P1 e P2, mais frequentes no 4ª Boletim Genômico, são as que mais preocupam no momento.
“As variantes vão dominando porque são mais rápidas. Se circulam mais rápido, também começam a gerar novas mutações mais rapidamente. O que nos preocupa atualmente é a P1, mas, categoricamente, neste momento do RS, a predominância nestes vírus que estão aqui não tem nenhuma relação com os pacientes que vieram do Norte do país para ser atendidos solidariamente no RS”, afirmou Cynthia.
A P1 tem ligação com o crescimento expansivo de casos de Covid-19 em Manaus, no Amazonas. Essa variante possui alta capacidade de transmissibilidade. No Rio Grande do Sul, o primeiro registro da P1 foi detectado em Gramado, na Serra, em 14 de janeiro de 2021. Já a variante P2, identificada originalmente no Rio de Janeiro, carrega a mutação E484K no ponto de ligação do receptor da proteína Spike. A cepa se tornou uma das mais frequentes no Estado a partir de novembro do ano passado.
Perfil dos infectados
Em relação ao perfil de infectados, os especialistas garantem que há um número maior de jovens infectados. Isso pode acontecer por conta do crescimento da população contaminada, além da circulação de novas cepas.
“A Covid ainda é uma doença que afeta os mais velhos, e a idade ainda é um fator de risco bem maior. Acontece que, em um momento de incidência do vírus a nível populacional tremendamente alta, a quantidade de pessoas jovens que adoecem e morrem também é alta. A circulação maior do vírus é a grande habilidade que essa nova variante (P1) tem em relação às anteriores, por isso ela predomina”, disse o farmacêutico do Cevs Eduardo da Silva.
O relaxamento das medidas de distanciamento controlado também foi apontado como um agravante da pandemia.
“Se temos tanta gente jovem no hospital, temos muito mais gente jovem fora do hospital transmitindo, em isolamento em casa ou na rua sem saber. Esse é um pouco o exercício que fazemos e que começa a dar medo, porque essas pessoas estão se encontrando, tendo contatos. Portanto, o que não queremos é circulação de pessoas, porque não tem mais como saber quem é esse número gigante que ainda pode estar transmitindo e sem quase nada de sintomas. E não temos leitos para todos se forem infectados todos ao mesmo tempo, porque inevitavelmente uma parcela vai ter quadro grave e até vir a óbito”, ressaltou Cynthia.
Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini