Na votação da MP da Reforma Administrativa na Câmara dos Deputados, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras acabou sendo mantido no Ministério da Economia. A ideia original do governo é que o órgão ficasse submetido ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Nas redes sociais, os simpatizantes de Jair Bolsonaro fizeram uma cruzada em favor da modificação, dando a impressão que o órgão só cumpriria suas atribuições se estivesse sob às ordens de Sérgio Moro.
Diante disto, uma questão se impõe: Quando foi que o COAF deixou de executar seu trabalho? Nos últimos vinte anos, ele produziu 39 mil relatórios que serviram de base para investigações executadas pela Polícia Federal. Vários processos se originaram usando como provas os documentos produzidos ali. Em 2015, foi o Coaf que identificou movimentações financeiras atípicas na empresa de palestras de Lula. Em 2017 também foi o Coaf que descobriu as remessas bilionárias da J&F para políticos como o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Mais recentemente, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, também apareceu nas movimentações financeiras analisadas pelo órgão.
Ao contrário do que dizem os procuradores da Lava Jato, que continuam a fazer terrorismo sobre o futuro da operação, não há nenhum prejuízo em manter o Coaf onde está. Até porque foi no Ministério da Fazenda que ele ajudou a desvendar inúmeros casos de corrupção, incluindo o Mensalão e o Petrolão.
O que garante a independência e o rigor técnico do Coaf não é a pasta a qual ele está submetido e sim a composição de seu conselho, formado por integrantes de outros organismos. De modo que a mudança, vendida como revolucionária, não teria grandes efeitos.
A derrota de Moro e do governo na matéria se deveu a um único fato: sua condução política desastrada. O bolsonarismo tratou aqueles que se colocaram contra a proposta como suspeitos ou mal-intencionados. Os que ousaram levantar alguma objeção viraram acobertadores da corrupção. Ao invés de buscar o convencimento dos parlamentares, o governo apostou na retórica bruta eivada de fetichismo policialesco. A resposta veio no plenário.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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